PRESENÇA INUSITADA

Numa das semanas que antecede o Natal, fomos ao shopping para ver a decoração natalina. Depois de rápido passeio, decidimos sentar diante de um café e esperar a vinda dos mais jovens que nos levariam para casa. O nosso sossego foi bruscamente interrompido com a entrada de um grupo de homens, mulheres e crianças a empunhar bandeiras.

Tratava-se do MST – Movimento dos Sem Terra. De camisas e bonés vermelhos todos subiram a escada rolante atropelando quem estivesse no caminho. Atraídos pelo papai Noel contratado para abraçar, beijar e sentar crianças no colo na hora de tirar fotografias como esperam do bom velhinho, correram para o centro da praça.

Sentada no banco, observei o rosto de meu marido para conferir se estava compreendendo o que acontecia. Há tempos sofria do Mal de Alzheimer. Olhava como se nada visse e fiquei mais tranqüila. Habituada às contínuas notícias sobre o MST a bloquear estradas, promover desfiles nas avenidas em horários de maior movimento e invadir lavouras, considerei comigo mesma que o centro de compras não é exatamente o lugar apropriado para invasão de terras.

O que procuravam onde nada havia que atendesse aos seus ideais?

De maneira ordenada, eles se movimentavam enfileirados. À sua passagem, provocavam murmúrios variados de espanto e preocupação.

A tarde no shopping ganhou outro colorido com a presença da gente humilde. Lançavam olhares fortuitos aos freqüentadores habituais, admiravam a decoração. O contraste entre eles e a sociedade de consumo era gritante. As crianças cobiçavam enfeites de Natal como se fossem coisas de outro mundo.

Para eles tudo parecia novidade, diferente da vida nômade, moradias de lona, sem descanso e nenhuma perspectiva de mudanças imediatas.

Continuei a observá-los, procurava compreender os motivos que os tinha levado a “invadir” o shopping naquela tarde. Ao mesmo tempo, desejei voltar para casa o mais depressa possível.

MCC Pazzola