Fiz deixação da enxada / Por ser um ferro ruim / Quando eu puxava por ela / Ela puxava por mim.
O poeta popular alagoano Pacífico da Silva, nascido nos idos de 1865 na cidade de Quebrangulo (AL) e que usava o pseudônimo genial de PACÍFICO PACATO CORDEIRO MANSO, desenvolveu em 04 (quatro glosas) o seguinte mote:
“Fiz deixação de enxada
Por ser um ferro ruim
Quando eu puxava por ela
Ela puxava por mim.” *
Adorei o poema, o pseudônimo e pesquisei sobre o poeta. E em sua homenagem, glosei o seu mote, conforme segue:
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GLOSA: Marcelo Valois
Eu sou de uma geração
Que não temia o batente
Que da terra e da semente
Fazia-se nascer o pão
Minha maior vocação
É ter as mãos calejadas
Mas, no meio da estrada
Foi dado a mim escolher
E por buscar o “saber”
Fiz deixação da enxada.
Deixei não foi por desprezo
Teria seguido o trilho
Não fosse a força do brilho
Que vive na mente aceso
Mas, a enxada não é peso
Nem é sina de um Caim
Que fez do seu dom seu fim
Ganhando a marca na testa
Diz-se que a enxada não presta
Por ser um ferro ruim.
Discordo da teoria
De que a enxada é maldição
Prefiro calos nas mãos
Do que uma vida vazia
E é vivendo o dia a dia
Que a estrada se faz bela
Não vejo como mazela
Tampouco um troféu de guerra
Os rasgos que fiz na terra
Quando eu puxava por ela.
Está em minha trajetória
A água fria da cabaça
O sol polindo a carcaça
Calcificando a história
Como se fosse a memória
Um livro escrito em marfim
Confesso, não foi ruim
E a vida era mais singela
Quando eu puxava por ela
E ela puxava por mim.
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Vejam o poema completo no endereço
https://bira-viegas.blogspot.com/2017/10/poesia-popular-nordestina_25.html