Sou um filho do nordeste
faço um cordel arretado,
quero deixar preservado
esse nome que me veste,
sangue de cabra da peste,
que lutou com Lampião
e arrancou desse sertão
qualquer fala ofensiva.
É preciso manter viva
toda a nossa tradição.
Tenho sangue forrozeiro,
nascido no mês junino,
dançar xote é meu destino
no barro de um terreiro,
vendo o velho sanfoneiro
encantando a multidão,
que defende o seu baião
de qualquer briga nociva.
É preciso manter viva
toda a nossa tradição.
Quero fazer um pedido
para o nobre governante,
tome o respeito diante
do que tem acontecido,
o São João está perdido
dentro da programação
porque nessa multidão
a canção me desmotiva.
É preciso manter viva
toda a nossa tradição.
Sou o cabra do oxente,
sou matuto sertanejo,
como a carne com desejo
do feijão do caldo quente,
tomo dose de aguardente,
me escorando no chão,
acalmando o coração
numa sombra assertiva.
É preciso manter viva
toda a nossa tradição.
Numa casa nordestina
tem rede pra balançar,
mortadela para assar
no tacho de margarina,
comer com farinha fina
ou num pedaço de pão,
no francês ou bolachão
que chega junta saliva.
É preciso manter viva
toda a nossa tradição.
Quando tinha minha avó
com seu cabelo grisalho,
se enrolando no retalho
ou jogando um dominó
nunca ela me deixou só
ou tratou sem compaixão
o meu pobre coração
que tem saudade aflitiva.
É preciso manter viva
toda a nossa tradição.
Nordestino é a candeia
que alumia uma peleja,
é a sombra sertaneja
que um perdido norteia,
é cabra que se aperreia
quando tem a escuridão,
mas demonstra sua ação
na coragem coletiva.
É preciso manter viva
toda a nossa tradição.
Lembro de antigamente
quando eu ficava na porta
amassando folha morta
ouvindo história de gente
tudo era tão diferente,
não tinha preocupação,
com bandido, assombração
ou tormenta agressiva.
É preciso manter viva
toda a nossa tradição.
E quando completo ano
lembro de minha vizinha,
que um bolo com bolinha
reservou para o fulano,
dura feito mesmo cano,
que tira a restauração
e arranja confusão
com o dente e a gengiva.
É preciso manter viva
toda a nossa tradição
A feira semanalmente
tem de tudo o variado,
tem bascui falsificado
que o povo dá de presente,
vende lá bebida quente
ou conhaque de alcatrão,
tem também na estação
uma grande comitiva.
É preciso manter viva
toda a nossa tradição.
Banca de caldo de cana,
vende também candeeiro,
vende sebo de carneiro
ou pé de cana caiana,
tem a loja americana,
repleta de promoção,
tem muita declamação
de história interativa.
É preciso manter viva
toda a nossa tradição.
Minha alma é animada,
meu desejo é arretado
gosto de ver o reisado
do pé da minha calçada,
gosto de uma batucada,
gosto de uma emoção
tenho comemoração
em muita festa expressiva.
É preciso manter viva
toda a nossa tradição.
Eu gosto de preservar
quem vende o artesanato,
tenho até porta retrato
que ainda falta completar,
para onde fui viajar
comprei coisa de montão,
para mim e meu irmão,
essa arte é expansiva.
É preciso manter viva
toda a nossa tradição.
Preserve a agricultura
que garante num roçado
o alimento transportado
para dar sua fartura,
você compra na quentura
sem saber da produção,
ou mesmo da plantação
considerada extensiva.
É preciso manter viva
toda a nossa tradição.
Sou o pobre nordestino
que busca a felicidade,
mas ela está na verdade
numa curva do destino
sou João, mais um menino
que guarda no coração
o orgulho do sertão
de uma forma positiva.
É preciso manter viva
toda a nossa tradição.
É tanta coisa firmada
em nosso cotidiano,
como eu sou um humano
vou fazer uma parada,
para dar uma pensada
e ganhar inspiração
para trazer pro irmão
um folheto construído
que possa ser promovido
dentro dessa tradição.
União dos Palmares - Alagoas
23.12.2024