Salamaleico - O califado Nordestino

ÍNDICE:

I. Da loucura, o livramento

II. No cosmos do sofrimento

II. Do Jejum, a tentação

IV. O lacaio da redenção

V. Uma herança para o mar

VI.O Dragão do Mar-do-Leste

VII. Nove fora, restam seis

VIII. A Provação de Reis

Camões que me perdoe.

São Bento - Paraíba

2025

Canto I - Da Loucura, o livramento

I. O que é Salamaleico?

Não é árabe em português,

Tão pouco, um comprimento,

Saudação de reis

Ou amizade,

Ou sentimento.

Salamaleico é ideologia.

Ideia de Salam.

Da loucura, o livramento.

II. ‘Houve tempo de reis,

É hora de voltar!’

Não por necessidade,

Mas por vaidade.

Salam não é justo,

Mas também não é covarde.

III. Sua família foi morta

Nas mãos de oito mentirosos

Sem mais conforto e sem outrem

Sem saber ao certo quem,

Parte em busca de alguém

IV. Para encontrar a tal pessoa,

Mestre ou inimigo,

Comprimenta como antigo

‘Salamaleico é saudação

A resposta é Intuição’.

V. Se a deusa resfriar seu coração

Paz, amigo, irmão.

Se a resposta aquecer o comprimento

Soldado, aliado, capitão.

VI. E assim caminha Salam,

Com homens e mulheres no cangote,

Com um exército e com mascotes.

VII. Na sina dos Santos-Lestes

Salam toma para si

A busca de oito pestes.

Canto II - No Cosmos do sofrimento

I. O reino do mar do Leste

É terra santa por natureza.

A Aurora, primeira beleza

É primeira sempre lá,

Mas é última no acolá,

Na profana fortaleza.

II. O acolá não vê mais sol

Nem as estrelas lhes aparecem

O metal e a pedra,

Que muita sombra lhes fornecem,

Cobriu suas cabeças,

E calou as suas preces.

III. Quem separou os reinos?

Uma santa mulher clarividente,

Profetiza do sol ardente,

Amante da lua e da estrela.

Declarou guerra e fronteira,

A vitória a fez a ser amada

Como rainha foi alçada

É adorada como deusa.

IV. Se os antigos faziam cosmo de cima-baixo,

Os Lestinos fazem mapa de rio a mar.

Da lua ao sol, da seca ao inverno.

Do frio, do calor,

Não há céu, não há inferno.

V. O que há em todo dia é uma lua e um sol,

Estrelas vermelhas, lamparinas, farol.

Barcos no mar e monstros no rio

Demônios aos homens e anjos ao brio

VI. A terra é santa e proibida

Aos forasteiros não é bem-vinda

No mar ninguém embarca

Do rio ninguém escapa

VII. Salam, então, o que fará,

Se oito pestes navegam o mar?

Salamaleico é comprimento,

Ou é só mais sofrimento?

Canto III - Do jejum, a tentação

I. Salam, em sua sina, jejua.

E por trinta dias acampados,

Os Salamitas esperam preocupados

Na gruta - de lua à lua

Está seu líder, enraizado.

II. Com a fome ele espera

Uma luz divina acender,

Revelar em seu peito

De que forma o mar vencer.

III. Mas a luz maligna se acendeu.

A primeira peste em terra mesmo apareceu.

O primeiro oitavo atentou Salam,

No último dia do Jejum, o trigésimo

O ofereceu - a figura - empréstimo.

IV. ‘Te empresto a tua família

Em troca de seu exército’

Sua filha, sua esposa, Sua mãe e seus irmãos,

Em troca dos seus soldados, ofereço ressurreição.

V. Mas Salam bem sabia,

Que o homem só tira a vida,

Não há como retroceder.

Se nem a deusa a dá de volta,

Não vai ser uma lorota,

Que mesmo nessa cólera,

Vai poder lhe convencer.

VI. Mas desarmado e sozinho,

Numa gruta escura e fria

Como o homem irá vencer?

Mesmo o inimigo sendo carne

Salam também pode morrer.

VII. Uma prece ou oração lhe revela o estratagema:

‘Não peça em silêncio o que um amigo pode ouvir!’

Assim Salam grita - ordena o exército a subir.

E o Pestilento se prontifica,

Impunha a lâmina,

Parte logo uma ferida.

VIII>.Logo um guarda desconhecido apareceu como amigo,

Da escuridão, lançou-se ao perigo,

Com a lâmina surdina,

Passou por meio do Oitavo.

IX. Um Lacaio desconhecido salvou o príncipe da má sorte.

Grita bravo.

Levou a primeira peste a justa morte.

Canto IV - O lacaio da redenção

I. ‘Qual seu nome, valente amigo?

Pergunta o Homem, já coberto.

‘- V, e nada mais.’

‘- Quê mais? V é de valente!’

Responde o homem, sorridente.

‘-E como você, não tenho pais.’

II. Qual empatia tomou o coração de Salam.

Rápido, o desconhecido se torna ilustre.

‘V é meu protegido,

Pois em honra foi aguerrido.’

Declara Salam aos cuidadores,

Foi o fim das suas dores.

III. Agora em Vigor,

Ainda mais aliado,

Tendo o primeiro inimigo derrotado,

Salam discursa ao todo:

IV. ‘Quem aqui me seguir por simpatia,

Me amaldiçoe, me abandone,

Pois haverá sempre perigo à companhia.

A morte será sempre iminente

A quem me seguir por simpatia,

Que não morra essa gente!’

V. Em alta voz, continua:

‘A quem me segue por vingança e valentia,

A esse eu digo que me acompanhe.

Pois se um Oitavo é derrotado

Pelas mãos de um lacaio,

O que são mais sete pestes

Nas mãos de dez mil lestes?’

VI. Assim caminha ele ao mar gelado.

Com os valentes ao seu lado,

Com seu povo bem guardado.

Dividindo as suas preces,

Parte Salam em busca de sete pestes.

VII. Parte também V,

Mas busca do quê?

‘- Redenção -’

É o que ele diz.

Mas é redenção força motriz?

Canto V - Uma herança para o mar.

I. Vindo do Oeste - rio dos peixes-serrote,

Salam chega ao mar, a lento trope.

Noventa dias de cavalgada,

Chegou na capital a empreitada.

II. ‘E são noventa peças de prata,

Esse é o preço de uma jangada’

Lembrou o lacaio V, com o cais à vista.

‘E o que a rainha foi santa em vida,

Seus filhos hoje são em pecados.

Príncipes mal amados,

Deixaram o povo em desgoverno.’

Falou Salam ainda a ermo.

III. Chegando então na praça da doca,

A comitiva para, um príncipe o interroga:

‘Se um Salamita tiver noventa moedas de prata,

Corto minha língua,

Aqui mesmo nesta praça.’

O que responde o recitado?

‘Se minha mãe fosse viva e trabalhasse para você,

Mesmo se o salário ele receber

Se em mil dias, tirar um,

Ainda assim, eu andaria nu.

Ainda assim, eu passaria fome.

Pois o salário de um príncipe pra mim tem outro nome’.

IV. ‘Pena que morta está,

A velha Helena, não pode te ajudar.’

Responde e se retira o Príncipe Infame.

Mas já agarra-o de volta o Lacaio sem nome

E antes que um guarda empunha sua espada,

Salam joga aos pés do príncipe uma poção meio marcada.

Marcada com seu símbolo

Que sempre escondeu a testa.

Com a cabeça coberta,

Salam escondeu sua herança

Sua mãe, também uma santa,

Uma poção desenvolveu,

Era a poção de vida que a muitos ela deu

Hoje rara e de bastante valor,

Salam irá usá-la como forma de pudor.

Ordenou ao Sulamita que o príncipe a ele trouxesse,

E falou em seu ouvido

Acha que não sei que és peste?

Puxou de sua boca a língua moribunda,

Tascou-lhe a espada,

Revelou a horrenda forma.

V. ‘Me pague não as noventa, mas cém moedas’

O Homem ordenou

‘Quer morrer ensanguentado?’

O demônio protestou.

‘Não é a poção do seu agrado?’

O demônio implorou.

VI. Salam assim embarcou,

Sem dívidas com ninguém.

Com um saldo de mais de cem,

Pois deixou à capital,

Que cuidassem da própria peste.

Que queimassem a quem quisesse,

Que o mandassem ao além.

Ao além foi um demônio,

Ao mar vai mais um sonho.

Canto VI - O Dragão do Mar-do-Leste

I. A alma escura,

O primeiro pecado;

Um ser nunca amado,

A procura da cura.

O estudioso do primeiro pecado,

Corrompeu-se na vida em razão pura.

II. De razão prática nada o restando,

Logo comeu da ave proibida.

Ribaçã não é atoa fera banida,

Se o açude já não fosse seco,

Se o vaqueiro já não pedisse arrego.

III. Tendo o Audacioso já engolido as penas,

Tendo já em lua apagado as velas,

Tomou forma quebrando as pernas,

Ganhou asas,

Voou às pressas.

IV. Descido ao mar chegou,

Monstruoso da bastilha caiu,

Logo uma peste encontrou,

E rapidamente o possuiu.

V. Lá, jaz o dragão do mar do leste!

Quem cavalga o monstro é uma peste!

Avistou há léguas a embarcação,

À batalha os Salamitas vão.

Canto VII - Nove fora, restam seis.

I. Pelas contas deste Bardo,

Nove fora, restam seis.

Salam também contou assim,

Quando ouviu Maria-Inês.

Membra da tripulação,

Declarou: ‘não há indês’.

II. Em vez de furar o monstro,

Os Salmistas apelaram.

Com uma légua de altura,

Muito bem eles pensaram:

‘Vou fazer a varredura,

E ao ninho vou chamá-lo.’

III. Não queimou assim, Salam,

Do dragão sua ninhada?

Queimou, Salam, na verdade,

De quem já não tinha nada.

Pois já sabia o Homem,

Que apesar de ser gigante,

O dragão é ser pensante:

IV. ‘Ora pois, não tenho gosto,

Essa vida é de farsante.’

Vou voar daqui a posto,

Procurar a minha esposa.

Me deitar com a minha amante.

V. Partido e vencido o amável dragão,

Volta Salam a sua comunhão.

‘Agora é com o povo da ilha do leste.’

Salam sorriu olhando ao mar,

Caiu assim mais uma peste.

Canto VIII - A provação de Reis.

I. Chegado Salam a ilha do séquito,

Recebe-o prontamente, o Magistro Hélio.

Deitados nas redes,

Como fazia os antigos,

Conversam a sós e a partidos.

II. ‘Bem sabes tu o que deves fazer,

Manda teu povo retroceder.

Daqui pra frente tu segues só’.

Falou o velho trocendo o nó.

III. ‘Bem sei o que faço.

Eu sempre soube.

Só te peço, Hélio, que me ouve:

Sabes tu tambḿe o que me deves,

No que vencida a prova me concede.

IV. ‘Não perca mais tempo Salam guerreiro,

Vai em busca,

Sobe o desfiladeiro.

Lá encontrarás o teu destino.

Que o mar nos traga o Rei Lestino.’

V. Salam se despede de todo seu povo.

V, Inês, Os capitães e os guardas.

Ficarão todos em espera as armadas,

Pois seis pestes ainda matam a mercer.

E ‘Salam tem de ser rei para eles vencer.’

Lembrou Inês a toda gente,

Que já carrega em si o descendente.

VI. O beijo, a despedida,

Tão logo foi a partida.

Salam agora vai sozinho,

Sem amigo, sem vizinho.

Sem a clara direção,

Sem nenhuma proteção.

Tudo o que há é um serrote

Que ele sobe a lento trope.

VII. Lá em cima no altar,

A temida provação

É onde ela está.

VIII. Um deus banido o oferece proteção.

Oferece a ele um trono, um reino e unção.

Mas a toda recompensa,

Vem sempre uma sentença:

Salam deve vencer o deus da eloquência,

Deus da sapiência,

Da mentira e ilusão.

IX. O Mefistão, assim a chamam,

Aparece como sombra,

Fala de um lugar onde homem nenhum anda.

Mas salam já sabendo que queria lhe enganar,

Baixa a cabeça, não levanta seu olhar.

X. ‘Salamaleico’?

‘Aleicosalam.’

‘Qual é o teu defeito?’

‘O meu nome é Salam.’

‘O antigo comprimento?’

‘O prometido livramento.’

XI. ‘Livramento é conversa fiada.

Se livrar o reino perderá sua ninhada.

Pois, só te dou o direito com uma condição,

Um pacto, um aperto de mão.

XII. ‘Por isso te chamam Mefistão.’

‘Por isso nunca me dizem não.’

‘Eu bem sei’

‘A palavra de três letras’

‘Se eu falar’

‘Farei com que desapareça’

‘Então, o que me pedes?’

‘Que levante sua cabeça.’

XIII. Salam obedeceu e entrou logo em ilusão.

Sua visão escureceu,

E assim viu em paixão:

Aquele reino antigo,

O bendito e proibido,

A terra da canção,

A que chamavam de Nordeste,

Que depois das Oito peste,

Virou terra de só do não.

XIV. ‘As três letrinhas você falou’

Mefistão o acusou.

Saindo do transe Salam percebeu,

Qual grave erro ele cometeu:

Tudo que viu acabou declarando,

Em alta voz saiu declamando.

XV. E agora, Salam?

Para onde vai?

O deus de ti já está atrás:

Vento forte bate do Oeste,

Um raio cai, o céu escurece.

XVI. Mas a luz divina terminou se revelando:

Salam lembrou e iniciou, cantando

A canção que do avô qual morreu soletrando:

Uma canção de proteção pre pegar um deus no engano.

XVII. ‘Na serra do Catolé,

Avistei um bode morto,

Com um chocalho no pescoço,

Me avistou, ficou em pé.

Eu fiz um tereteté pra ver se o bode corria,

Mas o bode se escondia,

Numa folha de mufumbo.

Eu de cá…’

Interrompeu o Mefisto:

‘Larguei-lhe chumbo

No coração de Maria’

XVIII. Desmente Salam:

‘Eu de cá larguei-lhe flores no coração de quem diz não.’

XIX. ‘Não!’

Protesta o deus,

‘Sim, digo eu!’

XX. Assim O Mesfistão foi vencido:

Pois Salam o fez dizer, temido,

O agourento Não.

XXI. Volta Salam então a terra prometida,

Com um trono por direito, vai logo à partida.

O Nordeste é seu leito, não fera banida.

XXII. Com o povo e respeito,

Com um reino e sendo amado,

Vai Salam em busca

Da caça ao Oitavo.

XXIII. Seus últimos inimigos,

Já temendo seu poder,

Partem para o sul,

Pra poder se defender.

XXIV. Mas com o Nordeste agora unido,

Com o povo bem nutrido,

Com fé e disposição.

Sua esposa e seu menino,

Agora em trono e em coração,

Já Salam pode falar:

‘Eu sou rei do Nordeste,

As Oito peste eu vou matar.’

XXV. ‘Nove fora, restam seis!’

Gritaram ao povo,

Salam e Inês,

Agora já Rainha e Rei.

CONTINUA.

A A D Akênio
Enviado por A A D Akênio em 13/03/2025
Reeditado em 31/03/2025
Código do texto: T8284625
Classificação de conteúdo: seguro
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