Patativa do Assaré, um poeta genial.
Com nome Antônio Gonçalves
Da Silva foi batizado,
E ganhou seu pseudônimo
Quando ficou afamado,
Depois de fincar o pé,
Patativa do Assaré,
Foi poeta consagrado.
Quando ainda era novinho,
Na fase de dentição,
Por causa de um sarampo,
Perdeu parte da visão.
Cegou do olho direito,
Mas com o outro perfeito
Cumpriu sua profissão.
Com apenas 13 anos
Fez seus primeiros versinhos,
Eram versos engraçados,
Porém muito bem feitinhos.
Na noite de São João,
Fazia de gozação
Para brincar com os vizinhos.
Ainda na adolescência
Seguiu a vida de artista,
Ao comprar uma viola,
Se tornando um repentista.
Bom na improvisação,
Das agruras do sertão,
Ele foi um retratista.
Aos 20 anos de idade
Viajou para o Pará,
Acompanhando um parente
Que há tempos morava lá.
Com repente genial
Foi artigo do jornal
Correio do Ceará.
O artigo escrito deu
O primeiro pontapé,
Comparando à patativa,
Agindo de boa fé,
Deu-lhe um bonito apelido,
E assim ficou conhecido
Patativa do Assaré.
Depois dos 40 anos
Fazendo o que mais queria,
Deixou de ser violeiro
E de fazer cantoria,
Não querendo mais cantar,
Passou a se dedicar
Apenas à poesia.
Lá na década de 50,
Com inspiração divina
Na grande Rádio Araripe
O seu recital fascina.
José Arraes se encantou
E seu livro publicou:
“Inspiração nordestina”.
No Brasil se iniciou
Sua grande projeção,
Quando o Rei Luiz Gonzaga
Gravou a sua canção,
Chamada “Triste Partida”
Que conta a penosa vida
De quem sai do seu Sertão.
Seus poemas eram feitos
E na memória guardados,
Só depois ele escrevia
Para serem recitados.
Sem nunca titubear,
Conseguia recitar,
Pois os tinha decorados.
Quando pegam sua obra
Para fazer transcrição,
Botando nos meios gráficos,
Ela perde a acepção,
Pois por meios não-verbais
Perde expressões faciais,
Ritmo, voz e entonação.
A linguagem corporal
Embeleza a poesia.
Patativa recitava
Com veemência e ironia.
Demonstrando hesitação,
Na sua declamação,
Sua verve aparecia.
Publicou muitos poemas
Em revistas e jornais,
Com o “Caboclo roceiro”
Desagradou generais.
Foi convocado a depor,
Mas o poeta escritor
Não se acovardou, jamais.
O seu primeiro LP,
Com suas declamações,
Ganhou o bonito nome
De “Poemas e canções”,
E Fagner, grande cantor,
Reconhecendo o valor,
Fez as suas produções.
Um poeta genial,
Que sempre foi lavrador,
Cantando de improviso,
Foi violeiro e cantor.
Patativa do Assaré,
Um homem de muita fé,
Foi grande compositor.
Fagner gravou a canção
“Vaca Estrela e boi Fubá”,
E cantou no Festival
De Verão do Guarujá.
Onde o poeta cantou
E este depois gravou:
“A Terra é Naturá”.
Ele abordava questões
Como a seca e a pobreza,
Descrevendo seu sertão
Com toda sua tristeza,
Mas de forma especial,
Com o ritmo musical
As transformava em beleza.
Tinha engajamento artístico,
Pelos direitos iguais
E por isso ele apoiou
Movimentos sociais,
Como as Ligas Camponesas,
E em poesias coesas
Defendeu seus ideais.
Poeta da caatinga,
Escrevia sobre temas
Políticos e sociais,
Em muitos dos seus poemas.
Com seu olhar sempre crítico
Falava em qualquer político
Do sertão das seriemas.
Mesmo poeta famoso,
E já um pouco cansado,
Patativa não deixou
De trabalhar no roçado.
Depois por necessidade,
Aos setenta de idade,
Deixou a roça de lado.
O poeta Patativa,
Morando no Ceará,
Fez parte do movimento
Querendo “Diretas Já”.
E seguindo nessa meta
Fez o “Inleição Direta”,
E nós vimos chegar lá.
Por ter sido autodidata
Nunca possuiu diplomas,
Mas tem livros traduzidos
Em diversos idiomas.
Seus poemas bem criados
Têm versos considerados
Quase como axiomas.
Os seus versos são famosos
Pelas autenticidades,
Ele também foi famoso
Pelas suas qualidades,
Com sucesso sem ter pausa,
Foi Doutor Honoris Causa
Em cinco universidades.
No ano noventa e três
Fez o seu nome crescer,
Pois o Brasil quase todo
Conseguiu lhe conhecer,
Sendo bom poeta e probo
Ele trabalhou na Globo
Na novela Renascer.