CHICO REI, ZUMBI DOS PALMARES
Nas lembranças que carrego
Eu vou contar sem rodeio
Chico, Zumbi dos Palmares
Dois Franciscos no ponteio
Os heróis do nosso povo
Nas leituras do meu seio.
Chico Rei, vindo de longe
Do Congo foi escravizado
Mas com fé e resistência
Deixou o peito marcado
Ergueu-se em Ouro Preto
De um rei nunca foi roubado.
Comprou a própria alforria
E dos seus irmãos também
Fez da mina sua força
Lá no tempo do vintém
Na cultura é referência
Falar dele nos convém.
Já Zumbi é resistência
Nos Palmares se criou
Liderou o povo negro
O Quilombo ele formou
Com coragem e esperança
Contra a opressão lutou.
No teatro já cantamos
Essa história tão pungente
Com o Circo Sem Pano
De forma viva e presente
Zumbi vive no palco
Inspirando muita gente.
Nas cenas do meu teatro
Tantas vezes já encenei
Com paixão pela cultura
Nessas vozes que plantei
Nos palcos da Paraíba
Meus versos eu publiquei.
No Quilombo dos Palmares
Um refúgio ele fez
Para negros, índios, pobres
Que o sistema desfez
Ali a liberdade
Com bravura teve vez.
Mas um traidor, covarde
Entregou Zumbi aos vilões
Queimaram sua memória
Com torturas e prisões
Foi Domingos Jorge Velho
A máquina das opressões.
Essa brava tão coragem
Jamais será apagada
No novembro que se ergue
Consciência é lembrada
O seu nome é a chama
Que mantém nossa jornada.
Chico Rei e Zumbi juntos
Formaram bilhões de vozes
Na cultura brasileira
Voaram como albatrozes
Dois reis que nos ensinaram
A lutar contra os algozes.
Hoje o Circo Sem Pano
Vem publicar seu cordel
Esses dois grandes heróis
Que já formam meu plantel
Sua luta é nossa força
No fluir do menestrel.
Zumbi foi força e guerra
Chico, rei da liberdade
Dois pilares da história
Símbolos da identidade
A cultura e a memória
São armas da humanidade.
O Quilombo foi um sonho
De justiça e proteção
Mas a luta continua
Dentro do nosso coração
Chico e Zumbi nos guiam
Rumo à transformação.
Em João Pessoa cantamos
Os efeitos dos valores
Com o Circo Sem Pano
Somos todos lutadores
Zumbi vive em nossa arte
É memória dos amores.
Nosso cordel se encerra
Com devoção e respeito
Zumbi e Chico são luzes
Heróis com muito direito
Que sua luta inspire sempre
Na arte causa e efeito.
No Brasil, terra sofrida
No labor desses escravos
Contra todo opressor
Ergueu-se a voz dos bravos
Zumbi com o Chico Rei
Lutaram contra os depravos.
Chico Rei chegou em prantos
De África ele partiu
Nas correntes da maldade
Seu destino aqui se uniu
Mas com garra e resistência
A esperança ele construiu.
Foi vendido como escravo
Nos campos a trabalhar
Mas guardava em sua alma
Um desejo de reinar
E com fé em sua força
Ele foi se libertar.
Na cidade nordestina
Ter liberdade propôs
Com suor e inteligência
Tantas defesas compôs
Ergueu igreja e cultura
E na luta se dispôs.
Zumbi, filho dos Palmares
Nos quilombos foi crescer
Desde cedo, o que aprendia
Era nunca se render
Pois sabia que na luta
O povo podia vencer.
Os quilombos eram lar
De quem fugia da dor
Negros, índios e mestiços
Unidos pelo amor
Zumbi era o grande líder
Um herói libertador.
Mas os homens do sistema
Com ódio e sem razão
Planejaram destruir
O sonho da união
Com traição e violência
Abateram a nação.
Um traidor se levantou
Palmares foi sucumbido
Domingos Jorge Velho
Com tropas foi temido
Destruiu o grande sonho
Deixou Zumbi despido.
Mas nem mesmo a sua morte
Não apagou o sonho
A coragem de Zumbi
Deixou o poder bisonho
E sua luta por justiça
Foi muito mais que medonho.
Chico Rei foi exemplo,
De superação e fé
Transformou sua tristeza
Em vitórias com axé
Libertou os seus irmãos
Com a força que só ele é.
Zumbi vive na cultura
Na história e no teatro
Como Bento Júnior conta
Com amor no seu retrato
Cada cena, cada verso
É memória em bom formato.
O Circo Sem Pano traz
Esse legado à lembrança
Com suas cores vibrantes
Espalha a esperança
Na luta de Zumbi e Chico
Vive a nossa confiança.
O novembro é mês de luta
É mês de conscientizar
O Dia da Consciência
Vem se confraternizar
O legado de Zumbi
Vamos todos eternizar.
Cada negro que resiste
É Zumbi em sua essência
Cada luta por justiça
Faz de Zumbi consciência
No sangue da liberdade
Está nossa resistência.
Chico Rei, com sua história
Inspirou gerações
Ouro Preto hoje o guarda
Em suas tradições
É um rei que nos ensina
A buscar reparações.
E o Quilombo dos Palmares
Foi mais que uma utopia
Era um sonho de justiça
Um futuro que surgia
Hoje vive em nossas lutas
Na força de cada dia.
Bento Júnior no teatro
Traz a história pra cena
Mostra Zumbi e Chico Rei
Com coragem tão plena
Cada fala nos inspira
A superar toda pena.
João Pessoa se encheu
Com a arte e a emoção
O Circo Sem Pano trouxe
Essas vozes da nação
No palco, a luta negra
Ecoa em cada canção.
Chico Rei e Zumbi vivem
Na memória e na cultura
São heróis da resistência
Da coragem que perdura
Sua luta é um farol
Pra enfrentar a amargura.
No teatro ou no cordel
Na dança ou na poesia
Cada passo que damos
Carrega sua energia
São símbolos de justiça
Liberdade e valentia.
Esse cordel é um brado
Duma gratidão sensível
Por Zumbi e Chico Rei
A luta foi invencível
Heróis que nos inspiraram
A lutar pelo impossível.
Que as crianças aprendam
E na cabeça desate o nó
Que os nomes de nossos reis
Entre todos pelo pó
E que a luta de Zumbi
Nunca seja um eco só.
O Brasil é tão diverso
E deles veio a lição:
- Que só com a liberdade
Se constrói uma nação
Zumbi e Chico nos mostram
A força da união!
E assim chega o final
Desse cordel de verdade
Que honra nossos heróis
Símbolos da igualdade
Zumbi e Chico Rei vivem
No coração da cidade.
Que nunca se apague a chama
Da história que não termino
Chico Rei e Zumbi lutam
Pelo povo clandestino
São reis da nossa cultura
Pregando nosso destino.
FIM
João Pessoa-PB, 05 de maio de 1993.