CORDEL: O Sol vem depois
Na cidade que acorda tão cedo
Com manhã que parece um segredo
O vento apaga a vela que dança
A brasa repousa, sozinha descansa
Orvalho nas plantas, o pranto que cai
E a lua no Japão já se vai...
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O mundo parece pequeno demais
No quartinho, um sonho ainda jaz
Crianças na rua pra escola correr
O feijão no algodão começa a nascer
A vida é teimosa, não perde a razão
Germina no tempo, no solo, no chão...
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As nuvens, anciãs de cabelos crespos
Se vestem de brumas, mistérios e gestos
Caminham no céu, lentas, altivas
Espiam os mundos com faces furtivas
Brincando de névoa na manhã serena
Curiosas do amor que a vida envenena...
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A merendeira desce, o ônibus já foi
Dona Maria enfrentou o frio que dói
O sol, orgulhoso, espera paciente
Sabe que a luz chega após a gente
Na madrugada, no escuro a tecer
As aranhas contam histórias do adormecer...
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O sol vem depois, bem de mansinho
Majestade celeste, aguarda o caminho
Por aqui o dia começa com fé e com som
Na força do povo, valente e bom
Nesta terra que vibra e nunca adormece
O trabalho é o início, a luz que acontece...
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MMXXV