O causo do peru

Numa rua emaranhada

nos idos lá de setenta,

um valente embriagado 

que fugiu duma jumenta

fez sofrer um animal 

de uma forma violenta.

 

Foi na casa barulhenta 

onde mora a Joaquina 

que se deu um labafero 

quando a Dona Menina

viu o peru assustado 

em um pé de tangerina.

 

Deixou de lado a faxina,

desligou sua torneira 

quando viu direito a cena

do pedaço de madeira

no traseiro do coitado,

correndo sem brincadeira.

 

Na empena da ladeira

seu irmão desacordado,

vomitava da cachaça 

que no bar tinha tomado,

e por causa da bebida 

o peru foi machucado.

 

Meu avô inconformado 

com a maldade daquela,

pegou debaixo da pia

o cinturão com fivela 

e deu uma pisa no filho

que quebrou sua costela.

 

O filho pendeu na sela

chorava que deu tontura,

a chibata foi tão grande

que caiu a dentadura

do velho que demonstrou 

num instante a bravura.

 

Porém naquela altura

o peru enfraqueceu,

duas horas de tormento 

só depois que faleceu,

com o fiofó lascado

do fato que aconteceu.

 

O coitado que cresceu 

correndo pelo quintal,

foi pra dentro da panela

antes mesmo do natal

e o velho Sebastião 

pegou ar que passou mal.

 

E a carne do animal

em parte foi separada,

uma leva foi no molho

e a outra foi assada

num fogareiro de lenha

na casa de uma cunhada.

 

E na semana acabada,

cheia de preocupação 

Joaquina foi pra feira

e comprou no mercadão 

outro peru já grandinho 

e levou pra criação.

 

Mas prestou foi atenção 

e fez um traço de massa,

um poleiro reforçado 

com comida já de graça

para não ter ao peru

algum tipo de ameaça.

 

Ele largou a cachaça 

para evitar a sarjeta,

e quando sente o cheiro 

arma logo uma careta,

e fica marcando o dia

com a ponta da caneta.

 

União dos Palmares - Alagoas 

21.12.2024

João Pedro Vitorino
Enviado por João Pedro Vitorino em 21/12/2024
Reeditado em 21/12/2024
Código do texto: T8224396
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