O VALENTE ROBERTÃO

Vou contar rapidamente
Um causo de Mossoró
É uma história complacente
Fará você sentir dó
Talvez lhe cause emoção
Vou falar de um sujeito
E tentar versar o feito
De um tal de Robertão

Ele era entroncado
Também muito corpulento
Bastante mal encarado
Tinha a força d’um jumento
Quando estava bem doidão
Brigava até com dezoito
Se os cabras fossem afoitos
Apanhavam de rojão

Quando chegava um chamado
Os policiais conheciam
Mandavam logo um “bocado”
De soldados que já iam
Enfrentar a besta-fera
E já pegavam o porrete
Pois ia rolar cacete
Já sabiam como era

- Vamos mudar o sistema
Todo mundo de soquete
Peguem um par de algema
E também os cacetetes
Não é brincadeira não
Quero um trabalho bonito
E hoje o nosso quesito
É prender o Robertão -

Uma noite numa festa
Lá no alto do xerém
Robertão com sua testa
Deu marrada em mais de cem
Quando a policia chegou
Ainda brigaram um tempão
E mesmo assim Robertão
Correu e não se entregou

Outra noite no Walfredo
Até eu vi desta vez
E me escondi com medo
Vou dizer o qu’ele fez
A súcia de vagabundo
Demonstrando ser valente
Robertão trincou os dentes
Deu mordida em todo mundo

Outra vez na passeata
A prefeito da cidade
Seria noite pacata
Tamanha tranqüilidade
De repente a confusão
Eu só via a zoeira
A turma da capoeira
Brigava com Robertão

Pareciam uns artistas
Destes de circo ou tv
Foi lá no meio da pista
E bonito de se ver
Não queira ver a usura
Os cabras brigavam fulos
E Robertão dava pulos
Com três metros de altura

Depois chamaram a policia
E a coisa ficou feia
Quando chegou a milícia
Era uma dúzia e meia
Se travaram no recoito
Os policias no cassetete
E robertão no bofete
Bateu em todos dezoito

Três dias o vi passar
Em frente à padaria
Ele vinha devagar
Não sei o que ocorria
Ele sentou lá na frente
Estava todo inchado
O corpo encalombado
Falou que estava doente

Isso tudo eu já sabia
Mas mesmo assim perguntei
O que se passado havia
Ele disse: - eu briguei
E não estou arrependido
Apanhei como um burro
Bati em muitos de murro
Fui preso como um bandido -

Neste dia eu indagava
Como ele conseguia
Porque tanto ele brigava
De fato, o que fazia?
Ele respondeu então:
- Dou cocorote e dentada
Chute, murro e cabeçada
Capoeira e empurrão -

- Dou pé na bunda e voada
Luto karatê também
Jiu-jitsu, dou pernada
Tapa-olho e vou além
Se entro na briga não saio
Sou um cabra muito ruim
Lutar pra mim é assim
Briga pequena é ensaio -

Se transformou Robertão
No terror lá da cidade
Pois em qualquer confusão
Já usavam de maldade
Sujando o nome de lama
Como se uma pessoa só
Na terra de Mossoró
Sustentasse esta fama

Quando ele aparecia
Em qualquer rua ou rincão
O povo então já dizia:
Cuidado! lá vem Robertão!
E corria todo mundo
Porém se alguém ficasse
E de cara o encarasse
O respeito era profundo

Em frente ao meu negócio
Lá morava um poeta
Numa tarde em seu ócio
Sentou de forma discreta
Robertão apareceu
Ele tremeu, mas ficou
De frente, o encarou
Naquele dia o venceu

Seu nome não quis citar
Pois não fui autorizado
Se ele quiser falar
Fica até testemunhado
Porá água em minha horta
Com o pau matei a cobra
E agora o que me sobra
É mostrar a cobra morta

Ultimamente estava
Todo picado de faca
A ferida lhe marcava
Como num couro de vaca
Pedia às enfermeiras
Talvez como um lenitivo
Façam aqui um curativo
Pra sarar minhas bicheiras

Havia uma enfermeira
Que era mulher casada
Robertão fez a besteira
De admirar a danada
Quando por lá ele a via
Dizia não sentir dor
Que só queria o amor
Daquela linda maria

Mas ela logo corria
Prá evitar o problema
O marido ela temia
Que soubesse do dilema
Já pensou a confusão
Que ela ia arranjar
Outro homem namorar
E ser logo o Robertão?

Ele era inteligente
Sentava ali na calçada
Bem da padaria em frente
Dizia com a voz cansada
Aqui ninguém mexe não
Me dê ai uma grana
Pois quero tomar uma cana
Quem garante é Robertão

Passo aqui de madrugada
Os cabras querem assaltar
Mas eu mando na negrada
Basta assim eu falar:
Aqui ninguém vai mexer
Pois Arnaud é meu amigo
E eu pastoro o abrigo
Dele enquanto eu viver

Eu fiquei bastante triste
Ao saber de supetão
Me falaram assim de riste
Da morte de Robertão
Quis lhe prestar este preito
Como simples homenagem
Narrando esta passagem
De algo que houvera feito