ZEFINHA DO OIÃO

Meu caro contemporâneo

Licença eu te peço

Vou tentar te entreter

Lendo aqui este meu verso

Escrito com muito amor

Na alegria e na dor

Do tema que me interesso.

O Cordel é muito forte

E vai agora contar

Zefinha só pensava

Naquilo que se dá

Ela não tinha vergonha

Vinha vindo na cegonha

E só falava em gozar.

Zefinha não tinha pareia

Gostava de safadeza

No dia que não fazia

Era pior do que pobreza

Ela não se assossegava

Quando aquele bicho dava

Pra ela uma riqueza.

Como é que uma mulher

Fez assim daquele jeito

Querendo ver todo mundo

Pegando no seu peito

E dizendo eu quero mais

Seja velho ou rapaz

Levo logo pro meu leito.

Assim era Zefinha

Com aquele grande olhar

Quando ela olhava a gente

Dava vontade de mangar

O olho feito do cão

Apelidada de Oião

Veio logo se acostumar.

Ela era uma danada

Em matéria de amor

Vivia pelas esquinas

Sentindo grande calor

Tudo só se acabava

Quando ela se danava

Nas mãos de um doutor.

Certa feita na cidade

Ela não tendo o que fazer

Pegou no objeto

E quis ele vender

O coitado de Berimbau

Primo de Zé Catatau

Começou logo a sofrer.

Zefinha tão descuidada

Não sabia conquistar

Tudo era na putaria

Ver o povo se lascar

Ela não tinha juízo

Ali mesmo foi preciso

Sua mãe lhe protestar.

Zefinha era uma moça

Que morava aqui de lado

Toda vez que ela queria

Ao moço dar o danado

Ele ficava doidão

Mais Zefinha do Oião

Com o cabelo arrepiado.

O moço não aguentava

Tanta fala da Zefinha

Disse: guarde o danado

Quando for a noitinha

Ela disse: cabra safado

Eu dou o meu danado

Até na beira da linha.

E assim esta mulher

Só andava paquerando

No bar lá da esquina

Ela lá foi se chegando

Olhou pra João Trindade

E deu foi liberdade

Pra o bicho apontando.

O povo não aguentava

Tamanha cara de pau

Zefinha dava uma espiada

E chamava o Juvenal

Este era o sacristão

Da igreja de São João

E a levava pro curral.

Conheço muita mulher

Mas nenhuma feito Zefinha

Só gosta de trabalhar

Bem pertinho da Marinha

Faz tudo com o marinheiro

Daqui ou do estrangeiro

Chamando de cachorrinha.

Ela pega uma barata

E esfrega no vestido

Diz que aquele cheiro

No bicho dá mais sentido

Deixa o menino louco

Que não tolera troco

E fica assim mais pervertido.

No dia da padroeira

O padre foi reclamar

Zefinha estava com o diabo

E queria se esfregar

Dentro de uma gaiola

Ela nua pedia esmola

Mandou a igreja se lascar.

Seu Arnaldo da bodega

Foi dar queixa a Juvina

Foi dizendo a senhora

Que era mãe da menina

Que cuidasse da donzela

Bem defronte à pinguela

Triste foi a sua sina.

A mãe da infeliz

Se sentindo humilhada

Chamou a sua filha

E mandou a condenada

Dar uma pisa no Arnaldo

E mostrasse o danado

Pra fazer a cachorrada.

Tal mãe e tal filha

Não há explicação

Zefinha não teve pai

E viveu na perdição

Deixou de lado a infância

E nunca deu importância

Vivendo só de confusão.

O pai que fez Zefinha

Se mandou para o Sudeste

Vive honesto trabalhando

Feito um cabra da peste

Enquanto a sua filha

Traçando mal sua trilha

Se perdendo no Nordeste.

Zefinha é descuidada

Podia ficar bonita

Se não fosse a sua boca

Com tudo se irrita

Fala muito palavrão

Chama o povo de ladrão

E vive sempre esquisita.

Zefinha tem leitura

Mas não usa o que tem

Só anda de salto alto

E não vale um vintém

Certa feita na estação

Levou uma esculhambação

Do maquinista Zé Xerém.

Dona Chica do mercado

Falava tanto de Zefinha

Não sabia da sua casa

Que tinha lá uma galinha

Falar da vida alheia

Melhor levar uma peia

No rabo de Dona Chiquinha.

A Zefinha do Oião

Ficou muito conhecida

Dava pra todo mundo

Feito espinhela caída

Gritava pra todo lado

Querendo dar o danado

O melhor da sua vida.

O mundo tem cada história

Zefinha é do Cordel

Ela foi muito abusada

Nas mãos de um coronel

Ela dá pra muita gente

Por um gole de aguardente

E um pedaço de pastel.

Não conheci pessoalmente

Gostaria de conhecer

Só pra ver esta Zefinha

Virando o olho de prazer

Quem contou não sabe nada

Às vezes dar uma mancada

Só estando lá pra ver.

Quando ela veio ao mundo

A mãe se descuidou

Nunca deu um beijo nela

A bichinha nunca amou

Depois que ela cresceu

O sofrimento logo nasceu

E a putaria se plantou.

Zefinha tinha defeito

Que não tem explicação

Quando ela não tinha

Botavam na ocasião

O mundo tem hipocrisia

Seja João, seja Maria

Viva Zefinha do Oião.

Deus tomara, meu Senhor

Que eu tenha acertado

A vida de uma tal Zefinha

Que gostava do danado

Vivia só aprontando

E o bicho sempre dando

Pra qualquer um coitado.

A vida de cada um

É feita em construção

Seja rico, seja pobre

Em qualquer filiação

A história de Zefinha

Pior do que galinha

Ciscando em estação.

Quando você não entende

Qual é sua virtude

O mundo vai lhe ensinando

E mostrando sua atitude

Zefinha dizia ao povo:

- Eu gosto de tudo novo

Comigo ninguém se ilude.

A vida que ela teve

No Cordel só se aumenta

Dizem as más línguas

Que era pior do que jumenta

Não se valorizava

De ruindade ela gostava

Com ela ninguém aguenta.

Obrigado meu leitor

Com muita gratidão

O danado de Zefinha

Vivia de mão em mão

Quem não sabe da história

Guarde isso na memória

Ilustre Zefinha do Oião.

FIM

João Pessoa-PB, 22 de abril de 1999.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 19/10/2024
Código do texto: T8177207
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