Testamento do Judas 2008
Este testamento foi lido em praça pública na cidade de Areias – SP, por ocasião do Sábado de Aleluia no dia 22/03/2008. Todos os nomes aqui citados são de moradores de Areias e a maioria deles estavam presentes no ato do juramento.
Autores: José Oscar Vialta Moraes e
Alício José Gomes dos Santos
Aqui estou pendurado
Areias, terra querida
Para ler meu testamento
E entregar a minha vida
Quem quiser ganhar um presente
Me espere na saída
Só que pra me alcançar
Tem que ser bom de corrida
Ao meu amigo Maurinho
Desta vez me abandonou
Para não ver a minha morte
Pra Argentina se mandou
Levou minhas trinta moedas
Para mim nada deixou
Levou junto o Japonês
Que da Patrícia roubou
Para o Gutierre da Tina
Que é namorado da Priscila
Depois de tomar umas bombas
Pensa que é o Maquila
Pra bater na sua cara
Os Cruzeirenses fazem fila
Deixo o seu tio Zé Milton
Que ta forte igual Gorila
Para os motoristas da ambulância
Zé Maero, Nenca, Dudu e Onofrinho
Não podia esquecer também
Do Júlio, Léo, Nenê e Gelinho
Deixo uma viagem para todos
Lá pras bandas de “Curralinho”
Pra Maria Defonso
Que é boa de forró
Dança a noite inteira
Nem parece que é avó
Eu lhe deixo um disquinho
Do Chitãozinho e Xororó
Para o prefeito da cidade
Que ta com cabelo pintado
Mudaram as penas do “Pato”
Pra amarelo manchado
Não saia na chuva, prefeito
Pra não ficar desbotado
Cor de pato quando foge
Igual ao Valter Mercado
Mudou de setor meu amigo
Que é chamado de Dinho
Só coça na prefeitura
Ronca e bebe cafezinho
Pra desfilar por Areias
Lhe deixo o meu shortinho
E a tintura acaju
Pra pintar seu bigodinho
Para o Maurinho Candinho
“Caboquinho” muito engraçado
Bate direito o cartão
Lá no bar do Zé Pelado
No dia do pagamento
Só sai de lá carregado
Eu deixo um colchonete
Pra você ficar deitado
Pro meu amigo neto
Marido da “Marelena”
Deixo um vidro de viagra
E uma caixa de cibalena
O homem ta baleado
Vive de quarentena
Deixo um viaduto
E uma ponte de safena
Ao Tião Perereca
Meu amigo bailarino
Tem hora que fala grosso
Tem hora que fala fino
Sei que ele é fã
Do grande cantor Latino
Deixo uma coleção de discos
Que eu ganhei do Josino
Para o César Candinho
Que agora é encarregado
O rapaz é espertinho
Mas tem cara de coitado
Deixo minha espingarda
Para você caçar viado
Para o Tuim da Leila
Rapazinho feio ta ali
Parece que ta no avesso
É a cara do saci
Te deixo uma plástica paga
Lá no Ivo Pitanguy
Pro meu novo amigo Gugu
Torcedor do “Parmeira”
Se o time dele perde
Chora a semana inteira
Só porque ganho do São Paulo
Agora ta de bobeira
Deixo o meu amuleto
E o pôster do Madureira
Para o Edinho da Ritinha
Que é um homem muquirana
Para economizar energia
Toma um banho por semana
Deixo o meu perfume francês
Com cheirinho de banana
Recém-chegado na cidade
Chamado de Nézio “O Banqueiro”
Virou meu “grande amigo”
Porque me emprestou dinheiro
Coitado não conhece minha fama
De ser grande caloteiro
Vai ficar com a minha dívida
Pra pagar o ano inteiro
Para o Neca Baiano
Carcereiro aposentado
Tá com o cabelinho branco
Parece pombinho pelado
Leva o pé de embaúva
Depois que eu for enforcado
Ao gordinho Manezão
O Sherek da titia
Só trabalhou por 3 dias
E já pediu aposentadoria
Ô Razaizinho barrigudo
Parece que engoliu melancia
Te deixo a minha sogra
Que a perva é meio vadia
Ao meu companheiro de pintura
O Lico do Garrucha
Deixo a minha cachorrinha
Que tem o nome de Katucha
Deito a minha fita preferida
Da minha rainha Xuxa
Para o Luiz Madeira
Que é um amigão
Tomei conta de sua horta
Já pisei no seu feijão
Pra carregar os seus tomates
Deixo o meu carrinho de mão
Para o Luizão do bar
Deixo o meu motorista
É surdo e meio cego
Só enxerga de uma vista
Dirige só na reta
Mas vive saindo da pista
Para o meu amigo Pérsio
Nosso garboso padeiro
Vive reclamando da vida
Guarda grana o ano inteiro
Vou dar o meu sapato
Que roubei lá em Cruzeiro
Para o Ângelo Mansur
Esse é meu chegado
Ele é um bom pintor
Só que meio enrolado
Leva mais de 10 anos
Só Pra pintar um sobrado
Deixo minha senha do banco
Pra fila do aposentado
Para o alegre Zé Aroldo
Eu deixo o meu chapéu
Sei que você é chegado
É na dancinha do “Creu”
Para aprender mais um pouco
É só freqüentar um bordel
Para a Fatinha Vialta
Que é irmã do Ninho
A solidão tá pesando
Tá carente de carinho
Pra lhe fazer companhia
Deixo o Caé e o Vardinho
Lembrei da Valéria da Beza
E quase que fiquei aflito
Queria deixar um presente
Que ficasse bem bonito
Lhe deixo então um vestido
Que foi da Olívia Palito
Esse ano o Corinthians
Vai pular igual cabrito
O seu destino final
É jogar a “Copa Zito”
Pra reforçar seu elenco
Contrato o Luis Pirulito
Para o Rodrigo Coxinha
Rapaz alegre e festeiro
Dizem que é meio porco
Sempre foge do chuveiro
Eu deixo um caco de telha
Pra raspar seu corpo inteiro
Pro Core, gordo pinguço
Que hoje é pai de família
Tá careca e barrigudo
E cuidando de uma filha
Seu peso destrói o seu carro
Deixo um amortecedor de brasília
João Tomáz sempre foi quieto
Não perturba e não amola
Pra não derrubar mais árvores
Deixo pago auto-escola
E por favor me prometa
Beba só coca-cola
Milsinho meu camarada
Meu amigo professor
A molecada tá braba
Dos atrasos do instrutor
Pra você chegar no horário
Deixo um despertador
Jéferson, amigo antigo
Gosta de tudo perfeito
E hoje está trabalhando
De assessor do prefeito
Eu lhe deixo minha calça
Que chega no centro do peito
Ao Nelson Correia amigo
Que trato com muito carinho
Tem uma baita cabeça
Não combina com o corpinho
Deixo uma dúzia de jaca
“Ce” leva no bonezinho
Pro Marlon que é bem narigudo
Um excelente rapaz
Digo a todos com calma
Não repito nunca mais
Te deixo uma rolha bem forte
Que impede a saída do gás
Para o Getúlio Candinho
Não tem rolo nem problema
Depois daquela meiota
Só quer arrumar um esquema
Eu te deixo o endereço
De um travesti de Lorena
Para Zilda Boldrin
Namorada do Chicão
As bebedeiras do moço
Só lhe dão perturbação
Pra resolver o problema
Deixo um pau de macarrão
Alemão, bom motorista
De fusca, moto e caminhão
Mas seu caminhão é velho
As vezes o deixa na mão
Pra você chegar depressa
Deixo o burro do Chicão
Gustavo da Consuelo
Amigo da vida inteira
Homem sério, bom de papo
Difícil falar besteira
Te deixo, caro São Paulino
A camisa do “Parmeira”
Deixou o seu time de quatro
Começou a choradeira
Bozó meu caro colega
Nossa amizade não termina
Me lembro daquela festa
Que vomitamos na esquina
Te deixo quinze Envov
E um retrado da Justina
Darci queto, torcedor do Nense
É agitado, não sossega
Fala tanto e tão alto
Que a dentadura escorrega
Para evitar o vexame
Deixo um litro de Coréga
Ao mestre da bateria
Seu nome todo eu não sei
Sei apenas o primeiro
Pois é chamado de Nei
Deixo pago uma passagem
Pra ir na parada Gay
O Toninho jacaré
Parou de tomar conhaque
Agora só bebe cristal
Usa cartola e fraque
Deixo uma lata de graxa
Pra pintar seu cavanhaque
Meu amigo Marcelino
Dono de um barrigão
Quando foi para Ubatuba
A onda levou seu “carção”
Para fazer outro novo
Deixo lona de caminhão
Dona Regina do bar
Viajante de navio
É mulher muito brava
E tem curto pavio
Te deixo um pretendente
O bisavô do meu tio
Para o Joel, meu chegado
Santista de coração
Tá numa fase difícil
Vivendo na solidão
Eu deixo duas playboy
Com pôster do Marião
E pro Vanil meu amigo
É santista e não disfarça
Eu deixo duas camisas
E quatro pares de “carça”
Para usar na sexta-feira
Quando ele for pras Três Garça
Amigo Dindinho Costa
Não trabalha, ta de greve
Além de não trabalhar
Cem reais ele me deve
E lhe deixo um emprego
De anão da Branca de Neve
Seu João, Braz do Táxi e Onofrão
Êta trio parada dura
Deixo para cada um deles
Um par de dentadura
E pra facilitar a conversa
Um copo de pinga pura
Cansei de falar besteira
Já tô muito cansado
Vou parar de falar
Pra não ficar muito enjoado
Se esqueci de alguém
Falem com o Chico Furado
Vô ficando por aqui
Não adianta enrolar
Tem um povão esperando
Pra minha corda apertar
E trinta quilos de bomba
Pro meu traseiro estourar
Pra vocês de coração
Quero um presente deixar
Deixo o som do Cascavel
Do Ademir e do Dagmar
O som fica misturado
O Show não pode parar