Até quando?*
Até o Juízo Final?**
 
Dois mil anos... por uma expectativa de vida média (72 anos - sendo generoso - [na Rússia, por exemplo, é de 59 anos]) numa conta aproximada, daria para se viver cerca de 28 vidas inteiras em sequência... Em dois mil anos impérios nascem, crescem e morrem, como tudo, aliás.
Em dois mil anos culturas oprimiram outras, dizimaram muitas e desapareceram. Nesses dois mil últimos anos, dividiram a história da humanidade em função de uma pessoa (a.C. / d.C.) e a pergunta maior, que sobressalta, é: em que mudamos nós como humanidade?
Em nome dessa pessoa (e de seu Pai) massacramos, espoliamos, subvertemos e corrompemos o que há de mais sagrado: a dignidade do ser. Elejemos déspotas, aplaudimos tiranos e nos satisfazemos ainda com os leões na Arena, devorando o que há de mais importante nessa estadia efêmera aqui na terra: o tempo de vida, que é vida. De fato, contamos a vida em tempo, significando que tempo é vida e nos deixamos envolver por um discurso perverso que valoriza a vida em termos de acumulação de riquezas terrenas. Entregamos o Prêmio maior da civilização atual de representação da Paz a quem defende a Guerra.
Quantos enganos em dois mil anos e quanta hipocrisia... Há mais de meio século, após termos apoiado líderes sanguinários e nos envolvermos em mais um fraticídio, assinamos nossos Direitos Fundamentais para burlá-los cotidianamente, conforme nossa conveniência de poder. Não houve um minuto sequer que tenhamos respeitado nossas letras, nossas assinaturas, nossos nomes. Há dois mil anos aquela pessoa nos proporcionou a possibilidade de sermos melhores e alguns se persignaram diante do Caminho, da Verdade e da Vida. A seguir, reproduzimos os ensinamentos daquele judeu da Galiléia muito mais em palavras do que em atos, muito mais em discursos do que em pensamentos guias de vida, muito mais distorcendo do que procurando entender. E seguimos na prática discriminatória de proteger os "nossos" e relegar os "outros".
Qualquer ser vivo nesse planeta sente que há algo de muito grave ocorrendo, mas nos reunimos em uma cidade qualquer para fazermos de conta que nos importamos com isso, afinal é época de Natal, de Papai Noel e, como se imagina, haverá uma Páscoa, com o Coelhinho, símbolos manipuláveis de marketing. Muitos de nós comeremos nossas comidas faustuosas, realizaremos as simpatias de bons augúrios, enquanto a grande maioria, em sua imensa ignorância dirigida, seguirá montando presépios de esperanças. Ao mesmo tempo, "parentes", "amigos" e "vizinhos" se digladiarão através da inveja, da ganância e da mentira, gerando violência, fome, sede, poluição, morte...E aquela pessoa, do oriente médio, que deveria ser personagem principal, protagonista da "civilização ocidental"? Fica, talvez, para os próximos dois mil anos, quem sabe?...
 
*Até quando, enfim, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda esse teu rancor nos enganará? Até que ponto a (tua) audácia desenfreada se gabará (de nós)? (Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra? Quamdiu etiam furor iste tuus nos eludet? Quem ad finem sese effrenata iactabit audacia?).
Marcus Tullius Cicero in "Catilinarias"
 
**Quando chegar o Filho do Homem com majestade, acompanhado de todos os seus anjos, sentará em seu trono de glória e comparecerão diante dele todas as nações. Ele separará uns de outros, como um pastor separa as ovelhas das cabras. Colocará as ovelhas à sua direita e as cabras à sua esquerda. Então o rei dirá aos da direita: Vinde, benditos de meu Pai, para herdar o reino preparado para vós desde a criação do mundo. Porque tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, era estrangeiro e me acolhestes, estava nu e me vestistes, estava enfermo e me visitastes, estava encarcerado e fostes ver-me.
Os justos lhe responderão: Senhor, quando te vimos faminto e te alimentamos, sedento e te demos de beber, migrante e te acolhemos, nu e te vestimos; quando te vimos encarcerado e fomos visitar-te? O rei lhes responderá: Eu vos asseguro: o que fizestes a estes meus irmãos menores, a mim o fizestes.
Mateus 25, 31-40