O PADRE CACHACEIRO
Esse Cordel Brasileiro
Divulgado na bela arte
Nos conta como se deu
No tempo do bacamarte
Saga de seminarista
Na guerra capitalista
Que esteve por toda parte.
O jovem Noca era filho
De Seu João do armazém
Fabricante de cachaça
Que tinha nome – Vintém
Um português arretado
Que não vendia fiado
Pra caneiro e mais ninguém.
Sua mãe era Professora
De um espaço estudantil
Lecionando pro pobre
De modesto varonil
Educando bem seu filho
Que não saísse do trilho
Valorizando o Brasil.
Noca queria ser padre
E foi grande o sofrimento
Em plena segunda guerra
Naquele grande convento
Mas, temia as pregações
Das tremendas orações
Desse frei chamado Bento.
Neste convento sagrado
Bento tudo cuidava
Pede pro seu sacerdote
Que tão bem ali escutava
Atenção nas leis divinas
Abrisse bem as retinas
Numas lições que ele dava.
Aquele Noca ficava
Num total imobilismo
Baixava a sua cabeça
Notando um grande egoísmo
Do que falou aquele frei
Na guerra pensou ser rei
Naquele falso civismo.
Certa feita numa ceia
Com traje de militar
O Bento usando um discurso
Começou logo alterar
Dando um estupendo grito
Causando muito atrito
Noca meteu pau a chorar.
Naquele grande convento
Um amigo ele encontrou
Por nome de Leocárdio
Tão depressa lhe ajudou
E Noca queria tanto
Criar um profundo espanto
E tudo concretizou.
Meia noite de setembro
Noca foi se preparando
Arrumando a sua mala
Todo seu treco juntando
Pois, quando estava fugindo
Quase ali se escapulindo
Frei Bento ficou brechando.
Noca foi para o castigo
Era um mês de penitência
Sofrendo todas as dores
E ficou numa indulgência
Não teve sequer visita
Naquela cela maldita
Provando da paciência.
Esse amigo Leocárdio
Que tinha já simpatia
Depois daquela longa aula
Que aconteceu nesse dia
Tentou visitar o Noca
Querendo brincar de toca
Mas ninguém lhe permitia.
E quando o Noca saiu
Daquela grande prisão
Teria que dar uma aula
Sobre o apóstolo João
Depois só se ausentaria
Rezando alto Ave Maria
Quando fosse a refeição.
Porém, este jovem Noca
Muito danado ele era
Foi falando toda Bíblia
De formosura sincera
E aquela voz no seu ouvido
Falando: - Suma atrevido
Que Leocárdio te espera!
Leocárdio vendo o sol
Foi para o Noca sozinho
Porque se sentia estranho
Atravessar seu caminho
Implorando por um beijo
Para tirar o seu queijo
E foi fazendo um carinho.
Noca ficou bem vermelho
E na cabeça deu um nó
Olhava pra Leocárdio
Pediu pra ficar só
Pois, naquele instante o Noca
Já envolvido com Doca
Entrava numa pior.
O Noca foi para o quarto
E nada quis entender
Pensou até em se matar
Mas não quis isto fazer
Ficou iludido chorando
Sempre naquilo pensando
E foi procurar saber.
O seminarista quis
Ter um caso com o Noca
E chamava o seu parceiro
Para se arribar da loca
E dizia seu apelido
Como ele era conhecido
Na sua infância, por Doca.
O nome Leocárdio era
Diferente dos demais
Mas o apelido de Doca
Pegava bem pro rapaz
Neste momento de guerra
Muita bomba na terra
Noca pensava na paz.
Noca tinha este apelido
Dado pela vó francesa
O seu nome de batismo
Era Pedro de Vereza
Filho de um belo casal
Dos brasões de Portugal
Alcunhado de nobreza.
Este convento fedeu
Naquela grande jogada
O Frei Bento não gostou
Pois, vendo a testa beijada
Por aqueles dois meninos
Com os seus tristes destinos
Rasgou o verbo em disparada.
Este Frei Bento sofria
Com toda aquela besteira
Saiu do seu pedestal
Feito gato na comeeira
Estava louco este Bento
Observando o atrevimento
Foi caindo numa leseira.
A mãe de Doca, coitada
De repente desmaiou
Foi acudida pela filha
De fato, se conformou
Foi dizendo em alta voz
Deus! Rogai por todos nós!
É isto de fato o amor?
Nesse minuto na sala
Algo estranho aconteceu
Este Frei Bento enfartou
Deu um chililique e morreu
Noca ficou feito um troço
Terraço feito destroço
Que este convento tremeu.
Foi um dia mais que terrível
No Convento São José
Pois, todo mundo queria
Esculhambar com a fé
E ficava horrorizado
Gritando: - Está tudo errado!
Para o povo dar no pé.
Frei Bento já dado morto
E a madre safada avança
Beija na boca com força
E fica ali na lembrança
Alguém desse seminário
Com jeito meio ordinário
Excomunga a Irmã Bragança.
A mãe de Noca pegou
O seu filho pelo braço
Entraram no seu transporte
E deram um grande abraço
Reclamando dos católicos
Ao chamar de - estrambólicos
E não houve nenhum fracasso.
O Noca era inteligente
Daquilo nada sabia
Esqueceu logo o passado
De toda melancolia
A família foi importante
Naquele simples instante
Lhe dando tanta alegria.
O Doca ficou hospedado
Naquele maligno hospício
Com a dita Irmã Bragança
Leva algo ao precipício
Falando que tudo agora
Era dali não ir simbora
Fazendo seu sacrifício.
O Noca ficou bem doido
Que se esqueceu por completo
Quando seu pai entrava em casa
Falava: - Tudo está certo?
Raivoso com aquele homem
Lhe chamava lobisomem
Com juízo no deserto.
O Noca não soube mais
Controlar a sua mente
Ficou ali muito louco
Visto por muita gente
Com grande livro na mão
Sempre fazendo oração
E boca numa aguardente.
Esse herdeiro de imigrantes
Não concluiu seu estudo
Porque vivia na cana
Se pabulando: - Sou tudo!
Dou missa para meu povo
E rezo tudo de novo
Eu sou padre e não me iludo!
Finalizando esta história
Na pena deste cordel
No traçado dos meus versos
Dedilho neste pincel
Memorizando o que sei
Se me esqueci, não falei
Me contou um bom menestrel.
FIM
João Pessoa-PB, 18 de outubro de 2020.