AS NOVE VEZES EM QUE MEU PAI QUASE MORREU(PARA MEU PAI , JOSÉ FERREIRA CHAVES)
Num sertão de histórias vividas,
Vou contar um caso de arrepiar,
De um homem que escapou da morte,
Nove vezes em que pude contar
Mas na décima, a malvada venceu
E o levou pra nunca mais voltar.
A primeira vez foi no engenho,
Mexendo com eletricidade,
O choque veio de repente,
Mas ele escapou da fatalidade .
A morte deu só uma espiada,
E não o quis de verdade.
A segunda vez foi na estrada,
De bicicleta ele seguia,
Um caminhão o derrubou,
Jogou ele pra fora da via,
Mas meu pai, teimoso e forte,
Da morte fez zombaria .
A terceira vez foi por descuido
Ao mexer com energia novamente
Pegou num fio descascado,
Que o jogou ao chão rapidamente
Mas a morte, cansada de esperar,
Deixou por levar mais pra frente .
A quarta vez foi no telhado,
Fazendo reforma no lar,
Escorregou e caiu lá de cima,
Mas não foi pro céu voar,
A morte só deu uma risada,
E ele continuou a trabalhar.
A quinta vez foi no açude,
Tomando banho de verão,
Mergulhou no raso e bateu a cabeça,
Nas pedras do fundo do "Bolção"
Mas a morte, que já tava brava,
Deixou ele pra outra provação.
A sexta vez foi no tanque,
Cheio de óleo de castanha
Escorregou e foi pro fundo,
Quão grande foi sua façanha
Em risos ele saiu falando:
"Aqui a morte não ganha".
A sétima vez foi com a úlcera,
Que estrangulou de repente,
Mas ele, teimoso como um cão
Deste escapou novamente .
Foi pro hospital e se curou,
E a morte ficou impaciente.
A oitava vez foi no bar,
Um cara pediu uma dose de cachaça
Meu pai não tinha, o sujeito irritou,
E partiu pra cima com uma taça
Mas a morte já foi falando:
"Isso já não tem nem graça".
A nona vez foi no forró,
Na saída do clube, ele falou
Dois meliantes o emboscaram,
E duas facadas que quase o ceifou
Mas meu pai, que era guerreiro,
Da morte sorriu e zombou.
Mas na décima vez, coitado,
A morte finalmente venceu .
Um AVC foi a desculpa
Para dizerem que ele morreu
Meu pai partiu desse mundo,
Fazendo muito chorar ,
Minha mãe, meus irmãos e eu.
Agora ele descansa em paz,
No céu ou no sertão,
Deixou histórias pra contar,
De um homem de coração,
Que nove vezes escapou da morte,
Mas na décima, foi sua vez, então