OS OLHOS VERDES DE JUREMA

Na Barra de Mamanguape

Terra de mar e magia

Vive a Jurema querida

Cheia de sabedoria

Oitenta anos de história

Um baú de poesia.

Nascida em Rio Tinto

Num lar simples de valor

Seu olhar verde nos encanta

No sol de pleno calor

Sua vida tem mistérios

Que traz a força da flor.

Com a saia rodopiando

Na dança coco de roda

Jurema mostra o talento

Num figurino sem moda

Na ciranda ou no batuque

Seu espírito se transborda.

Cirandeira de primeira

Sua voz é um fermento

Desses causos que encantam

Quem sabe de sentimento

O seu cantar move mares

Faz pulsar todo rebento.

Ela conta causos antigos

De pescadores e penas

Sobreviventes dos mangues

E dessas águas serenas

Com seu jeito de rainha

Sabe criar suas cenas.

Com o verde dos seus olhos

Faz viver suas memórias

Onde a luta e a alegria

São fartas dedicatórias

Sua vida é poesia

Uma trilha das histórias.

As crianças da vila ouvem

Suas palavras com gosto

Cada conto tem lição

Retradas naquele rosto

Jurema é professora

Do saber mais bem composto.

Dançando em noites de lua

Faz a areia virá pó

O tambor toca na fé

Ninguém pode ficar só

Seu canto ecoa na praia

Faz o vendo dá o nó.

Com a maré como amiga

E o mangue como abrigo

Jurema sabe o segredo

Que guarda cada perigo

Na vida e na natureza

Ela encontra um amigo.

Na festa dos navegantes

É a rainha da procissão

Com a fita no cabelo

Ela atrai a multidão

Todos querem ver de perto

Sua fé e devoção.

Coco de roda e ciranda

Inspiração tem Jurema

Ensinou a tanta gente

A viver sem ter dilema

E quem cruza seu caminho

Quer logo fazer cinema.

Foi parteira e rezadeira

Cuidou de muita gente

Sabe o chá, sabe a benção

Com saber que é reluzente

Seu dom é curar com alma

E com a fé mais presente.

Com seu sorriso tão largo

Ela acolhe quem chegar

Jurema é porta aberta

É abrigo pra se ficar

Na sua casa modesta

Há sempre um café pra passar.

No manguezal, ela ensina

A respeitar a riqueza

O que a terra nos dá

Não devolvemos com dureza

Preservar é um ato puro

De quem vive com clareza.

Os jovens que hoje a ouvem

Se encantam com sua fala

Jurema é ponte e raiz

É história que se instala

Cada verso que recita

É um tempo que não se cala.

Seus olhos verdes escuros

Carregam um mar profundo

Neles há força e doçura

Sabedoria do mundo

Quem olha Jurema entende

Seu olhar é fecundo.

Na Barra de Mamanguape

Quando o sol começa a cair

Jurema junta as amigas

E a roda faz existir

Cantam até o nascer

Da lua que vem luzir.

Os tambores batem forte

O chão todo se treme

Na palma e no pé batido

A Jurema nunca geme

O povo se une em festa

Depois na dança se espreme.

Os moradores confirmam

-Jurema é nossa rainha!

Com a rede ou com a história

Ela conta a ladainha

Quem a vê por aqui sabe

Sua luz nunca definha.

Nas festas de fim de ano

A vila inteira aparece

O coco de roda explode

A ciranda não arrefece

Jurema, com seus 80

Mostra que o corpo obedece.

É ela quem faz a frente

No artesanato da vila

Com palha e com talento

Pra comprar fazem fila

Artista desenha gente

Que desponta a pupila.

Já foi capa de jornal

Já saiu nos telejornais

Mas prefere sua Barra

Dos seres sensacionais

Fama não compra a alegria

Nesses campos naturais.

Quem já ouviu suas histórias

Leva um pedaço dela

São contos de outros tempos

De vida que se revela

No eco de sua voz

A memória é uma janela.

Jurema é dona do tempo

Sabe o hoje e o amanhã

Semeia em cada palavra

Uma força que é irmã

Na Barra, ela defende

O cantar da jaçanã.

Na festa da padroeira

É sempre a mais esperada

Seu sorriso é presente

Sua dança, consagrada

Na ciranda ou no coco

Ela é sempre a mais cantada.

Os turistas que visitam

Ficam depressa felizes

Com sua voz tão potente

Atendem os aprendizes

Jurema é o Cartão-Postal

Das cores e suas matrizes.

A cultura é sua marca

O seu maior legado

Do mangue ao samba de coco

Cada passo é encantado

Com Jurema à frente

O saber é resguardado.

E assim segue a Jurema

Com verdes olhos na face

No corpo tem saúde

No mastigar da alface

Sua dança é resistência

Pedimos que nós abrace.

Na Barra de Mamanguape

O sol brilha diferente

Porque Jurema é estrela

De um povo forte e valente

Sua presença é um marco

É chama que aquece a gente.

Seu nome será lembrado

Por muita geração

Jurema é símbolo vivo

De cultura e tradição

Um exemplo que floresce

Na força do coração.

Quem passar por essas bandas

Apronte a parada, fique

Os olhos verdes de Jurema

Dos povos de Moçambique

No seu olhar há um mundo

Que deixa a vida num pique.

E assim, chego no fim

Desta história singular

Jurema é raiz profunda

É canto bem popular

Na Barra e em toda parte

Sua voz vai cantarolar.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 17/11/2024
Reeditado em 17/11/2024
Código do texto: T8198510
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