NO CEARÁ TAMBÉM HOUVE ONZE DE SETEMBRO.

Dia onze de setembro

Não é só pra americano

Naquele dia no Word Trade

Morreu gente boa e bacana

Aqui no nosso Ceará

pobres que viviam da cana.

Lá as pessoas foram mortas

Por consideradas “infiéis”.

No Ceará uns miseráveis

Desafiaram coronéis

foram mortos de maneira

e de forma bem cruéis.

Tudo isso que aconteceu

Foi no ano de trinta e sete

No Sítio Caldeirão onde

não conhecia camionete

Aviação foi lá matar

Quem não portava canivete.

O sítio fica no Crato,

Na região do Cariri.

Mataram os lavradores,

Colhedores de piqui.

Que criaram associação

Para da seca fugir.

Pois fora considerada

grande ilegalidade.

E os poderosos foram

Com toda ferocidade

Massacrar pobres coitados

E toda a comunidade.

Só porque eles romperam

Com os latifundiários,

E mesmo na sua pobreza

Tornaram-se solidários.

Por isso tiveram mortes

Impostas por adversários.

Um massacre de extermínio

Do exército brasileiro

Igual ao do Contestado,

também o de Conselheiro.

Agora era a vez do povo

das cercanias de Juazeiro.

O beato José Lourenço

Com a sua comunidade

fez açude, irrigação

E plantava por gravidade,

Peixes eram criados para

Sustentar a irmandade.

Aquele grande paraibano

Arrendou o Baixo Dantas

Pequena faixa de terra

Bem no meio de duas gargantas

Onde todo mundo tinha

Cafés, almoços e jantas.

A comunidade foi logo

Uma vítima dos boatos

E um chefe militar

Já partiu para os maus-tratos.

E matar um boi do sítio

Foi um dos primeiros atos.

Acusou a comunidade

De adorar o animal.

E com toda autoridade

No bicho enfiou o punhal.

Por considerar o boi

representante do mal.

Como o povo não se rendeu,

Aí o sítio foi vendido.

E o novo proprietário

Pões aquele bando fodido

Para fora de suas terras

E não ficou constrangido.

Que dali foi morar no

Caldeirão dos Jesuítas

Uma fazenda árida

Que nem cascavel habita.

Mas por ele transformada

Ficou próspera; bonita.

Tudo feito em mutirão

Num sistema coletivo,

Desde a criação de animal

E das plantas o cultivo.

Todos tinham seu quinhão

Como grande incentivo.

Lá não havia coronéis

Com seus bandos de jagunço

Para explorar o povo

E o açoitar com seu chuço.

Pro povo que trabalhava

o negócio ficou ruço.

Tudo isso logo despertou

grande ira dos poderosos

Que trucidaram o povo

Como bando de cães raivosos.

Essa é outra vergonha

De fatos bem tenebrosos,

Que nossa História esconde,

Com suas versões oficiais.

Notícias não divulgadas

Nem nos rádios, nem nos jornais.

Hoje com a televisão

As coisas continuam iguais.

Covardemente continua

Sendo o povo massacrado.

E o pouco que ele ganha

Também é sempre roubado.

Mas se roubar pra comer

É preso e torturado.

Essa é mais uma mancha

Que emporcalha a Nação.

Como foi o Valerioduto

E também o mensalão.

Muitos outros escândalos

Sem muita repercussão.

HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO

FORTALEZA/MARÇO/2008