A REVOLUÇÃO DOS BOIS
Vou dizer pro meu leitor
uma estória interessante,
que aconteceu há tempos
e parece ser tocante,
numa fazenda de gado
houve coisa intrigante.
O finado era fumante
morreu com mal de pulmão,
sepultado numa cova
com sete palmos de chão
para quebrar a madeira
de luxo do seu caixão.
Preparou de antemão
um formoso testamento,
deixando casa, fazenda,
dinheiro em investimento,
inclusive o matadouro
para o sobrinho sargento.
Na leitura, de momento
houve grande discussão,
mas parou porque a mãe
que tinha hipertensão
teve um ataque maldito
e caiu morta no chão.
Depois dessa agitação,
alguns anos para frente
a família foi embora
e deixou para o parente
tudo que tinha na casa,
nada ficou diferente.
O sobrinho chamou gente
para quebrar a fazenda,
fazendo construção velha
e fez casa de emenda,
o que sobrou de entulho
ele colocou à venda.
E afirmou na legenda
que já tinha pretensão
de abater todo o gado
para fazer promoção,
em sua churrascaria
durante a inauguração.
Foi durante a oração
que fazia na capela,
que ouviu uma zuada
passando pela janela
e a sombra do curral
com forte luz amarela.
Segurou na mão a vela,
passando na capoeira
viu que na cerca bem feita
tinha bastante poeira,
engatilhou o revólver
e foi descer pela ladeira.
Enganchado na touceira,
sentiu um gado chegar
que ficou olhando ele e
quando pôde se virar
escutou o boi malhado
soltando a voz pra falar.
“Atenção pode prestar
no que vou te avisando,
fiquei sabendo outrora
que você tá planejando
fazer noite de churrasco
e nossa vida passando”.
Ele ficou escutando
quando foi olhar de lado,
viu que toda a plantação
estava cheia de gado,
e clamou por proteção
porque estava lascado.
Acabou arremessado
pela cerca de madeira,
lascou a cara no mato,
engoliu muita sujeira
e encheu a sua roupa
de palha de bananeira.
O boi vinha na carreira
disposto para acabar
com a vida do coitado
que só sabia rezar,
não sabia que aquilo
estava para acabar.
Quando começou chorar,
sabia também correr,
via a luz na sua frente
e pensou que ia morrer,
Deus estava esperando
a hora pra socorrer.
E passou a se perder
no caminho já escuro,
só lembra de ter pulado
a fazenda pelo muro
e caído num lugar
que estava muito duro.
Tinha medo do futuro
quando pôde enxergar,
que aquela aventura
foi na hora de sonhar,
levantou do aposento
e foi na cozinha andar.
Parando para olhar
puxou a velha cortina,
e avistou no horizonte
uma cabeça bovina
que começou a correr
para a casa de esquina.
Pois pegou a carabina
para o boi assassinar,
mas na hora do disparo
viu a bala atravessar
pela gordura do gado
que correu para assustar.
Não parou para pensar
arrumou uma maleta,
colocou a veste dentro
e pegou sua caneta,
correndo feito menino
perdido numa sarjeta.
Vinha dando pirueta
totalmente assustado,
morria com medo disso
ou dum ataque do gado,
mas acabou se lascando
e caiu desacordado.
Acordou já internado
na cama do hospital,
na hora de tirar sangue
se sentindo meio mal
viu que sua enfermeira
tinha o corpo do animal.
Com o fato acidental
ele abriu uma careta,
vendo que corria sangue
numa velha ampulheta
ele deu um grito alto:
se dane com o capeta.
Sua esposa, Violeta
com muita pena ficou,
daquele dia pra cá
o coitado endoidou
e num grande manicômio
o doente se internou.
União dos Palmares - Alagoas
13/11/2024