O NATAL EXISTE?
É preciso entender o que é natal, pois na maioria das vezes, esta data especial, por mais propaganda que se faça sobre ela, passa desapercebido, em um piscar de olhos, ou direi de luzes.
O Natal transformou-se em uma festa exclusivamente comercial e, atualmente, esta longe de transmitir uma idéia de fraternidade e amor.
Mas puxemos pela lembrança. Voemos até nossas memórias mais infantis e gentis. No canto remoto de nossas meninices. Será que não foi sempre assim? Onde nasceu esta necessidade tão grande de receber e dar presentes.
Não falo aqui de circunstâncias históricas, ou como o Natal foi concebido em nossa cultura ocidental. Há diversas teorias a respeito, mas nenhuma responde a esta angustia vibrante.
Lá em nosso canto secreto poderemos ter uma pista. Lembra? A árvore de Natal sendo decorada. Os dias que antecedem nos deixando nervosos. O cheiro de rabanada pelo ar. O sorriso maternal que se instala em cada rosto feminino: nossas mães, irmãs, avós e esposas.
A gargalhada do avô, ou o olhar quente e manso do pai.
Remexendo nesta poeira juvenil, é como sentir o tempo retornar a um recanto escondido de nossos corações.
Não foi sempre assim não! Os brinquedos eram mágicos e contraditoriamente simples. O tempo andava em marcha lenta. Mas o ar, ah! Este crispava como uma centelha elétrica, comichando nosso corpo e alma inteiros. Buscávamos sonhos e eles estavam ali, como numa feira de frutas e legumes. Mas era só esticar a mão para pegá-los que “zupt”! Escorregavam entre os dedos, como água de cachoeira encantada.
Havia um prazer em receber o embrulho surpreendente, não pelo presente em si, mas por ser lembrado e amado com um carinho especial nestas noites cálidas.
Assim também eram aqueles que presenteavam. Ao olhar o rosto infante brilhar ao rasgar o papel, como se fosse uma super nova, explodindo e criando um novo universo, de felicidade espontânea e estonteante. Não era o prazer de dar o presente, mas a satisfação de ver aquela pessoa se permitir ser amada incondicionalmente naquele instante.
E a comilança então. Pratos e mais pratos. Brotando e uma mesa finamente decorada, como se fossem botões de rosas em um jardim comestível. Sentia-se ali, em cada prato, cada receita, uma historia de gerações e gerações.”Recheie o peru assim, com ervas, azeitonas e coloque em uma travessa com uma farofa aromatizada com nozes turcas!” humm!
Não! Definitivamente o natal não era assim como é hoje.
Atualmente, buzinas irrompem de carros sedentos de pressa. Rostos contorcidos e irados, em busca do presente perfeito, sem perceber que este é apenas a conseqüência. A intenção é que importa.
Não há carinho ao escolher um presente. Há exigência. Não a simplicidade em ornar uma mesa, há urgência. Não há prazer em forjar um manjar de ingredientes humildes, há opulência em demonstrar que pode abarrotar a mesa com bombas calóricas e nefastas.
Mas, ao comparar os natais passados e presentes, uma questão surge e não quer calar.
Será que foi o natal que se modificou, ou nós é que mudamos. Nos corrompemos em busca de satisfação continua. Possuir cada vez mais. Possuir e ser possuído.
Diante disto tudo, uma pergunta que rodeia freqüente as cacholas infantis, como se fosse um dilema proferido por uma esfinge a beira de um abismo: “Papai Noel existe?” - Não esta correta e deveria ser reformulada. O certo seria nos perguntarmos:
O NATAL EXISTE?