ASSASSINATO DA LÍNGUA PORTUGUESA.

ASSASSINATO DO PORTUGUÊS

Hoje em nosso país,

as palavras são abolidas,

por meia dúzia substituídas.

Isso porque uns imbecis,

Todos muito servis,

Um bando de analfabetos,

que se acham cobertos

sempre de muita razão.

Pra tudo têm uma opinião.

Aí o Brasil não dá certo

Pra você ser bem falante,

aprenda palavras chaves

para tudo elas encrave.

Está aí uma boa fonte,

agora você é um gigante.

Pode passar a dizer,

e em tudo se meter,

falando esses modismos,

chamados de neologismos,

mas vai se arrepender.

O charme na Economia

é se dizer patamar.

Juros é praticar,

pra não perder a mania,

muito menos a magia,

algo tem que falar.

Não importar o lugar

e pontos percentuais,

esqueça os manuais,

mas não de encontrar.

Enquanto não é tempo,

passou a ser condição.

Isso em toda ocasião,

não importa o momento,

quando falta argumento,

serve pra comparação.

O negócio é utilização,

mesmo que não caiba

não importa se não saiba,

usa-se mesmo sem razão.

A nível outra desgraça,

seu uso é obrigatório

em qualquer falatório.

Perdeu um pouco a força,

mas ainda há quem faça

seu uso indiscriminado.

Outro dia um delegado

mostrou toda sua ignorância

e com falta de elegância,

ouvi daquele brocado

Uma grande aberração,

falar numa entrevista,

com todo mundo à vista,

na frente da televisão,

dando uma de sabichão,

e que a nível de bala,

disse ele em sua fala,

ele não queria lutar

porque podia se enganar

e inocente ir pra vala.

Ninguém vê mais nada,

agora tudo se confere

se quer vê você espere,

quanto a palavra é falada

em notícia apresentada.

Comprar, vender, assistir

tudo mudou pra conferir.

Tem até gente de cultura,

mas que nunca se apura,

a essa palavra preferir.

Vai se acabar nosso Brasil,

pois tudo aqui só acontece.

Realizar não mais aparece

e nesse nosso grande covil

tem um bando de imbecil,

que não sabe que acontecer

significa improvisar, à mercê.

O significado de realização

passou a ser improvisação.

Preste atenção pra aprender

Agora tudo é oficina.

Qualquer festa é evento.

Assim diz todo jumento:

de bodegueiro de esquina,

à chefe de qualquer faxina.

Tem promotor de evento,

tudo pra qualquer momento,

até pra arranjar uma puta,

ou homem de saia curta,

dentro e fora de convento.

Das palavras mudam sexo.

Pesquisar mais ninguém quer,

nem homem nem mulher.

Isso é puro complexo

de gente com pouco reflexo.

A mascote é o mascote,

tudo num grande pacote

pra ninguém ter trabalho

a educação é um frangalho.

Precisamos de um boicote.

Outras palavras da moda:

estou falando de gestão;

a outra usada é geração,

quando for falar de renda,

isso pra que você aprenda.

Mas fale também com certeza,

vocabulário sem riqueza.

Mas na sua nova falação,

vá dando uma de sabichão.

Para mim só mostra pobreza.

Se não usar o gerúndio,

nem uma lucação verbal,

vai se sair muito mal.

Nesse pequeno latifúndio,

ou se preferir minifúndio,

de aluno do Mobral

de todo esse pessoal,

que junto com a galera

em meu Brasil impera.

Agora tudo é pontual.

Por isso preste atenção,

você está sendo focado

até pela pessoa do lado,

que se acha um doutor,

de Português um professor,

que você é ultrapassado,

pobre dum despreparado

que não teve evolução

na onda de globalização,

há muito foi superado.

Junto e onde vamos falar.

Trocaram sua significação,

transformaram em aberração.

Onde não significa lugar,

serve até como anexar.

Junto não é mais ao lado,

tem um novo significado.

Tenho pena de estudante

que se tornou replicante,

ter o assunto questionado.

Henrique César Pinheiro

Janeiro/2006