Romance da triste morte do meu cão (REX)
A Morte do meu cão
1
Nosso cão era o REX, e o amávamos
Solto em nosso quintal fora criado,
Sempre tão dócil e tão bem humorado,
Diariamente com ele nós brincávamos.
2
Era peludo e de negros costados,
Mestiço de alsaciano e vira latas,
Cauda peluda e largas omoplatas
Enormes dentes brancos e afiados
3
Tinha o pescoço forte, e bem folgado
Era o couro do mesmo, e muito grosso,
Fortes mandíbulas que partiam um osso
Como se fosse um palito queimado
4
Cabeça enorme, orelhas caídas
Boca bem preta e o olhar brilhante
Patas enormes e o andar elegante
Fora o melhor presente em nossas vidas.
5
Nas suas pernas traseiras existiam
Unhas vestigiais que ali ficavam ,
Pouco acima das patas, e balançavam
Quando ele andava, e de nada serviam.
6
Ele era um poço de docilidade,
Mas só conosco;.. a noite o transformava
No guardião terrível que zelava
Seu território com ferocidade.
7
Lembro-me bem do dia que acordado,
Fui por uma tremenda agitação,
Ouvi todos falando que um ladrão
Havia a noite no quintal penetrado.
8
Levantei-me ainda atordoado
É corri para o quintal em um segundo,
Lá fora se encontrava todo mundo,
Ao redor do meu pai, e este agitado.
9
O REX corria para todo lado,
Alegre, me parecendo sorridente,
Saltava e se contorcia de contente
Parecendo saber-se elogiado.
10
Nosso quintal era todo cercado
Por alto muro, e o pulara o ladrão,
Sem saber que existia ali um cão,
Grande e feroz e viu-se encalacrado.
11
Havia sangue ali por todo lado,
Haviam manchas no muro e no chão.
E pedaços da roupa do ladrão
Que o bravo REX havia espedaçado.
12
No alto, o muro mostrava-se arranhado
Pelas unhas do REX , que saltara
Tentando segurar ainda o cara
Que escapava muito machucado.
13
No juazeiro do Norte, onde morávamos
Todo Domingo ao cinema nós íamos,
Na matinê a um filme assistíamos,
E a um seriado também acompanhávamos.
14
Acompanhamos muitos seriados,
Nyoka, Flash Gordom, supermam,
Hopalong Kassidy e Batmam,
Durango Kid e Zorro, mascarados.
15
Acompanhamos “A mulher Aranha”
Capitão Marvel, e o falcão do deserto
Vimos buck, o cão de “Mala”, muito esperto,
E “marte invade a terra”, (coisa estranha.)
16
Eu tinha então uns sete ou oito anos,
Quando findou-se a série do Supermam,
E em seguida foi a vez do Tarzam,
E fui acompanhá-la com meus manos.
17
Assim como sonhara que voava
Ao assistir capitão Marvel e Supermam,
Agora com a série de Tarzam,
Era sendo Tarzam que eu sonhava.
18
E era de Tarzam que nós brincávamos,
Tangas de estopa e facas imaginárias,
Envolvidos em lutas sanguinárias
Com feras que na mente nós criávamos.
19
Certa manhã, no quintal eu brincava,
De Tarzam, e comigo estava o cão,
De repente pensei que um bom leão,
Grande e peludo, o meu cachorro dava.
20
Aí no seu pescoço eu me atracava,
E tentava jogar ele no chão,
Mas era grande a força do meu cão,
E joga-lo por terra eu não lograva.
21
Ele não aceitava a brincadeira,
Sempre tentando escapulir de mim ,
Mas eu o perseguia mesmo assim,
E o trazia puxando na coleira.
22
Arranjei um pedaço de madeira,
Fingindo então que era meu punhal,
Para cutucar o meu pobre animal
Que era o meu leão de brincadeira.
23
Na amurada do alpendre então subindo
Joguei-me sobre o ele, que passava,
E com o peso que meu corpo deslocava,
Meu pobre animal findou caindo.
24
Abarcando fortemente o seu pescoço.
Com meu braço direito eu desferia
Golpes como qualquer Tarzam faria,
Nele montado, completando o esforço.
25
Acho que então, sentindo o embaraço,
Estrangulado e rolando no chão,
Reagindo por instinto, o pobre cão
Abocanhou com força no meu braço.
26
Foi justamente no braço criminoso,
Que tão covardemente o atacara,
Que seu grande canino ele cravara,
E poderia ser bem mais danoso.
27
Após isto com um simples movimento
Jogou-me a uma distancia respeitável,
E depois disto o pobre miserável
Ficou chorando de arrependimento.
28
No antebraço, do profundo ferimento,
O sangue em quantidade me saía,
Eu chorava de dor, e o cão gania,
Demonstrando seu grande sofrimento.
29
Minha Mãe veio louca lá de dentro,
E vendo meu estado, apavorada,
E mesmo sem daquilo saber nada
Fez sobre o pobre cão mau julgamento.
30
Foi então a partir deste momento,
Que o coitado tornou-se um condenado,
Vivendo dia e noite acorrentado,
E eu sofrendo com seu sofrimento.
31
O seu olhar tristonho ia profundo,
Na minha alma, e isto magoava,
Meu pobre cão parece que chorava,
Por me ver triste e tão meditabundo.
32
Por não saberem o que eu havia feito.
Julgavam que o cão louco se achava,
Eu entendia tudo, e até chorava
Mas como concertar o meu malfeito.
33
Ninguém chegava mais nem perto dele,
Comida só com vara lhe empurravam,
E lentamente os dias se passavam,
E só em sonhos eu ia junto a ele.
34
Eu não sei quanto tempo transcorreu,
Porém foi muito, muito para mim
Até chegar o triste dia em fim
Que o pior de tudo aconteceu.
35
naquele dia meu pai apareceu
Acompanhado de um desconhecido,
Este trazia um pau grosso e comprido,
Com um buraco onde uma corda meteu,
36
Na corda vi um laço, então me deu,
Um gelo no fundo do coração,
Pensei que viera enforcar meu cão,
Sendo que o crime era todo meu.
37
Não foi porém o que aconteceu,
Meu pai me disse que ele ia levá-lo
Para o seu sitio aonde iam criá-lo,
Talvez mentisse, mas me convenceu.
38
O pobre cão reagiu violentamente
No momento de ser dali levado,
Mas pelo laço foi subjugado,
Até que o arrastaram finalmente.
39
Mas rex era um cão inteligente,
E ao chegar a rua entendeu,
Que o laço do homem que o prendeu,
Não seria desfeito facilmente.
40
Olhou-me nos meus olhos docemente,
Como a dizer que ali me perdoava,
Ele sabia o quanto eu o amava,
E se foi puxando o homem, a sua frente.
41
Mais que meio século é passado,
Daquele triste dia que o levaram,
E as tristes mágoas que ali ficaram,
São para mim um fardo bem pesado,
43
Não sei se o mataram, é provável,
Se aconteceu fui eu quem o matou,
Foi meu silêncio que o condenou,
E isto me faz sentir um miserável.
(a cicatriz da marca do seu canino em meu ante-braço direito, não me permite esquce-lo jaais)