RARIDADES
RARIDADES.
Quem um dia quiser ver...
Carregar água em balaio,
Catar feijão no escuro,
Plantar verdura em chão duro,
Se formar prá ser lacaio,
Trocar um cavalo baio
Por um burro cego e manco,
Tentar assaltar um banco
Armado de baladeira,
Criar aranha armadeira
Qual bicho de estimação,
Querer pegar com a mão
A cobra surucucu,
Querer tomar banho nu
Em rio que tem piranha,
Comer um prato de banha
Sem depois Ter caganeira,
Trabalhar a vida inteira
De servente e enricar,
Fritar ovo sem quebrar,
Trabalhar só por prazer,
Garanto que prá se ver
Tem muito que procurar.
....Pode-se até encontrar
Peixe que anda na terra,
Caboclo de pé de serra
Formado em filosofia,
Pote com água tão fria
Que parece geladeira,
Mulher que já foi rameira
E hoje é dama casada
Mãe de família e honrada,
Sem se lembrar do que foi.
Jumento que enraba boi,
Porco que queima o anel,
Cacimbão sem carretel
Que água sobe em corrente,
Macumbeiro experiente
Que capa touro no rasto,
Cachorro que come pasto,
Cadela que adota gatos,
Galo que transa com patos,
Boi com três chifres e dois rabos,
E ver nascerem quiabos
Com dois metros cada um,
Tudo isto é bem comum,
E sei que há por ai,
Mas muita coisa eu não vi
E hei de ver dificilmente:
Uma cesta de água quente,
Sopa de gelo cozido,
Mulher emprestar marido
Para a vizinha trepar,
Nó da tripa desatar,
Calo seco em pé de serra,
Baleia viver na terra,
Sapo tomar banho de mar.
Girafa no chão deitar,
Morcego em galho pousado,
Passarinho depenado
Bater as asas e voar,
Político em outro votar
Disputando uma eleição,
Menino fazer lição
Sem a mãe mandar que faça,
Judeu no meio da praça
Distribuído dinheiro,
Se passar um ano inteiro
Sem Ter aborrecimentos,
Ir prá França de jumento,
Enxertar coco em banana,
Tomar um litro de cana
Sem ficar embriagado,
Encontrar um ex-veado,
Plantar batata na rocha,
Pintar o sete com brocha,
“Descorcundar” um camelo,
Enxugar barra de gelo,
Correr na frente do trem,
Abraçar porque quer bem
Um tamanduá bandeira,
Acender uma fogueira
Com pau verde em tempestade,
Um homem sentir saudade
De uma sogra rabugenta,
Se gabar que afugenta
Onça só com cara feia
Ter pena de pólvora alheia,
Ensinar chumbo a boiar,
Escolher para sentar
Um ninho de tocandeira.
Vender defunto na feira,
Ver preto se bronzear,
Padre não saber rezar,
Uma puta com cabaço,
Honesto cair no laço
De quem aplica trambique,
Nem cerca de pau a pique
Por onde o vento não passe,
Ou menino que enjeitasse
Dar recado por dinheiro,
Nem que exista macumbeiro
Que não queimou a ‘roseta’
Ou quem não socou punheta
No tempo da mocidade,
Ou quem more na cidade
Querer voltar para o eito.
Também não vi um prefeito
Que não roube nas finanças,
E nem vi um par de trança
Iguais as de Rapunzel,
Não vi picolé de fel,
Nem gelo de água salgada,
Nem vi de frutas salada
Ser adoçada com sal,
E nunca vi um natal
Ser completo sem peru,
Nunca vi um urubu
Que caçasse prá comer,
Nunca vi nem hei de ver
Puta dar por caridade,
Freira amigada com padre
Continuar na igreja,
Mal feito que ninguém veja,
Boato que não se espalhe,
Isqueiro que nunca falhe,
Cabeça de bacalhau.
Espeto feito de pau
Que não fique sapecado,
O amante do veado
Não ser veado também,
Furar o pneu do trem,
Mergulhar em terra dura,
Comedor de rapadura
Não Ter dente cariado,
Encontrar num feriado
Alguém em repartição,
Convencer a um capitão
Que ele é igual ao sargento,
Ensinar para um jumento
A fazer equação.
Tomar banho sem calção
Onde existir candirú,
Manter as pregas do C....
Puxando cana em prisão.
...Isto tudo é coisa rara
Quem viu escreva prá mim,
Que vou conhecer enfim
Um cabra que me venceu,
Pois mente mais do que eu,
...Merece é tapa na cara!