RELEMBRANDO A DITADURA, SEM NADA A COMEMORAR

Vamos relembrar um fato,

Sem nada a comemorar,

Episódio vergonhoso

Que temos para contar:

Com seus atos desumanos,

Se vão sessenta e um anos

Do Regime Militar.

Foi a 31 de março,

Que a nossa grande Nação

Perdeu toda a liberdade,

Sem direito ao cidadão.

No ano sessenta e quatro,

Brasil tornou-se o teatro

Dessa triste aberração.

Pois a partir dessa data,

Ditadores desumanos,

Radicais, totalitários,

Criminosos e tiranos,

Com seu regime infeliz,

Mandaram neste país

Durante vinte e um anos.

Em plena Idade Moderna,

Não tem porquê nem razão

De um país ainda voltar

À total escuridão

De estupidez execrável,

Que somente é comparável

Aos tempos da escravidão.

A lembrança que ficou

Do tempo da ditatura

Foi repressão violenta,

A lei cruel da censura,

A falência de conceitos,

A cassação de direitos,

Assassinato e tortura.

Devido à deposição

Do presidente Goulart,

Sucessor de Jânio Quadros

Num momento singular,

Se não me falha a memória,

Começou a trajetória

Do regime militar.

Contra o presidente Jango,

Como era assim conhecido,

Um grupo de militares

Conspirava no sentido

De lhe tomar o poder,

O que veio acontecer,

Deixando o povo oprimido.

O general Mourão Filho,

Deixando Minas Gerais,

Com tropa de três mil homens

Foi-se juntando aos demais.

Logo no primeiro dia

Estava a democracia

Nos seus momentos finais.

Por Ranieri Mazzili,

Que então era deputado,

Somente por nove dias

O Brasil foi governado.

No Congresso, com efeito,

Castelo Branco é eleito,

Depois do Golpe de Estado.

Castelo logo adotou

As medidas radicais,

Conhecidas pelos seus

Atos institucionais.

Fim das eleições diretas

Foi uma de suas metas,

Dentre outras tão brutais.

Criou o SNI,

Um poderoso espião,

Protegendo os militares,

Fragilizando a Nação;

De partidos, só ARENA

E MDB, na cena

De suposta oposição.

Depois de Castelo Branco,

E muito mais linha dura,

Seu sucessor, Costa e Silva,

Promoveu a assinatura

Do Ato Institucional

Que dava poder total

À terrível ditadura.

O Congresso foi fechado,

Cresceram as repressões,

Suspensão de garantias,

Abusos, violações,

A polícia, noite e dia

Promovendo à revelia

As mais vis perseguições.

Confrontando os militares

Surge um grupo varonil,

A União dos Estudantes,

Em defesa do Brasil,

Numa marcha audaciosa

Realizou a famosa

“Passeata dos Cem Mil”.

Mas continua o regime

De plena arbitrariedade,

Com o presidente Médici

Falando em prosperidade,

Com seu “milagre econômico”,

Porém gerando astronômico

Débito à posteridade.

O tal milagre gerou

Dívida internacional.

O “Brasil, ame-o ou deixe-o”

Virou lema oficial.

Por outro lado, a Nação

Amargava a situação

Da crise salarial.

O controle do governo

Sobre todos os setores

Impedia organizarem-se

Os nossos trabalhadores,

Pois os sindicalizados

Eram todos controlados

Pelos órgãos repressores.

Departamentos estranhos,

Como DOPS e DOI-CODI,

A linha de espionagem

Em todo o País eclode.

Com a boca costurada

Ninguém pode dizer nada,

Somente o governo pode.

Depois do governo Médici

Veio outro general,

Desta vez, Ernesto Geisel

Que nessa regra geral

Deixou de novo o Brasil,

Com o “Pacote de Abril”,

Sem Congresso Nacional.

Eram todos indicados

Pelo modo aristocrático,

Sem consultarem o povo

Nesse regime antipático,

Ficando assim mais remoto

O nosso sonho do voto

Em um país democrático.

Porém, sucedendo Geisel,

Indicaram Figueiredo.

Era o momento final

Do regime tão azedo.

A ditadura morria,

Um novo tempo surgia

E o povo perdia o medo.

Foram os “anos de chumbo”

Grande atraso pra Nação,

Com danos à economia,

Ao progresso e evolução.

A temível ditadura

Emperrou nossa cultura,

Arte e comunicação.

As cicatrizes ficaram

Desses tempos de terror,

No qual o Brasil viveu

Longos anos de torpor.

Expulsos e constrangidos,

Muitos foram perseguidos

Pela “Operação Condor”.

Dos porões da ditadura,

Sempre os ecos se ouvirão

Dos que foram torturados

Na “cadeira do dragão”,

Das vítimas de afogamentos,

De choques, espancamentos

E de tanta perversão.

Jamais serão esquecidos

Nossos patrícios no exílio,

Sem direito à sua pátria,

Ao seu chão, seu domicílio;

Nossos artistas queridos

Que lutaram destemidos

Pela paz buscando auxílio.

Relembremos os artistas

Zé Keti, Nara Leão,

João do Vale, grande nome

Que nos deu o Maranhão,

Pois fizeram manifesto

Em um famoso protesto,

Com o “Show Opinião”.

Outros artistas famosos,

Caetano, Chico e Gil,

Empregaram seu talento

Da maneira mais sutil,

Pra dizer que a ditadura

Era o emblema da feiura

Da política do Brasil.

Assim, não temos motivos

Pra comemorar horrores.

Sem esquecer, todavia,

Os vinte um anos de dores.

Meu recado em versos dei,

Pra não dizer que eu deixei

Também de falar das flores.

PEDRO PAULO PAULINO
Enviado por PEDRO PAULO PAULINO em 31/03/2025
Código do texto: T8298775
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