Feliz Natal
Gosto de ouvir o rádio quando dirijo.
Neta época do ano há uns meninos radialistas a dizer toda sorte de bobagens que com muito bom humor nos fazem rir de nada e assim aliviam as tensões do trânsito e nos deixam até mais gentis com os que passam apressados pela luz amarela – que por prudência me para.
Há sempre muita pressa e ao mesmo tempo desejamos que tudo pare exatamente como está por que no ar sentimos uma boa vontade e um clima de festa envolvente e que contamina nosso coração e nossas atitudes. As músicas tocam sem parar este clima de fraternidade e quase nos deixamos convencer de que isto será possível também daqui há umas duas semanas quando as luzes se apagarão e as músicas, outras, voltarão a nos anestesiar para o que se passa lá fora.
O sinal está verde, e tenho de novo aquela sensação infantil de que gostaria que sempre fosse Natal. Sigo a dirigir minha vida e o tempo exige de mim alguma reflexão adequada,, pois para crentes e descrentes o Natal se apresenta todos os dias...
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Há sempre Natal nos olhos dos que enxergam a dor dos doentes e sem assistência, não há Natal para os que só justificam por que nada se fez...
Há Natal nas mãos dos que doam seu tempo, num mundo onde tempo é dinheiro, e pegam nas pás ou canetas, para construir casas para os sem moradia, vítimas dos tsunamis naturais ou sociais...
Há Natal nos lábios dos que diuturnamente emprestam sua voz para ler uma estória a um velhinho de asilo, ou a defender os interesses de sobrevivência de uma legião usurpada de uma chance real de futuro.
Não há Natal para os que só justificam por que nada se fez...
Há Natal nos braços dos que embalam seus filhos e seus não filhos, no carinho avassalador que o coração produz a cada adoção de um menor: carente ou roubado, de amor e de pão – dentro ou fora de nossas casas...
Não há Natal para os pedófilos!
Há sempre Natal nas mentes que oram e naquelas que estudam formas e meios de resolver as charadas da sobrevivência, digna e necessária, porque vivemos em bandos e assim nos reconhecemos em nossas mazelas e conquistas; ciência e fé se completam quando nos permitimos ousar para além dos limites humanamente compreensíveis...
Não há Natalpara os que odeiam e desejam a morte para os que matam....
Há Natal nos ouvidos atentos de quem atende o clamor assustado dos que se perderam no caminho e para quem só lhes resta chorar os lamentos silenciosos da solidão...
Não há Natal para os que sentem FOME...
e NADA justifica por que nada se fez...
Chego em casa. Corro para as letras e lembro dos amigos. Decido que este ano vou enviar votos para que FAÇAM e deixem fazer, diariamente um Feliz Natal!
Anadijk
Houten, 18/12/2008