O DESTINO DE LOURIVAL DE LIVRAMENTO COM SEVERINA DE VÓ ADELAIDE

Meu Senhor Jesus Cristo

Mestre de todos os mares

Livra-me da má escrita

E do ensino de Damaris

Uma meretriz daqui da rua

Vinda lá de Palmares.

Os meninos daqui do bairro

Com Damaris fizeram amor

Era mulher bonita

Ex. esposa de um doutor

Tinha fogo nas ventas

E no ventre muito calor.

Antonino de Seu Miguel

Morador da outra rua

Correu depressa e contou

Que tinha lhe visto nua

Do jeito que Deus fez

Em pleno clarão da lua.

Os moleques assanhados

Naquela noite não dormiram

Pensaram muito em Damaris

E muitas visões sentiram

Antonino gemia de dor

Seus pais assim viram.

Chico de Dona Zabé

Que gostava de futebol

Na pelada do outro dia

Acompanhado de Zé Cotó

Falou que sonhou com Damaris

Com ele tomando banho de sol.

Damaris todo dia ia

Na venda de Seu aprijo

E passando pela gurizada dizia:

- Vão tirar a catinga do mijo

Muito respeito comigo moleque

Educação de vocês eu exijo!

A boca de Damaris era sexy

Pra desespero de Joãozinho

Toda vez que ela passava

Ele a chamava de pãozinho

E assim também falou

O seu irmão caçula Pedrinho.

Naquele bairro antigo

Que não aparecia novidade

Só uma mulher da vida

Pra preencher a mocidade

Reclamava todas as velhas

Inclusive a beata Soledade.

Damaris pouco lixava

Praquele total falatório

Tinha um amante rico

Dono de um consultório

Que ela se trancava com ele

Por nome de Dr. Libório.

Os meninos sentiam inveja

Daquele famoso doutor

Jogavam praga pro médico

E uma um dia pegou

Tiveram uma discussão

E o chamego logo acabou.

Damaris chorava tanto

Que dava pena de ouvir

Antonino um dia disse

Que sua dor queria sentir

A mãe dele furiosa

Isso não queria mais ouvir.

Pedrinho se arrependeu

Da praga que tinha jogado

Queria pedir perdão a Damaris

Mas foi logo avisado

Que não fizesse aquela besteira

Ia sofrer o condenado.

A mulher de Dr. Libório

Procurou o mais velho menino

Interrogou de pé a cabeça

Pra desespero de Juvino

Negou como pôde a história

E se benzeu em nome do sino.

Dona Carmelita Boaventura

De família tradicional

Não se conformava com a notícia

E foi no açougue de Juvenal

Colher melhores ideias

Mesmo que lhe causasse mal.

Juvenal sabendo do assunto

Desfez direitinho a história

Chorava desesperada Carmelita

Assim dizia Dona Glória

Fofoqueira número um do bairro

Que guardava ruindade na memória.

Pois a danada da fofoqueira

Não tendo mais o que fazer

Chamou no canto a mulher

E tudo começou descrever

Cada palavra contada

Era choro pra derreter.

Sabendo de tudo isso

Foi com Damaris acertar conta

Bateu com força na porta

Que a bonita acordou tonta

E foi logo ouvindo de Carmelita:

- Mulher, como é que tu apronta?

Damaris que estava sofrendo

Pelo fim do relacionamento

Enchia seu coração de mágoa

E a ele juntava mais sofrimento

Olhou pra mulher do outro

E falou de um tal rebento.

A fofoqueira de longe

Torcia por uma desgraça

E foi juntando menino

Bem em frente da praça

Sem saber do acontecido

Todo mundo achava graça.

Tinha um mês de vida

O filho da traição

Carmelita gritava e implorava

No pecado da gestação

Propôs aborto a Damaris

Não foi aceita a petição.

Damaris era fina

E não saiu da sua postura

Enquanto estava tranquila

A outra tinha tontura

Se esguelava e fazia teatro

Uma cena de profunda loucura.

O Dr. Libório de nada sabia

Noutro canto dava plantão

Ao chegar na sua casa

Foi pego de prontidão

a filha que era única

Passava mal do coração.

Botou a menina no carro

E saiu em disparada

Feito louco correndo muito

Por aquela longa estrada

Dirigia e muito chorava

Olhando sua filha amada.

Ao chegar no hospital

Foi de imediato atendido

O caso da filha era grave

E ele lá entristecido

E a danada da mulher

Em que tinha se metido?

No outro lado da questão

Damaris a mandou embora

Ela chorando saiu

Parou no pé de amora

E a fofoqueira dizia:

- É lá que seu marido mora.

Ela entrou no carro

E saiu em disparada

A carreira foi tanta

Que quase deu uma virada

Ia puxando mais de cem

Pra acelerar sua chegada.

Chegou com vida em casa

Escapou por pouco

Quase atropelava uma cabra

Que vinha com um caboco

E nessa ligeireza da gota

Lá na frente arrancou um toco.

O marido distante

E a filha não estava lá

O que houve de repente

E ela só sabia chorar

Naquele tempo não havia

O telefone celular.

Pegou o convencional

E fez logo ligação

Ligou pra toda família

Que sofria na ocasião

Pra onde tinha ido Libório

Com a filha Conceição?

Porém no hospital

Conceição se recuperava

Dr. Libório sorria muito

E com tudo se alegrava

Solicitou uma ligação

Pra casa onde morava.

Esta história acontecendo

E ninguém no bairro sabia

Carlinhos falava só do bucho

Que em Damaris crescia

Levou um puxão de orelha

Pela mãe Dona Maria.

Pedrinho era o mais safado

Dos moleques do lugar

Dizia que o bucho não era problema

Pra seu desejo realizar

Joãozinho lhe deu um cascudo

E mandou em casa entrar.

Antonino falou namoro

E disse que o filho assumia

Damaris riu que não aguentou

E disse que muito agradecia

Deu um cheiro nele

Que o estalo de longe se ouvia.

Todo mundo queria

Da Damaris um beijinho

Foram tantas as propostas

Até mesmo o moleque Pedrinho

Disse que quando crescesse

Ele assumia o nenenzinho.

Dr. Libório na volta à casa

Encontra o maior aperreio

A mulher quase louca

Queria cortar o seio

Rasgou cada calça do marido

Quase tudo no meio.

O marido sem nada saber

Pediu logo explicação

A mulher gemendo de raiva

Não prestava na filha atenção

E sem dizer nenhuma palavra

Entrou a filha Conceição.

A mulher estava tão cega

Que a situação não enxergava

Partiu pra cima do homem

E com belas palavras xingava

A filha se recuperando

Lá no quarto gritava.

Dr. Libório ligou

Para o hospital psiquiátrico

Amarrou as mãos da mulher

E ficou no canto estático

Não entendia a confusão

E de tudo ficava apático.

A mulher tratada como louca

Ficou logo internada

Tomou tanto remédio

Que não sabia de nada

E Damaris liga ao médico

E fala daquela noitada.

Dr. Libório teve um troço

E desvendou aquele segredo

A partir daquele momento

Começou a sentir medo

Dormia muito pouco

E acordava muito cedo.

Tinha em casa uma filha

Com problemas de coração

Uma mulher louca

Que vivia numa prisão

Quis se vingar de Damaris

Mas antes pediu perdão.

Chegou de mansinho o cabra

E mandou ela abortar

Ela disse que nem morta

Ia aquilo praticar

Expulsou ele de casa

E debandou a chorar.

Juvenal açougueiro

Contou tudo que viu

Disse em poucas palavras

O muito que ele ouviu

A fofoqueira passou por perto

Pois logo sumiu.

Foi na casa de Damaris

E mandou tomar cuidado

Disse que o doutor

Tinha o mal planejado

E que ela tomasse de conta

Pois tinha matador alugado.

Damaris sentiu tanta raiva

Que o filho perdeu

Foi a maior tristeza

Que no bairro aconteceu

A fofoqueira sobre o filho dizia

- Que pena que ele morreu!

O doutor soube da notícia

E alegre muito ficou

Tirou da cabeça um peso

E à sua mulher logo contou

Pra casa no outro dia

A dita cuja voltou.

Damaris se converteu

Virou uma protestante

Pregou de porta em porta

O erro de ser uma amante

Pregava toda segunda

Com traje bem elegante.

A fofoqueira enfartou

E foi morar com Lucifer

Sua língua tão grande

Que cabia os gols de Pelé

Homem casado pra Damaris

É gente de pouca fé.

FIM

João Pessoa-PB, 14 de abril de 2000

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 25/10/2024
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