INFERNO DE PAPAGAIO

Por Deivinson Bignon

Vou contar-lhe uma história

Que se deu lá no sertão

Onde um papagaio mudo

Foi feito de refeição.

Ao entrar bem lá no bucho [1]

De Fabiano, e até Baleia,

Sem saber de nada mais

Quis falar com Satanás.

Chegando lá no inferno,

Papagaio de flozô [2],

Satanás foi já gritando:

- Fi duma égua [3], avacalhou [4]!

Chega já de leriado [5],

Vou te arrumá trabaio;

Vem aqui cabra safado [6]

Sua hora já chegou!

Sem poder falar ainda

Papagaio se enfezou [7],

Já que nem lá no inferno

A palavra ele usou.

Numa brenha [8] muito longe

Papagaio assim pensou:

Pois que num tinha cagado [9]

O Rabudo [10] o trancou.

No inferno muito quente,

Papagaio num é gente,

Mas se alembra da Sinhá;

Falta dos bruguelos [11] sente.

Naquela noite sozinho

Quis logo capar o gato [12].

Satanás soltou um berro

Num deixou fazer um trato.

- A mudança de verdade

Conheci pela metade,

Apesar de no inferno

Batalhar por um inverno.

O demônio catrevage [13],

Na eterna pastorage [14],

Não vale um cibazol [15]

Acabou cum meu merol [16].

Sem saber o que fazer

Papagaio, então, chorou.

Tava pedindo penico [17]

Da peleja [18] já cansou.

Só queria o rala bucho [19]

Que Fabiano lhe mostrou:

- Ah, que saudade danada!

O bichinho então gritou.

Quando ouviu aquele grito

O Safureta [20] s’espantou:

- Como pode um ariado [21]

Gritar com o seu senhor?

Numa hora muito injusta

Satanás fogo cuspiu

Não sobrou nenhum penacho

Papagaio então caiu.

E assim, muito humilhado,

Papagaio lamentou.

Não falou uma palavra,

O Chifrudo [22] não deixou

- Como ia sê diferente

Se falasse de repente;

Os cabra num me comia

Inda ia sê bóia-fria.

Eu termino esta história

Como puxo da memória

Num duvide meu amigo

Do que eu digo cum juízo

Pois mentira eu num contei

Pode crer como falei

Mas se acredita ou não

Vai ver com o Tinhosão [23].

Notas:

[1] Estômago dos mamíferos e dos peixes. O estômago do homem.

[2] Ficar de flozô, atoa, sem fazer nada.

[3] Filho de uma égua. Cabra (homem) que não presta.

[4] Avacalhação. Bagunça, pouca vergonha.

[5] Conversa fiada.

[6] Homem safado.

[7] Enfadar-se, impacientar-se, irritar-se; enfezar-se.

[8] Lugar distante.

[9] Sortudo. Não tinha tido sorte.

[10] Diabo.

[11] Crianças pequenas.

[12] Ir embora.

[13] Gente cafona (parece ser um galicismo).

[14] Pastorar. Vigiar, tomar conta.

[15] Coisa sem valor. "Não vale um cibazol".

[16] Bebida.

[17] Desistir.

[18] Pelejar. Tentar exaustivamente.

[19] Forró.

[20] Diabo.

[21] Desnorteado.

[22] Diabo.

[23] Diabo.

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Integrante do Comitê Estadual (RJ) de Referência e Apoio ao Ano da Bíblia no Brasil, Deivinson Gomes Bignon é mestre em Ciências da Religião com especialização em Bíblia e é formado em Letras (Português e Literaturas); exercendo as seguintes atividades: pastor auxiliar da Igreja Evangélica Congregacional de Vila Paraíso, professor, conferencista, escritor e cartunista. Autor dos livros “Voltando para a Bíblia” (2002) e “Recados do céu: a ética profética de Deus para as grandes questões da nossa época” (2007).

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