Pot-pourrir
Foi num domingo no parque
Na Praça Gilberto Gil
Que lá se armou um furdunço
Que aqui chamamos barril
Tudo só pelo ciúme
Que transforma o bom em vil.
Estava à toa na vida
O meu amor esperando
Pra ver a banda passar
Só vendo a vida passando
E quando isso aconteceu
Vi Rosa triste chorando.
Começou questionar Deus
Mas preferiu ficar só
Disse Rosa a lamentar
-Eu só quero o meu xodó
Mas João estava morto
Mortinho que dava dó.
Gritou bem desesperada:
-Jesus Cristo, Jesus Cristo
Jesus Cristo, estou aqui
Nesse instante o que é previsto
Jesus Cristo não lhe ouviu
Então lembrou de Evaristo.
Sua paixão mais antiga
Trouxe-lhe a consolação
Porque nessa hora é o amor
Que ameniza o coração
Faça sol ou faça frio
Só no amor há redenção.
Hoje nesse dia triste
Que nem livro deu pra ler
A manga rosa secou
Ao vê o espinho vencer
Só a rosa de Hiroshima
Provocou maior sofrer.
Tudo passa e passará
Quando perde um grande amor
Um desses que sei que se ama
Enquanto dura o calor
Fazendo esquentar o sangue
No corpo causa tremor.
Hoje na mesa de um bar
Resta chamar o garçom
Meu bom amigo se achegue
Traga Vinícius e Tom
Só não quero ouvir sofrência
Quero mesmo é samba bom.
Vamos cantar e cantar
Não quero choro nem vela
Manobrista pegue a chave
Leve a Brasília amarela
Não pare na contramão
E nem deixe na banguela.
Meu querido e caro amigo
Eu vou pra Maracangalha
Só espero o trem das onze
Põe saideira que calha
Porque como filho único
Enfrento dura batalha.
Como bêbado e equilibrista
Sempre sei que vou amar
Todos prazeres da vida
Vou sofrer e vou cantar
Cantando igual passarinho
Deixo a vida me levar.
Salvador, 12/11/24,