O pote e a rodilha

Eu agora dou um mote

Para quem quiser rimar

É da rodilha e do pote

Que precisamos falar

É sentido figurado

Já podemos começar.

Sei que a peleja do mote

É uma disputa a dois

Se queres saber quem sou

Eu quero saber quem sois

Pra não fazer intriga

E não começar uma briga

Eu vendo apenas um boi

Mas agora bem depois

Com a confusão feita

Para não sofrer desfeita

Vendo uma boiada toda

E se a coisa virar moda

Para não sair da roda

E responder a este mote

No meio da ingresia

“Quem não pode com o pote

Não deve pegar a “rudia”

O certo é cantar em dois

Mas parceiro eu não tenho

E com todo meu empenho

Vou ter que rimar sozinho

Só me faltou a viola

Que o povo chama de pinho

Fico devendo a rima

Do pote e da rodilha

Mas para ser sincero

Faço do verso o que quero

Cada um faz o que pode

Por amor ou por quizília

“Quem não pode com o pote

Pra quê pegar a rodilha”

Pode dizer que sou feio

Pobre ou rico, não importa

Mas não me bote no meio

De uma pessoa torta

E se falar de minha família

Está criada a quizilia

“Quem não pode com o pote

Não deve pegar a rodilha”

Eu digo isso e sou franco

Se em sua casa eu entrar

Não me mande sentar em banco

Porque não vou me sentar

Ele é feito em forquilha

Que me fere a virilha

E pode me enforcar

Pra mim não é nenhum dote

“Quem não pode com o pote

Não deve pegar a rodilha”.

O banco que conheci

Eu não posso aceitar

Mesmo vindo de um ancestral

Ele tem sopro mistral

Que arrasa o pobre

Ainda que de origem nobre

E embora história tenha

Me permita, data vênia

Ele só serve pra lenha

Para no fogo queimar

Não vale uma lentilha

“Quem não pode com o pote

Não deve pegar a rodilha”

É herança de muitos anos

De muito tempo datado

E salvo qualquer engano

Só serve para cigano

Que uma pátria não tem

Por mim fica aposentado

Não por prêmio

Mas castigo

Prefiro um inimigo

A ter este banco aliado

Onde eu compro à vista

Também compro fiado

Não o quero vendido

Nem dado nem emprestado

Pra mim não vale uma presilha

Nem vale um verso do mote

“Quem não pode com o pote

Não deve pegar a rodilha”

O tempo é senhor de tudo

E só o tempo dirá

Quando pegar o martelo

E começar galopar

Se o martelo é galopante

Quem é que vai martelar

Se eu passei a mensagem

Ou apenas fiz miragem

Pro martelo galopar

Se dei uma volta de milha

“Quem não pode com o pote

Pra quê pegar a rodilha”

“ O tempo tem tanto tempo

Quanto tempo o tempo tem”

Quem não tem dinheiro no mundo

Não vale nenhum vintém

“No céu vale quem merece

Na terra vale quem tem”

E para encerrar esta trilha

Te falo porque sou franco

Essa história de banco

Que não me deu muita sorte

Pego a marcha e deixo o xote

E dou uma volta de milha

“Quem não pode com o pote

Não deve pegar a rodilha”.

LIMA,Adalberto Antônio de. SILVA, Francisco de Assis Lima Diassis. No Brasil nosso de cada dia, nem todos têm sua fatia.