A REVOLTA
Certo dia mergulhando
Vendo as belezas do mar,
De longe vi um cardume
Resolvi me aproximar,
Vi que era uma assembleia
Dos moradores do lar.
Parecia um condomínio
Repleto de moradores.
O síndico dando a palestra,
Aos inquilinos, senhores;
Todos com muita atenção
Ao conjunto de valores.
Cada qual pedia aparte
Todos queriam falar:
─ Vamos discutir agora
O que falta em nosso lar
Muita união e coragem
Temos que nos rebelar.
─ Estou muito insatisfeito!
Disse um branco tubarão:
─Tão roubando meu espaço,
Toda a minha privação,
Vou botar ordem na casa
Pra acabar a confusão.
Aqui só vai ter futuro
Quando a gente comandar,
O homem é o rei na terra
Já domina até o ar,
O único bicho sem asas
Que aprendeu como voar.
A jubarte disse: ─ Basta!
Esse é o meu descontento,
Vem aqui pra nos matar
E retirar seu sustento,
Arrogante, impiedoso,
Troglodita e truculento.
Exclamou um acará:
─ Ah se eu pudesse bater!
A bicuda falou: ─ Calma
Brigar não vai resolver,
Estamos sem proteção
O que podemos fazer?
Respondeu o peixe anjo:
-Eu sou um imperador;
Com lua, mão, lobo e remo
O exército do terror
De bombordo pra estibordo
Serei do mar defensor.
A moreia aborrecida
Começou a reclamar:
─ O modo como me tratam
Faz o estômago embrulhar,
Filha de uma espécie rara
Me chamam cobra do mar.
A arraia disse ao polvo:
─ Você é um bobalhão!
Achando que seus tentáculos,
Faz de você um brabão.
O povo disse: ─ Discordo!
Sou brabo e não abro mão.
A espada disse: ─ Eu furo.
O Merlin disse: ─ Eu também,
Comigo o negócio é sério,
Sem esse tem mas não tem,
Se bobear, o pau canta
Quando vai e quando vem.
O povo disse: ─ Mais eu
Não gosto de enrolação,
Por que sou bem decidido
Ou é sim, sim ou não, não,
Ele tenta me atacar
E eu quem ataco o ladrão.
A lagosta disse: ─ Aprovo.
O caranguejo: ─ Eu também.
Disse o cavalo marinho:
─ Razão se dá a quem tem
Vamos botar para quebrar
Que os pargos digam amém.
Disse a sereia: ─ Não gosto
Do homem em nosso arrebol,
Usando barco de pesca
Com rede, arpão e anzol
Polui o brilho das águas
E até os raios do sol.
A foca disse ao golfinho:
─ Você é um brincalhão
Não vive preocupado,
Com nossa situação
Já faz até amizade
Com essa "pá" de ladrão.
O lanterna impaciente
Diz: - Tudo isto é verdade
Você brinca com os ladrões
Da nossa felicidade
Nos transformando em comida
E vendendo a sociedade.
A orca entrou na conversa
Dizendo: - Eu sei como é
Um mais forte, outro mais fraco
Vamos precisar de fé
Sagacidade e coragem
Pra continuar de pé.
- Estou muito furioso
Disse o tubarão martelo:
-Eu sou capaz de morrer
Pra salvar nosso castelo
E quero desafiar
O homem para um duelo.
O tamboril disse: ─ Calma
Não precisa disso não,
Eu sou um cara da paz
Não gosto de confusão,
Resolvo tudo com calma
Sem brigas e agitação.
A cioba disse: ─ Assim
Eu não consigo entender,
Só vivem me elogiando
Mas querendo me comer,
Está difícil pro meu lado
Já nem sei o que fazer.
Disse o cangulo: - E agora
A gente vive acuado
Pra onde a gente mergulha
Tem gente do nosso lado
Parece até que essa gente
Está com nós filiado.
Disse o meca: ─ Nós também.
Falou por ele o cação:
─ Somos tirados do mar
Direto para o fogão,
Arrastados pelas feiras
Pra servir de tentação.
Iguarias de avarentos
Petisco pra cachaceiros,
Embalando cachaçadas
De nobres e arruaceiros,
Presentes nas altas rodas
De mansões e pardieiros.
Disse a garoupa: ─ Pois é...
Ficou ruim pra passear,
O homem habitou a terra
Quer desabitar o mar,
Me diga se uma dessa
É ou não é de lascar?
Bodião e barracuda
Usando a diplomacia,
Linguado, carapicu,
Que quase nada dizia,
Piramboia e guarajuba,
Com o salmão, só ouvia.
Bonito falou: ─ Não posso
Nem sair pra passear,
O bagre disse: ─ Pois eu
Não posso mais paquerar,
Com a isca dando sopa
Vendo a hora me ferrar.
Disse a guaiúba: ─ Também
Vivo esta situação,
Se não estou no cozido
De uma boa refeição,
Estou secando no sol
Ou assando no fogão.
O serra disse: ─ Não serro
Com medo de me ferrar,
Disse o dourado: ─ Pois eu
Estou dando sopa no ar,
BBB, reality show
Agora é só deslanchar.
O palhaço ficou sério,
O pintado aborrecido,
Fica o prego encabulado
E o cangati constrangido,
Nisso saltou o guaru
Totalmente enfurecido.
A lesma falou: ─ O homem
Já deu até pra roubar,
Sobrevive do crustáceo
Que o gringo apreciar
E ainda fica com raiva
Se um de nós lhe atacar.
Nisso um molusco sorriu
Dizendo não entender:
─ O homem não tem caráter
Nem cumpre com seu dever,
Me acusa de mexilhão
Mas ele é quem vem mexer.
A carpa disse a corvina:
─ Vamos botar pra quebrar,
Eles vão passar embaixo
Se vierem guerrear,
Iremos com toda força
Quando a briga começar.
A ostra disse: ─ É verdade
Temos que nos defender,
Lula agora é presidente
Podendo nos proteger,
Só no respaldo da lei
Sabemos o que fazer.
A merluza disse: ─ É hoje,
Mas logo ele vai sair,
Pois ele subiu demais
E está perto de cair,
Diz o boto: ─ Vote em Serra
Pro mar não se dividir.
Anchova diz: ─ Não é certo
Nem no norte nem no "su",
Se vier para o meu lado
Abro logo um sururu,
Nem que pinto vire pato
E pavão vire peru.
O sirí falou zangado:
─ Me chamam de valentão
Querem matar todos nós,
Tenho ou não tenho razão?
─ É claro meu camarada!
-Respondeu o camarão.
O atum disse: ─ Ou se age
Ou iremos nos dar mal,
A gente virou refém
Desse bando marginal,
Agora a coisa está feia
Pimenta, limão e sal.
─ Concordo ─ disse o robalo
─ Precisamos de mudança
Mas isto pede união
Uma profunda aliança,
Junto com um belo plano
E requintes de vingança.
─ Já temos guerra no mar
─ Respondeu o bacalhau,
─ Vamos ter que nos armar
Palavras do carapau,
- Que a situação tá feia
Falou o peixe piau.
Vi tudo à meia distância
Da grande reclamação,
A carapeba, a sardinha,
Só choro e lamentação,
Até mesmo o peixe-boi
Mostrava insatisfação.
Zangado o leão marinho
Mostrou uma ação astuta
E a tartaruga também,
Se aliou com a truta,
Também vi um agulhão,
Se preparando pra luta.
Todos na mesma revolta
Falando uma língua só,
Apelos que na verdade
Em consciência dá dó,
Eu quis falar mas não deu
Minha garganta deu nó.
Com o egoísmo do homem
E a sua perturbação,
Seu desrespeito marítimo
Sua falta de atenção,
Ao mar e a natureza
Por ganância e ambição.
Depois que escutei atento
As suas reclamações,
Acatei de bate pronto
Suas reivindicações,
Porque a pauta era larga
Com profundas dimensões.
Eu fiquei indignado
Com tanta interrogação,
Faz dez anos que procuro
Mudar a situação,
Morro e não acho respostas
Pra me dá satisfação.
Aqui dou conta do fato
Registrado e acontecido,
Pedindo sua atenção
Para o que tem ocorrido,
Nas fronteiras de além mar
Neste universo invadido.
Uso a minha poesia
Pra fomentar a questão,
Deixo em verso registrado
A minha indignação,
Com uma pergunta na ata
Para a grande reflexão.
Saber se estão errados
É a pergunta concreta,
Responda ai meu leitor,
Dê a resposta completa;
Avaliando o trabalho
Que é parte deste poeta.
FIM