De Presente, uma Xará.



Até aquele dia de dezembro de 2007, eu ouvira raros comentários de que houvesse alguém que se chamasse como eu, assim igualzinho: Mardilê.

Portanto, cresci e tornei-me adulta, considerando-me a única portadora deste estranho nome.

Por ele nutria um sentimento de posse: era meu nome, ninguém se chamava como eu e paradoxalmente um sentimento de solidão: não tinha xarás.

Naquele dia, entramos, uma amiga e eu, numa loja que fazia uma exposição de mesas decoradas para a ceia de Natal. Querendo mostrar-me a que ela havia preparado, minha amiga me chamou.

Uma das donas do estabelecimento virou-se para mim e comentou:

- Eu tenho uma irmã chamada Mardilê.

A surpresa foi grande.
- É? Consegui balbuciar. E como se escreve?
- M-a-r-d-i-l- ê com acento circunflexo, soletrou ela.

Recuperando-me do susto, e tomada pela curiosidade, consegui perguntar de onde a mãe dela tirara o nome. Ela virou-se para uma senhora que arrumava uns vasos e chamou-a.

Quando ela ficou na minha frente, contei-lhe que minha mãe copiara este nome da heroína de um romance traduzido do francês que ela lera quando estava grávida. Perguntei, então, para ela de onde ela tirara este nome.

Ela me respondeu:
- Eu o li em um convite de formatura do Colégio Santa Catarina, que minha cunhada Sara nos enviou. Achei-o lindo e resolvi que, se o filho que estava esperando, fosse menina, dar-lhe-ia este nome.

Levei um choque. Eu estudara neste colégio, lá me formara no antigo Ginásio e tivera uma colega chamada Sara.
- Sara era uma menina moreninha, magrinha...

Ela acenava que sim com a cabeça.
- Era eu, exclamei alegre!
E foi como se nós já nos conhecêssemos...

Havia uma Mardilê que possuía o meu nome por minha causa, sem que sua mãe me conhecesse e que até aquele momento eu ignorava completamente...

Depois de tantos anos, apoderaram-se de mim outros sentimentos: saudade, felicidade, partilha, orgulho...

E eu saí daquela loja com a felicidade de ter recebido um presente de Natal, e recebera, uma xará...