O trucidamento de uma raça ( Para meu Parente e amigo, Poeta Carlos Aires)
O trucidamento de uma raça
I
No meu tempo de menino
No meu sertão brasileiro
Em toda sua extensão
Prosperava prazenteiro
Um jumentinho pé duro
Ele plantava o futuro
Trabalhando o tempo inteiro.
II
Era um fiel companheiro
Nas lidas do dia-a-dia
Pois todo o tipo de carga
Servilmente conduzia
Era forte e resistente,
Merecendo certamente
Milho e ração que comia.
III
A ambição desmedida
De indivíduos bestiais,
Viram um fonte de lucros
Naqueles pobres animais
E percorreram o sertão
Iniciando a extinção
Dos valoros animais.
IV
Por um pouco de dinheiro
Compravam a besta inocente
E os caminhões lotados
Levavam perversamente
A abatedouros clandestinos
Lhes dando triste destino
E lucrando ilicitamente
V
Durante anos a fio
Isto foi uma rotina
E aquele rebanho enorme
Enfrentou a triste sina
De se ver exterminado
Por um lucro amaldiçoado,
De uma forma tão ferina.
VI
Muita gente que vendia
Não sabia seu destino
Inventava mil estórias
O comprador assassino,
E o levava ao caminhão,
O jumento, nosso irmão,
Como que leva um menino.
VII
Cometeram anos a fio
A cruel barbaridade
Contra aquele que ajudou
Construir vila e cidade,
Riquezas locomovendo
E de modo tão horrendo
Matavam-os, sem piedade
VIII
Na roça ele transportava
O milho, o arroz, o feijão,
Verdura, adubo, madeira,
Na cidade, água e pão,
Todo o tipo de alimento,
Areia, barro, cimento,
E ferragens pra construção.
VIIII
Padre Vieira falou
Num livro que escreveu
Que era ele nosso irmão,
Isto também acho eu,
Luiz Gonzaga gravou
E todo o povo cantou
Este predicado seu.
IX
Andei pelo Ceará
E vi cheio de alegria
Que hoje nosso jumento
Recupera dia-a-dia,
Já existem nas cidades
Em vilas e localidades,
Onde quase não havia.
X
Depois que foi proibida
A pratica ignominiosa
De por um lucro profano
De forma tão criminosa
Levou quase a extinção
Por todo o nosso sertão
Criatura tão briosa.
XI
Hoje vejo satisfeito
Que aos poucos se recupera,
Esta raça tão pacifica,
Que com instinto de fera
Tentamos exterminar
Me envergonha confessar
Nós somos a besta-fera.