Chaminé

Olhou pelo buraco escuro e fez uma careta. Aquela era a pior parte do seu trabalho. Os dedos estavam calejados de tanto cortar e dobrar; as pernas doloridas de tanto pular e escorregar; e as costas, que tiveram um ano difícil, estavam doloridas, havia passado a noite perambulando, sem bengala, de um lado para outro e, embora não fizesse frio algum, tinha que usar aquele uniforme desconfortável. E o que era pior, estava irritado e sempre ficava assim, era naquela noite que toda sua rabugice vinha à flor da pele. No entanto, era só diante daqueles malditos buracos que ela subia à cabeça, diante de cada um fazia a mesma cerimônia: ajeitava os óculos atrás das orelhas e segurava o nariz, como se fosse dar um mergulho. Feito o ritual, saltava. Quando botava os olhos nas árvores e, principalmente, nos sapatinhos que o esperavam, não havia mais nenhum um sinal de irritação ou impaciência, elas simplesmente desapareciam, como se nunca tivessem existido. Enfiava a mão dentro do rechonchudo saco de presentes e calmamente colocava um em cada sapatinho, imaginando os olhos brilhantes e os sorrisos que aqueles presentes arrancariam. Apesar do sofrimento prévio, tinha certeza que não havia nada no mundo que poderia satisfazê-lo mais e reconhecia que nada que pudesse fazer traria tanta felicidade. Nada como um natal feliz.

Fillipe Evangelista
Enviado por Fillipe Evangelista em 24/12/2008
Reeditado em 24/12/2008
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