O xenófobo e a empresa
Quando no Sudeste eu vivia
Trabalhei numa empresa
E lá havia um engenheiro
cheio das espertezas
Camiseta por dentro das calças
de cintura afivelada
Cabelinho de lado
Falava sempre dificil
e tratava todo mundo
por coitado
Topetudo enviezado,
Metido a cavalo do cão
Achando que era o patrão
Certo dia me olhou
e estalando os dedos
ordenou assim:
- Ei nordestina, faça um café pra mim!
Me levantei relutante
Fui lá na prateleira
Peguei o café
e esquentei na chaleira
Botei numa xicara
e me lembrei do sol
do respeito
que meu povo representa
Pra aguentar o caqueado
Dessa gente xenófoba
e cinzenta
Tem que ter muito
cabelo nas ventas
Puxei um cuspe cumprido
Despejei no café
e com uma colherinha
escondi o mexido
Levei pro tal dotô
Que sequer olhou pra mim
pra me dizer obrigado
Desde esse dia então
Ser xenófobo perto de mim
Pode até dar pé
Só não me peça café!
RC Oliveira
Cordel no Papel