SEU POLACO, O HOMEM MAIS VELHO DO MUNDO

Meus leitores brasileiros

Certamente vão saber

Quem foi este personagem

Que nova idade foi perceber

Nos cafundós dos letrados

Meus direitos vou receber.

No campo da biografia

Não terá gente melhor

Comentar sobre Polaco

Desce da testa suor

Pensando naquele tempo

Não acredito ser pior.

Eu jamais serei biógrafo

Para pôr no meu papel

As histórias deste homem

Que pra mim é menestrel

Com dois séculos nas costas

Tem lugar no meu cordel.

Lá pras bandas do Nordeste

Vive um homem de história

Polaco, aos duzentos anos

Vive coberto de glória

Enterrou todos parentes

Que só restam na memória.

Hoje só tem um bisneto

E uma bisneta de noventa

Tem a saúde de ferro

Que a vida lhe apresenta

Mora só em casa grande

Nunca pensou em tormenta.

Polaco fez duzentos anos

Vive em meio à solidão

Enterrou todos os seus

Só sobrinho e sobrinha em ação

Com saúde e bom humor

Cultiva o que é do coração.

Três filhos ele perdeu

A mãe e o pai também

O tempo passou ligeiro

Mas a fé não lhe é alguém

Em seu quintal, a vida brota

Florescendo até no além.

Um ajudante na casa

Cuida do seu dia a dia

Enquanto ele planta e colhe

Faz da vida uma poesia

Nos domingos, ele espera

Um café com alegria.

Tantas pessoas se foram

Mas a memória é fiel

Histórias de outros tempos

De um tempo tão belo e cruel

Acha engraçado dizer

Que nunca provou pastel.

Ao lado de muita gente

Conta a vida que passou

De amores e desenganos

E de tudo que enfrentou

Se alguém pergunta como

Ele diz que tudo passou.

Com um quintal imenso

Planta legumes e flores

Tem um verde que é imenso

Para acabar com as dores

Nove mulheres já passaram

Todas elas seus amores.

Mas o tempo, implacável

Levou todas no seu manto

Ele fala bem explicado

Cada uma com seu encanto

Com sabedoria e calma

Nunca ele criou pranto.

Polaco, homem de fé

Na solidão, faz poesia

Mantém sua vida tranquila

De um viver em harmonia

Duzentos anos de lembrança

De viver com alegria.

Ainda que a saudade aperte

Ele vive com dignidade

Com um olhar no horizonte

E um coração cheio de verdade

E assim segue o velho Polaco

Levando suas sinceridade.

Viver é um aprendizado

E a vida quer se elevar

Ouvindo o canto das aves

Polaco se deixa levar

Entre risos e lembranças

Segredos vai revelar.

Se a noite chega tranquila

E as estrelas vão brilhar

Ele faz uma oração

Agradecendo por estar

Na luz da manhã clara

O sol entra pela janela.

E Polaco, satisfeito,

Sabe que a vida é bela

Sente o sabor do chão

Ainda canta na capela

Com a força de um gigante

Numa pintura da tela.

Se a solidão aperta

Ele canta uma canção

Com a voz que ecoa forte

E o coração em união

No dia a dia sereno

Cuida da sua plantação.

Ele tem o dom da vida

Numa grande procissão

Polaco, sabe de tudo

É mestre de profissão

Duzentos anos de história

Gravada na confissão.

E assim segue Polaco

Com alma em celebração

Um guardião de lembranças

E de um vasto coração

Entre risos e tristezas

Ele dança no riso de paixão.

Enterrou todos parentes

Diz isto numa tristeza

É homem de muitos dotes

Já passou por correnteza

Sabe muito bem se cuidar

Com ele não tem moleza.

Três filhos lhe dão saudade

Guarda seus restos mortais

Tantas vezes no sepulcro

E ele no nos imortais

Em seu lar tem esperança

Olhando seus lindos postais.

Nove mulheres já amou

Cada uma com seu encanto

Mas a vida é quem leva

E ele guarda seu manto

Fala claro, sem pressa

Sem ser chamado de santo.

Um ajudante na casa

Todo dia faz a faxina

Enquanto ele planta e colhe

Bem cansada sua retina

Olha o sol toda manhã

E todo seu raio examina.

Com lembranças do passado

E a saudade que conforta

Os amigos se foram

A sua memória reporta

As coisas do seu passado

Que quase ninguém importa.

Na varanda, conta causos

Sobre sua Antiguidade

Das festanças na fazenda

Tudo vai causando saudade

O mundo ele sabe de có

O que conta é verdade.

Cada flor, cada fruto

Motivo de admiração

O Polaco diz pra todos

Que sente grande atração

Duzentos anos de história

Duma fina educação.

Polaco, um poeta antigo

Que na terra é uma lida

E se um dia ele partir

Deixará como despedida

As histórias contadas

Que fazem parte da vida

Com um legado de amor

E a força da natureza

Polaco viverá sempre

Na memória e na beleza

Assim, a vida é feita

Na virtude e na incerteza.

E assim segue esse velho

Com a alma em celebração

Um guardião de lembranças

E de um vasto coração

Entre risos e tristezas

Ele dança com sensação.

Tem até quem não acredita

Nesta história de Polaco

Pensa ser da carochinha

Mas é sinuca no taco

Conta nos dedos seus anos

E diz ser primo do deus Baco.

Chego agora no final

É tão triste chegar no fim

Falar de gente bacana

Que nunca teve pantim

Eu falei desse Polaco

Que mora no meu jardim.

FIM

João Pessoa-PB, 02 de março de 2010.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 23/10/2024
Reeditado em 09/11/2024
Código do texto: T8180398
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