O Velho Distraído e o Urso no Quintal
O velho, já calejado,
Casou com moça faceira,
Mas o coração cansado
Não via na loba brincadeira.
Ela, fogosa no leito,
Ele, dormindo no alheio,
Até que a astuta inventou
Um código no varal cheio!
— "Se tremula o branco pano,
Meu velho tá na cidade.
Se o vermelho surge à frente,
Foge, amor, que é cilada!"
O "urso", sabido e ligeiro,
Aprendeu a liçãozinha:
— "Quando o branco dança no vento.
É minha hora, rainha!"
O velho, ingênuo e contente,
Só elogiava a esposa:
— "Que dona de casa ardente,
Lava até minha camisa rosa!"
E o amante, pulando o muro,
Rindo da sorte dourada:
— "Esse pano é meu farol,
Minha bússola abençoada!"
Mas o destino, trambiqueiro,
Não perdoa trapaça:
O "urso", cego de pressa,
Não viu a bandeira que passa!
O velho, em casa surpreso,
Topa com o intruso na sala:
— "E esse sujeito aqui, hein?
Veio consertar a talha?"
A moça, rápida e fria,
Solteira na mentira:
— "É o vendedor de linhas,
Tá trazendo minha encomenda!"
O "urso", suando frio,
Fazendo cara de pidão:
— "É... trouxe o branco novinho,
Mas errei a direção!"
O velho, agora desconfiado,
Botou o dedo na ferida:
— "Por que esse tal mercador
Só aparece na minha saida?"
Espiou num dia quente,
Viu o branco no cordão...
E o "urso" entrando sorrateiro,
Como raposa no galinheiro!
O coroa, fervoroso,
Pegou um cabo de vassoura:
— "Hoje o urso vira churrasco,
E a cornuda vira louça!"
Mas a moça, mais ligeira,
Gritou pro comparsa amado:
— "Salta o muro, meu nego,
Que o corno tá armado!"
O "urso"deu um pinote,
O velho escorregou no chão,
E a esposa, sorridente,
Deu mais uma explicação:
— "Amor, foi engano seu,
Ele veio sem maldade...
Só queria confirmar
Se o pano tá limpo."
Moral da história:
"Moça nova e velho lento
É combinação fatal.
Ou o coroa fica esperto,
Ou vira chifre de natal!