Legado da escravidão presente no dia a dia.
Hoje vim te dar bom dia
De modo especial
Falando do que eu li
Num livro fenomenal
Sobre o primeiro capítulo
Junto a vida real.
Livro de Angela Davis
Mulher negra escritora
Filósofa, candidata
Ativista e professora.
Mulheres, raça e classe
É o tema da doutora.
Li o primeiro capítulo
Legado da escravidão
Onde pensa na história
Para a nova condição
da mulher, mas mulher negra
no sistema em ação.
Angela Davis comenta
Sobre o papel da mulher
Na condição de escrava
Num regime que se quer
Usá-la como doméstica
Na lavoura e no que der.
A mulher negra escrava
Não tinha autonomia
Do seu corpo, da sua vida
Nem criar filhos podia
Pois logo eram vendidos
Pela vossa senhoria.
Seus filhos de sua paixão
Com o escravo, seu amor
Não eram considerados
Não tinham pais, nem criador
Pois seus senhores vendiam
Como algo de valor.
Mulheres, homens, crianças
Dentro da escravidão
Não tinham sexo, nem gênero
Aos olhos de seu patrão
Serviam para as tarefas
Sem nenhuma distinção.
Mesmo o amor havendo
Na família de escravos
Nenhum podia ficar
Pois eram como centavos
Passados de mão em mão
E isso os deixava bravos.
Quando a mulher escrava
O seu neném dava a luz
Por poucos dias ficava
Devido a fazer jus
Ao lucro de seus senhores
Nas lavouras que reluz.
Muitas vezes apanhavam
Com os seios inda cheios
De leite do seu neném
Por causa dos devaneios
Da cabeça do patrão
Com chicotes, vários meios.
A condição da mulher
Negra, na escravidão
Se dava de duas formas
Conforme a descrição
Da autora aqui dita
Vá prestando atenção.
Se a negra procriasse
Fosse boa parideira
Escravos multiplicassem
Sem perder a estribeira
Consideravam de fêmea
Lucro vivo de primeira.
Mas depois de exercer
Essa função mercantil
A negra era chamada
Como um qualquer servil
Sem distinguir o seu sexo
Sem ter direito civil.
Trabalhando na lavoura
Com o serviço braçal
Fazendo a mesma função
Do homem em seu local
Ainda dava mais lucro
Sem ganhar o seu real.
A condição de escrava
Dada a mulher pela cor
Desvalorizava a raça
O sexo e o amor.
Condição tida por séculos
Como regras do penhor.
Tudo isso de história
No capítulo primeiro
É de fato bem marcante
Um registro verdadeiro
Que pode mudar o rumo
Do pensamento ligeiro.
Pensando atualmente
Sobre essa condição
Da mulher negra liberta
Anos pós escravidão
Será que algo mudou
Ou tem a repetição?
Nesses dias ocorreu
Nesse chão de minha gente
Um estupro mais abusos
Com uma adolescente.
Com 12 anos, a negra
Foi morta covardemente.
O homem, mais um pedófilo
Dentro da sociedade
Estuprou criança negra
Sem pensar na sua idade
Espancou e a enterrou
Com a maior liberdade.
Reflita nesta leitura
Qual a nova condição
Dadas às mulheres negras
Neste século em ação
O século vinte e um
Era da informação.
Se as crianças negrinhas
Estão sendo abusadas
Estupradas, depois mortas
Sendo até vulgarizadas
Por terem a pele negra
Parecem nascer marcadas.
Os jovens meninos negros
Também sofrem com temor
Pois nessa sociedade
Seu sangue não tem valor
Escorrendo todo dia
Pelas mãos do atirador.
Qualquer negro pela rua
Pelo menos, no Brasil
É visto de olho torto
Por quem porta um fuzil
Taxados de vagabundo
Matam de forma sutil.
A bala que sai do tiro
Vindo de um policial
Acerta um corpo negro
Que desde o canavial
Foi tratado na história
Como um corpo animal.
Mas a bala quando vem
Atingir a negritude
É a mesma que um pênis
De um homem sem virtude
Que estupra as crianças
Tendo cruel atitude.
Nesses casos, eu reflito
E fico a perguntar
Como a mesma polícia
Que julga sem duvidar
Defende as estupradas
De um modo exemplar?
É tamanho o descaso
Também a ignorância
Quanto a cruel história
Que ensina com constância
“Os negros são os escravos
Usamos pela ganância.”
Em nossa sociedade
Todos somos cidadão
Regidos por um sistema
Cuja constituição
Permite a liberdade
Contrária a escravidão.
Precisamos repensar
A nossa sociedade
Relembrando na história
Que não há uma verdade
Pois o domínio alheio
Interfere com maldade.
Já pensou se for você
Um jovem negro passando
Nas ruas com a sua moto
E a polícia vir chegando
Atirando em você
Nem seu nome perguntando.
Imagine ser você
Uma jovem negra mulher
Saindo para a escola
E um safado quiser
Te tratar como uma puta
Como um bicho qualquer.
O racismo já é crime
Vá ficando antenado
Trate todos com respeito
Caso estiver fardado
Pois nas instituições
O rigor está dobrado.