SEBASTIÃO DO CHOCALHO
Onde o sol é inclemente
No sertão seco e afamado
Surgiu um homem valente
Cangaceiro destemido e jurado
Era Sebastião do Chocalho
Com coragem no peito armado.
Pelo som que sempre fazia
Seu nome, bem falado e ouvido
Quando as veredas seguia
Com seu chocalho no batido
Foi Padim Ciço quem lhe deu
Esse título aguerrido.
Mariquinha em seu viver
Homem de garra e respeito
Conhecido por onde passava
Era casado e direito
Ela era sua companheira
Seu amor, seu leito.
Mas seu peito teve um ferido
Pois Anastácia, bela mulher
Foi a paixão que um dia quer
Mas deixou seu amor perdido
Pois sem aviso se foi
Sebastião ficou iludido.
Anastácia era arisca e ligeira
Cangaceira de faca na mão
Tinha no peito decisão
Mas não era companheira
Deixou Sebastião em pedaços
Na mais profunda poeira.
Com Mariquinha, fiel e amada
Ele seguiu a vida dura
Em cada batalha, sem censura
Ela estava ao seu lado, encantada
Era mulher de fibra e bravura
Sempre a lhe dar uma jornada.
No bando do cangaço ele seguiu
Com coragem e destemor
E logo achou um grande valor
Em Caga Sibito, amigo que o viu
Juntos, faziam o sertão estremecer
Cada vereda por onde partiu.
Era o rei das emboscadas
Sebastião não tinha medo
Seu chocalho era segredo
Nas noites mal-assombradas
O sertão conhecia seu barulho
Nas quebradas, ele marcava pegadas.
A fama foi crescendo ligeira
Sebastião do Chocalho era falado
Por cada vila era procurado
Sua valentia verdadeira
Mas também tinha coração
Mariquinha era sua primeira.
Anastácia virou uma sombra
Mas Sebastião nunca esqueceu
Era como ferida que doeu
Chaga que não se dobra
Apesar do amor por Mariquinha
Anastácia, ele sempre lembrava.
Padim Ciço do Juazeiro
Em pessoa, lhe deu a benção
Pra que ele seguisse na missão
Com destino cangaceiro
Com o som do chocalho no peito
Ele ecoava no mundo inteiro.
Sebastião e Caga Sibito
Juntos, eram como irmãos
Partilhavam armas e grãos
E o sertão no grito
Na amizade encontraram abrigo
Na vida dura do conflito.
Mariquinha era a fortaleza
Sempre a esperar Sebastião
Era o alívio e a razão
De sua coragem e destreza
Cada ida, ele lhe prometia
Sempre voltar com certeza.
Mas o destino não é amigo
Nem de quem ousa desafiar
Sebastião iria enfrentar
Uma emboscada de perigo
Na espreita, o aço inimigo
Para seu fim, estava a gritar.
Era noite de lua cheia
O chocalho soava profundo
Sebastião vagava pelo mundo
Sem saber da teia
Seu caminho estava marcado
Nessa vida cangaceira e feia.
Mariquinha em casa rezava
Pedindo a Deus proteção
Pois sentia no coração
Que algo ruim se armava
O vento, nos cantos do sertão
Parecia o nome dele chamar.
Na espreita estava o jagunço
Com o olhar feroz e frio
Esperando o instante sombrio
Pra atirar com jeito e impulso
Sebastião caminhava seguro
Sem saber do corte brusco.
Caga Sibito ao lado ia
Sentia também a ameaça
A força do tiro feria
Morte que passa enlaça
Sebastião tombava no chão
Não há quem amor lhe faça.
No silêncio, o chocalho ecoava,
Era como despedida de dor
A despedida de um grande amor
A alma no vento passava
Sebastião do Chocalho caía
Seu som, nas pedras, ficava.
Mariquinha, em pranto, o velou,
O corpo do marido amado,
Que no sertão havia lutado,
Por fim ao descanso chegou.
O chocalho guardou como lembrança,
Do homem que seu coração cativou.
21.
O sertão perdeu sua lenda,
Mas a memória ficou guardada.
Sebastião, de vida marcada,
Por coragem e ordem de renda.
Agora, na história é lembrado,
Do Juazeiro à vereda estendida.
22.
Padim Ciço, de longe sentiu,
No silêncio, o adeus dado,
E ao santo ele rezou calado,
Por Sebastião que partiu.
Em Juazeiro, o nome ecoou,
A alma de Sebastião ele sentiu.
23.
Caga Sibito ficou em pranto
O amigo perdido no chão
Lembranças no coração
No sertão, ainda encanto
A amizade ali tombada
Na poeira e no canto.
Sebastião, o chocalheiro
Na história ficou escrito
Homem de riso e grito
Amigo, amante e guerreiro
No sertão, seu nome ecoa
Com bravura e pranto inteiro.
Anastácia, ao longe soube
Do fim de Sebastião amado
Lembrança que não se guarda
A dor em peito fechado
No silêncio, chorou um pouco
Com coração quase quebrado.
O sertão tinha sua lenda
O homem com o som no peito
E o nome forte e perfeito
Que a todos sempre atenda
Sebastião do Chocalho, o bravo
Cangaceiro que o sertão entenda.
Padim Ciço do Juazeiro
Com orações abençoou
O destino que o levava
Ao descanso verdadeiro
O chocalho agora silente
Na história sertaneja pairava.
Mariquinha guardava lembrança
De um amor que era seu
O sertão que o acolheu
Como sua eterna herança
No som do chocalho perdido
Ela encontrou esperança.
As vilas por onde andou
Lembram o destemido homem
Que a poeira nunca some
Seu nome o sertão guardou
Sebastião do Chocalho, herói
Em cada vento ele ficou.
Os sertanejos ainda contam
As histórias de bravura
De seu amor e loucura
Em cada estrada e montanha
O chocalho perdido no vento
Era a saudade que encanta.
E assim a lenda perdura
No sertão seco e encantado
O destino do bravo e amado
Que a todos tanto segura
Sebastião do Chocalho vive
Na história, o herói é louvado.
O som do chocalho ecoa
Nas noites do sertão calado
Como um lamento guardado
Que ninguém mais perdoa
Sebastião do Chocalho descansa
Sua lenda ao mundo ressoa.
FIM
João Pessoa-PB, 09 de outubro de 2024.