Vozes do meu passado

Em minha história de vida, incompleta eu sei

A voz paterna masculina, nunca encontrei.

Mesmo criança de olhar solitário, o abraço fraterno

O coração de um pai terno,

Cuja a voz de trovão, entoando canção

Não tive a benção , em meu coração!

Cresci no desconhecido, trabalhar foi preciso

Com as cambadas de peixe, fiz dele abrigo.

O olhar carinho, tão ternos abraços

A voz rancorosa, do bruto padrasto

Foi a força que tenho, a coragem erguida

Vida seca, amarga e triste, mas a luta vencida!

Cresci incompleto, brincando no chão

Não tive brinquedos,forjei armas na mão.

Busquei uma estrada, um novo caminho

Novas vozes amiga, um novo destino.

E assim fui em frente, para um outro horizonte

Busquei nova vida, sem olhar para o ontem.

Chegou o tempo de escola, um pobre coitado

Caderno de folhas rasgadas, bem mal costurado.

De camiseta amarela, sandália havaiana

Olhar de deboche, sorriso, engana.

Com lágrimas nos olhos, um futuro na mente

Não me entreguei a tristeza, lutei, fui persistente.

Não cruzei os meus braços, não temi o cansaço

Labutei noite e dia, a doce alegria, chegou em meus braços.

Um trabalho sofrido, a lida diária, baixo salário

A oportunidade agarrei, me tornei operário.

Horas de trabalho pesado, corpo dolorido

A vontade de vencer, de buscar, o que se havia perdido!

Terminei o ensino, na escola correta

Oito anos de busca, o patrono, um poeta

Da escola Romântica, Antônio Gonçalves Dias

Foi aonde estudei, na aurora dos dias.

Fui aluno aplicado, dias difíceis, peito em dor,

Perdi a infância, mas encontrei meu valor!

Minha mãe lutadora, de amarras na mão

Não me deu um só lápis, mas o seu coração.

Não a culpei foi a luta, dizia: dessa labuta que hoje encontrei

Amanhã, outro dia, dela nos libertarei.

Foram noite de sono, mãos calejadas, caráter forjado

E nas horas de pranto, não me vitimei de coitado.

Porque acredito, a vida é bela, mas o futuro é distante

Se braços cruzados ficares, o sofrimento é constante.

Então, ergui a cabeça, fui ser peregrino,

Homem de responsabilidade, cresceu o menino.

Não olhei pro passado, ainda marcado

Nas lutas da vida, no rosto sofrido.

Em cada vitória, que na vida encontrei

Uma lágrima oculta, sim, derramei.

Lembrando das vozes, que para mim se calaram

Cantei pra mim mesmo, as tristezas passaram.

Contemplei horizonte, uma luz , novo dia

Em pedagogia, em sete anos me formei!

A vida me reservou altos e baixos, um degrau bem maior

Derrubei as muralhas da vida, pois Deus é maior.

Contra todos e tudo eu passei no concurso

Enxuguei as últimas lágrimas, firmei o meu pulso.

Trinta e um anos passaram, olhando pra traś

Obrigado Deus, foste pra mim bom demais!

As marcas da vida, e as vozes do passado

Não me ferem agora, está tudo sarado.

História incompleta, perdão liberado

Nunca me dei por coitado.

E as dores sentida, não pararam a mente,

E para as vozes que se calaram, eu segui em frente.

Hoje, no crepúsculos dos anos, cinquenta e um anos

Quem não acreditou na vitória, cometeu triste engano.

Pois um menino esquio, de olhar penetrante

Não desistiu na batalha, foi em frente, constante.

Encontrei preciosa, a rara Safira, mais do que ouro

E Dienne, o amor, o meu mais rico tesouro!