Na Serra da Bananeira

o dia ficou nublado,

quando foi anunciado 

um defunto lá na feira,

que caiu duma cadeira

em cima dessa calçada

com uma forte pontada

que o coração sofreu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

E desde muito pequeno 

aparentava ser forte,

e olhava o esporte

pelas noites de sereno.

Nunca existiu veneno

que matasse a condenada,

tinha a alma arrojada,

sua paixão só cresceu 

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

Quando atingiu idade

para tomar decisões,

engabelou os patrões 

e fugiu para a cidade,

foi atrás dessa verdade

e correu pela estrada,

saiu de sol e trovoada,

mas para chegar sofreu.

O vaqueiro que morreu

no dia da vaquejada.

 

E chegou na capital

inclusive procurando,

um local para ir treinando

e virar profissional,

quem sabe um imortal

no ramo da cavalgada,

deu uma funda suspirada 

e o passado lhe correu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

Lá ele treinou bastante 

pra ganhar notoriedade,

e para a felicidade 

algo muito interessante 

veio de alguém importante 

com empresa organizada,

conhecida e bem falada

onde ele percorreu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

Coronel José Orlando

um ilustre fazendeiro,

descendente estrangeiro 

que estava observando 

o homem que galopando

tinha a expressão cansada,

mas não desejava nada

além do que era seu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

Como tinha influência

muito era conhecido,

tinha por bem decidido 

contratar para a agência 

o homem cuja aparência 

pelo tempo foi moldada,

pra dar uma pincelada 

em tudo que aconteceu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

José ficou abismado 

pela história do rapaz

e chamou um capataz 

que era mais um criado,

pra levar acompanhado 

o homem para a entrada.

A resposta lhe foi dada,

ele muito agradeceu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

O homem foi contratado 

para ser grande artista,

derrubar ali na pista

um qualquer tipo de gado.

Onde que fosse mostrado 

pela faixa destacada,

qualquer briga acirrada

o ganho seria seu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

Já havia se tornado 

conhecido e campeão,

das disputas do sertão 

muitas já tinha ganhado.

Estava determinado

a pegar mais uma estrada

pois já estava marcada

uma festa que ocorreu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

Saíram num caminhão 

animados, proseando

o sol estava apontando 

numa azul imensidão.

Se ouvia o canto do faisão 

vindo da mata fechada,

que estava bem cuidada

pela chuva que ali deu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

Chegando no interior,

terra de João Batista

uma multidão à vista

aplaudia com fervor,

implorando com amor

que a foto fosse tirada

para deixar registrada

recordando quem venceu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

Chegou a tal decisão,

e se via o bate esteira 

conversando de maneira 

doce e com educação,

quando passou no portão 

aquela fera domada

que seria derrubada

por quem no local nasceu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

João Batista empolgado 

para adentrar na faixa,

já ouvia pela caixa

o locutor animado.

Ele estava emocionado 

com a festa enfeitada,

a galera organizada

mais orgulho concedeu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

Começou aquele evento,

Orlando fotografava

e logo comemorava 

a sensação do momento.

Tinha torcedor briguento 

que queria dar porrada,

pois estava derrotada

a equipe que torceu.

O vaqueiro que morreu

no dia da vaquejada.

 

O boi estava chegando

pro resultado final,

o rabo do animal

já estava segurando,

quase estava derrubando

quando sentiu a pontada,

mas que foi ignorada 

na hora do apogeu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

O seu prêmio foi certeiro,

ganhou primeiro lugar.

Foi então comemorar 

na casa do fazendeiro,

com o seu grupo inteiro 

formou a grande zuada,

pois a vitória chegada

ele mais que mereceu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

Correu daquele espaço,

indo pra casa dos pais

e festejaram demais

com a chuva de abraço.

No meio de tal mormaço 

sua mãe realizada

fez um pirão de buchada,

que os beiço ele lambeu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

Depois dessa refeição 

deitou no piso queimado,

refletiu bem humorado 

sua infância no sertão.

E disse pro seu irmão 

que sua nova morada

ia ser avarandada,

bem na casa que nasceu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

Depois de ter descansado 

foi andar todo contente,

carregou o seu presente 

que há pouco tinha levado.

E andou desembestado 

para a feira da virada,

onde ele deixou formada 

amizade que cresceu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

Com os amigos da feira

ele ficou conversando,

do passado se lembrando 

no meio da bebedeira,

quando caiu da cadeira

com outra forte pontada 

que dessa vez preparada,

chance ao pobre não deu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

Ainda sem acreditar 

no fato acontecido,

certo amigo decidido

para seu pai foi contar.

Partindo a galopar

tinha a mente agitada,

a feira já bagunçada,

desse jeito amanheceu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

Quando o pai ficou sabendo,

sua esposa desmaiou

a irmã dele desabou

e o irmão saiu sofrendo,

gritava como querendo 

que fosse coisa armada,

mas estava confirmada

a tragédia que abateu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

O velório foi montado

na Serra da Bananeira,

no caixão tinha a bandeira 

de um tocador de gado.

O prefeito foi levado 

para missa organizada,

a família enlutada 

àquele povo agradeceu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

Até uma procissão 

prestou solidariedade,

os vaqueiros e um frade

oravam com devoção 

pedindo intercessão 

para alma descansada

até que fosse julgada,

porque Jesus recolheu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

O cortejo saiu cedo

porque lá estava quente,

tinha mesmo muita gente 

descendo pelo lajedo,

num lugar de arvoredo

com sombra abençoada,

pelo Senhor desenhada

que o sol logo escondeu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

O cortejo foi tristonho

pra chegar no cemitério,

um coveiro muito sério 

já estava enfadonho 

com o budejar medonho 

vindo da mãe amparada,

que de tanto desolada

pelo chão permaneceu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

Mais uma vez foi aberto

pra última despedida.

E de forma resumida

o vigário chegou perto 

do caixão que encoberto 

desceu dentro da morada,

com o canto da toada

todo mundo enfraqueceu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

Desceu para a sepultura 

onde está a sua avó,

deixando triste e só 

uma velha criatura,

que enfrenta a amargura 

por sua morte deixada,

até sente uma fisgada 

quando lembra o filho seu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

Acabou-se num instante

uma vida sonhadora,

porém que foi ganhadora

de uma coisa marcante.

Ao som daquele berrante 

sua cova foi tapada,

e a mãe desesperada

em prantos se corroeu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

Talvez tenha sido Cristo 

com toda sua bondade,

o levou pra eternidade 

onde ele foi bem visto.

Lá em cima tudo isto 

nunca é de forma errada,

Deus fazendo a chamada 

e mais um ele escolheu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

Na terra deixou saudade

e sempre será lembrado,

um menino avoado 

que não praticou maldade.

Deixou pra sua cidade

a história bem contada

duma vida humorada,

com quem ele conviveu.

O vaqueiro que morreu 

no dia da vaquejada.

 

União dos Palmares - Alagoas 

(Agosto/2023)

João Pedro Vitorino
Enviado por João Pedro Vitorino em 03/11/2024
Código do texto: T8188618
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