O CORREDOR DA MORTE
As ruas todas desertas
A noite sombria e fria
O céu era um manto triste,
Pois estrelas não havia.
Com aspecto inquietante,
Estranho e horripilante,
A cidade se exibia.
Ramiro, então, percebia
Que havia uma coisa errada,
Pois para o lado que olhasse
Via a cidade fechada.
Sem nenhum sinal de vida
Na sua igreja querida
Também não havia nada.
Parecendo madrugada
Viu todas casas fechadas
E viu que em todo comércio
As portas tavam cerradas.
Pelas brechas das janelas
Não viu claridade nelas
Só viu luzes apagadas.
Observou nas calçadas
Folhas e frutos caindo.
E o assovio do vento
Em seus ouvidos zunindo.
Porém não acreditava
Que tão cedo o povo estava
Em suas casas dormindo.
Como um eco foi ouvindo
Sussurros da multidão
Que estava no hospital
Numa grande confusão.
Um olhou pro lado dele
E gritou alto: foi ele
Indo em sua direção.
Então, toda multidão
Correndo com todo embalo,
Gritava atrás de Ramiro:
Por ali, vamos pegá-lo.
Mas ele muito ligeiro
Pulou num despenhadeiro
E ninguém quis imitá-lo.
O povo todo a cercá-lo
De repente houve um clarão
Que surgiu do céu brilhante
Com raios, chuva e trovão.
O temporal nesta hora
Fez todo mundo ir embora
Para sua salvação.
Mais ligeiro que um canhão
Pulou e voltou pra rua.
Seguiu com passos mais rápidos
Procurando a casa sua.
Porém viu que a multidão
Vinha em sua direção
E outra vez se acua.
Antes que a bala o destrua
Ele medita, infeliz:
Todos querem me matar,
Meu Deus, o que foi que eu fiz?
Não deu tempo perguntar,
Começaram a atirar,
Ele escapou por um triz.
Falando sozinho diz:
Vou morrer dessa maneira!
Corre em estradas de sítios
E sobe numa jaqueira.
A multidão que o seguiu
Ficou embaixo e não viu,
Pois ele não deu bobeira.
Mas uma bala certeira
Deixou Ramiro ferido.
O sangue correu no braço
O deixando dolorido.
Botou folhas de jaqueira
Para esconder a pingueira
Daquele braço atingido.
Lá embaixo um alarido
Todo mundo o procurando.
Mais uma vez os trovões
E relâmpados chegando.
Os raios em boa hora
Fizerem o povo ir embora
Sem ver Ramiro escapando.
Ele fugiu disparando,
Mas a casa não chegava.
Quanto mais ele corria
Muito mais longe ficava.
Ele chorava correndo,
Pois estava parecendo
Que a rua se esticava.
Chorando ele imaginava
O que devia ter feito,
Para ser tão perseguido
E caçado desse jeito.
Teria estuprado alguém?
Ou ter matado também?
Nunca teve esse defeito.
E sem entender direito
Ele foi-se em disparada
Invadiu uma garagem
Que estava abandonada.
O povo entrou atrás dele,
Mas ninguém enxergou ele
Atrás da grande bancada.
A turma desesperada
Atirou pra todo lado,
Muitos ficaram pensando
Que ele estava no telhado.
E Ramiro, tristemente,
Percebeu que novamente
Tinha sido baleado.
Com o silêncio instalado
Ele viu que foram embora
Tentando chegar em casa
Correu pro lado de fora.
Antes de sair dali
Alguém disse: olha ele ali
Nós Vamos pegá-lo agora.
Mas Ramiro sem demora
Fugiu numa disparada
E com medo de morrer
Não pensava mais em nada.
Sangrando e atordoado,
Corria desesperado
Pra se livrar da enroscada.
Numa casa abandonada
Ramiro se escondeu.
Atrás de um fogão de lenha
De onde um gato correu.
Meteram bala no gato
Que correu mais que um rato,
Mas no terreiro morreu.
Outra vez aconteceu
De o povo se retirar
Porque o tempo fechou
Começando a trovejar.
Ramiro, mesmo cansado,
Com o corpo ensanguentado,
Teve forças para andar.
Começou a caminhar
E a Deus pedia perdão,
Mesmo sem saber o crime
Que o pôs nessa condição.
No primeiro cruzamento,
Pra aumentar seu tormento,
Avistou a multidão.
Sentiu-se sem solução
Porque viu nos quatro lados
Quatro pelotões de homens,
Todos muito bem armados.
Parou e ficou chorando,
E os homens se aproximando
Com seus fuzis apontados.
Todos ficaram parados
E Ramiro a lhes olhar,
Vendo o corredor da morte
Resolveu se ajoelhar.
No desespero, o infeliz,
Gritou o que foi que eu fiz?
Mas não deu tempo escutar.
Ramiro ainda a chorar,
Tentando ficar de pé,
Pediu, meu Senhor me salve,
Sou teu filho e tenho fé.
Nisso sua mãe chegou
E tranquila o acordou
Para ir tomar café.