Cachimbar
Agora mudo a rima
Pego o verso e deixo a prosa
Para falar de uma vida
Que não foi um mar de rosa
Já falei de caminhão
Da terra, do céu e do limbo
Mas pra falar do cachimbo
Preciso de inspiração.
Enquanto a inspiração me vem
Não estou querendo enrolar
É que a história do cachimbo
Conjuga o cachimbar
Que traz no bojo um sentido
O cachimbo é o apelido
Daquele cheiro ardido
Do cachimbo a cachimbar
É para desopilar
Que vou agora contar
Um caso que ouvi dizer
Se não aconteceu com você
Um dia acontecerá.
Se você não rir agora
Na certa, um dia rirá.
Dizem que a mulher
Só tem uma serventia:
fazer falta de noite
e fazer raiva de dia.
Veja pois o verso do velho
Que foi trabalhar noutro Estado
Estava ele empregado
Mas se viu sem companhia.
O autor é desconhecido
Por isso não sei seu nome
Só sei que ele comia
Mas a “estrovenga” tinha fome
E escreveu pra mulher
Que se bem interpretado
Ele mandou um recado
Entenda bem que puder.
“Deixei o cabelo crescer
E também o meu bigode
Da imagem a gente pode
Fazer um novo retrato
Mas ao cabo do cachimbo
Não pude dar um bom trato
Digo isso a versejar
Pois aí não vou agora
E quanto mais me demora
Ter a sua companhia
“A me fazer falta de noite
E fazer raiva de dia”
Sei que você está sofrendo
Com o cachimbo sem cabo
E eu com o cabo do cachimbo
Para lhe botar o cabo
Guarde bem seu cachimbo
Que quando eu for boto o cabo.
Ainda estamos em abril
E não sei quando voltar
Com o cabo do cachimbo
Para o cachimbo encabar
Mantenha o cachimbo aceso
Não deixe o fogo apagar
Aqui termina a história
Do velho que se empregou
Lá no porto de “Galinha”
Que em Recife encontrou
Há sempre na serra um monte
Em cada rio, uma ponte
E eu já encontrei a minha
Para o céu ou para o limbo
Mas onde quer que vá
Quero ir com meu cachimbo
Não sei se o velho voltou
Ou se a velha já é morta
“Mas o hábito do cachimbo
É que deixa a boca torta”
Quem conhece o cachimbar
Jamais larga seu cachimbo
Se é um céu ou o limbo
Pra velha usar o cachimbo
Era preciso casar.
A metáfora do cachimbo
Que o velho escreveu
Agora está registrada...
Sei que você entendeu
Que por mais que se defronte
A mulher é companheira
Pra fazer raiva de dia
E falta a noite inteira.
Quem não conhece essa estrada
Na certa não percebeu
Que a brasa do cachimbo
Que o fogo acendeu
Não se apaga com água
Mas com um pote de mágoa
Isso você entendeu.
LIMA, Adalberto Antônio de. SILVA, Francisco de Assis Lima Diassis. No Brasil nosso de cada dia, nem todos têm sua fatia.