Presépio e Manjedoura
Jesus nasceu num presépio e foi colocado em uma manjedoura.
Interessante como as palavras podem nos furtar os sentimentos. Presépio e manjedoura são palavras tão bonitinhas, tão simpáticas que produzem um alivio diante da imagem grotesca do lugar onde nasceu Jesus.
Na verdade Jesus nasceu num curral e seu primeiro berço foi um cocho. Isso mesmo, um curral fétido, cheio de animais sujos. impróprio para um bebê, indigno para uma família. Deitaram-no num cocho, que até então servia apenas para pôr o alimento de vacas e cavalos. Certamente que José deu uma lavadela naquele pedaço de tronco escavado abarrotado de resíduos, mas que deve ter passado longe de um processo higiênico adequado para o recipiente se tornar o primeiro leito de um frágil recém-nascido. Inconveniente, incomodo.
Não consigo resistir à viagem. Vem comigo!
Imagino José tangendo os animais para evitar o contato com o bebê e com a mãe no primeiro dia do seu primeiro resguardo. Noite fria da Palestina. Pernilongos ziguezagueavam ameaçadores. Estercos empestavam o chão e o aroma local. Já durante o dia o frio era substituído por solão inclemente. Definitivamente isso não é um lugar de gente nascer, muito menos de um rei.
Como um dos magos faço uma visita ao local. Estou parado ali contemplando a criancinha. Eu, assim como aqueles três, também sei quem Ele é. Fui guiado pela estrela da história e das escrituras. Vejo a cena, caricata. Percebo o ambiente, rústico. Sinto o clima, burlesco. Mas eu sei quem Ele é. As imagens se contrastam e afrontam impetuosamente meus modelos mentais, porém procuro não perdê-Lo de vista. Eu sei quem é esse menino. Minhas pernas tremem. Parece impossível não ficar de joelhos diante dEle.
Tudo ali sugere impropriedade diante da sua majestade, inclusive eu, mas o disparate se dilui quando descubro que Ele escolheu assim para trazer dignidade ao que não é digno, para trazer predicados ao que não é próprio, para trazer conteúdo ao que é vazio, para trazer significado ao que sombrio. Ele é a beleza do lugar