Natal Feliz

Aprendi desde criança que o Natal sempre deveria ser uma data para comemorarmos o nascimento de Jesus Cristo com alegria. De quebra, vinham os presentes que, apesar de modestos, sempre traziam um significado especial, principalmente a preocupação de meus pais em dar a mim e meus irmãos algo que nos proporcionasse além da alegria, conhecimento e aprendizado.

Hoje lembro com satisfação nunca ter ganhado uma arma de brinquedo como presente, embora na época não entendesse e ficasse contrariado. O tempo se encarregou de me fazer entender porque meus pais não me presenteavam com armas de plástico ou algo parecido. Num desses natais sugeri então que me presenteassem com um passarinho. Recebi como resposta outro não. Não entendi, afinal não estava pedindo uma arma de brinquedo e sim apenas um passarinho. Só fui entender o ‘não’ como resposta quando constatei que para ter um passarinho teria que mantê-lo preso numa gaiola, outra prática que meus pais condenavam. Quando vejo passarinhos presos em gaiolas sinto uma tristeza muito grande e uma vontade louca de libertá-los.

O Natal para mim foi sempre um aprendizado. De todos de minha infância, e depois de adulto, sempre tive a felicidade de comemorar, nunca de me queixar. Tive natais fartos, outros nem tanto e alguns em situação difícil, mas não menos felizes. Na verdade, minha vida foi rica em saúde e trabalho. Por isso, tenho a certeza que os bens materiais são apenas o complemento e não o objetivo principal.

O maior presente que recebi foi minha família. Meus pais, meus irmãos e posteriormente filhos e agora meus netos. Quando chega o Natal lembro com carinho e saudade os momentos de ternura de minha mãe com os filhos, meu pai organizando o “Natal da Criança Pobre” lá pelas bandas de Vacaria, no RS, onde nasci e vivi até os 16 anos.

Com o número aproximado de crianças lá saía meu pai no comércio buscando doações. No dia, reunia até 300 crianças na sociedade espírita da qual era presidente, para oferecer-lhes além do presente, uma mesada de bolo, doce e refrigerante. Era uma festa simplesmente extraordinária ver aquelas crianças sorrindo felizes, lambuzadas de doce e guaraná, com seus brinquedos embaixo do braço carregadas por suas mães, que também participavam da mesada. O que sobrava, felizmente sempre sobrava, era doado a um asilo de idosos.

O tempo passa e a gente vai vivendo uma outra realidade. Nesses últimos dias, por exemplo, vi uma infinidade de pessoas trabalhando mais, vi mais papelão sendo recolhido e aumentando a renda dos papeleiros. Se as chances de felicidade aumentarem para as pessoas, mesmo em função da comercialização da data, que seja sempre assim. Entretanto, o significado do Natal não deve e não pode ser esquecido. Penso ser mais justo pessoas felizes e realizadas buscando encontrarem-se com os reais valores espirituais e religiosos saciadas do que com fome ou doentes.

Que seja o Natal da alegria, da felicidade e acima de tudo do aprendizado.

Herivelto (Veto) Cunha
Enviado por Herivelto (Veto) Cunha em 27/12/2008
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