Homenagem às Marias Professoras
Mora aqui em nossa rua
A Professora Maria
Não se chama assim por graça
Nem surgiu assim de pia
Mas se interessa saber
Vou levar a conhecer
Através da poesia.
É que aqui nesse Nordeste
Já é bem peculiar
Desde que se use saia
Por Maria se chamar
Tanto faz religião
Com ou sem transformação
É a sina do lugar
Ah, Maria de quem falo
Cabe um ponto destacar
Se um dia foi com as outras
Hoje resolveu mudar
Porque sua consciência
Saboreia a sapiência
Do povo do seu lugar.
Quando ela era moça
Seu pai sempre lhe dizia
Minha filha, estude muito
Para não sofrer, Maria!
E um dia se formou
Em algo que não pensou
Que fosse fazer um dia
Nos seus sonhos desvairados
Almejou a medicina
Mas um dia descobriu
Que era sonho de menina
Já que não podia ver
Pouco sangue escorrer
De uma injeção tão fina
Houve o tempo em que Maria
Triste se arrependeu
De não escutar seu pai
Quando conselho lhe deu
Para não namorar cedo
Muito menos em segredo
Isso não a convenceu.
Ah Maria, Maria!
Veja o que aconteceu
O seu pai então decide
Mudar todo rumo seu
Estudar em outra escola
Ser “ao menos Professora”
Foi o que lhe prometeu
E ainda profetizou
Seu destino de mulher
Nem sequer a consultou
Para saber o que quer
Vai pilotar um fogão
Filhos no braço e no chão
“Ou um futuro qualquer”.
Maria se adequou
À vida do magistério
Estudou assiduamente
Esse lindo ministério
E foi na Literatura
Que escolheu a aventura
De levar palavra a sério.
Por ironia do destino
Quando Maria se formou
Foi procurar um emprego
Mas o mercado negou
Disse-lhe sem complacência
Que o perfil da exigência
Ela não apresentou
Ela, então, resolveu
Dizer tudo o que sabia
De Piaget a Vygotsky
Que aprendeu na Academia
O emprego lhe foi dado
E deu conta do recado
E mostrou para que vinha.
Começou ganhando pouco
Mas não fazia questão
Pois o que queria mesmo
Era dar demonstração
E foi muito perspicaz
Mostrou que era capaz
De ensinar educação.
Depois foi fazer concurso
Pra tentar mudar de vida
O segundo obstáculo
Dessa sua grande lida
E de tanto ela tentar
Pôde até comemorar
Uma vitória surgida
Eis que Maria consegue
O seu primeiro lugar
Foi difícil, reconhece
Mas merecia ficar
Afinal ela dormia
Quando amanhecia o dia
Pra seu sonho conquistar.
Veja a fala do prefeito:
- Olhe, vaga aqui não há!
- Como assim, Sr. Prefeito?
Há no edital, aqui está!
- Pois já temos Professora
Uma mulher batalhadora
Não tenho por que tirar
Eis que a sina de Maria
Foi um dia se casar
E constar no sobrenome
Referência elementar
Com um rapaz renomado
Um partido bem dotado
De cultura popular.
Com a história do nome
Que herdou do casamento
O Prefeito perguntou
Se era esposa do Sarmento
Que um dia o ajudou
Quando ele precisou
Para entrar no Parlamento
Ela disse então: “Prefeito,
Com ele não sou casada
Dê-me logo meu emprego
Que não desisto por nada
Tanto tempo que tentei
Tantas horas que gastei
Para ser ludibriada?”
O prefeito prometeu
Deixou dia e hora marcada
Quem levasse em sua casa
A bendita papelada
Recebeu então Maria
Aquela oferta do dia
Que era tanto sonhada.
Finalmente conseguiu
Maria foi nomeada
Foi o sonho mais incrível
De sua linda jornada
Lançou muitos desenganos
Para cumprir os seus planos
Nessa vida aperreada.
Pensou por hora nos filhos
Que seu pai profetizou
Veio lindo o primeiro
E o segundo não tardou
Eram filhos tão amáveis
E momentos agradáveis
Que o terceiro lhe chegou.
A família foi crescendo
A sorte não lhe faltava
Ela fez outro concurso
Pra ver se complementava
O sustento da família
Sua gratidão de filha
Nos versos ela levava.
Casa, filhos e trabalho
A vida ficou difícil
Mas por se chamar Maria
Conseguiu o impossível
Dedicou-se ao estudo
E um Mestrado que era tudo
Conquistou, tornou possível.
Todo o dia de Maria
É do plano ao fazer
Pra levar o seu aluno
à luta pelo saber
lápis, caderno na mão
paz e amor no coração
Por um novo amanhecer.
Ela sabe que é capaz
De cumprir sua missão
De ensinar a sua língua
Para os filhos da Nação
E como é professora
Sonha a vida promissora
Do seu sublime Torrão.