Juventude, Velhice e o Espelho
A juventude é um rio,
corre ligeiro e sem dó.
O coração é um tio
que só pensa em namoro e xodó.
Mas o tempo é traiçoeiro,
rouba o viço e o derradeiro...
A pele que era tão bela
vira pó lá na janela!
O namoro é um segredo:
quando é novo, é brincadeira;
quando é velho, é brinquedo
que já perdeu a carreira!
O espelho é um velho esperto,
conta o tempo sem alarme.
Mostra o rosto já deserto
e o sorriso cheio de charme!
A mocidade é uma flor
que desabrocha no peito.
A velhice é um amor
que já perdeu o direito...
Mas no fim da jornada,
quando a vida já é estreita,
fica a alma engraçada
e a memória aceita!
O jovem quer carro novo,
a velhice quer sossego.
Um sonha em ser o dono,
o outro só quer seu acerto!
O rapaz vive de pressa,
a velhice vive à toa.
Um quer ganhar a mesa,
o outro só quer tá de boa!
O amor na juventude
é fogo de palha seca.
Na velhice é atitude:
"Me traz o chá e me espera!"
O espelho não engana,
mas às vezes diz mentira.
Mostra a cara bacana
e esconde a gordurinha!
O jovem quer ser velho,
o velho quer ser criança...
E no meio desse espelho,
só o amor balança a pança!
A vida é uma cantiga,
o tempo é um violeiro.
O jovem canta na intriga,
o velho canta no terreiro!
E o espelho? Esse é sábio,
não julga, só reflete.
Mostra a mocidade
e a velhice que lhe mete!
No fim das contas, tudo vira verso,
o jovem ri, o velho faz careta.
Mas no espelho da vida, o universo
só é feliz quando tem poeta!