MULHERES GUERREIRAS
Eu vou contar o segredo
Da grande mulher guerreira
Nascida na Paraíba
Que se fez como enfermeira
Para cuidar dos pobres
Que brigavam de peixeira.
Era filha de Etelvina
Uma viúva da grana
Mas não precisou da mãe
Para ser rica e bacana
Lutando descobriu
O bom da cana caiana.
Ela quando era pequena
Naquele engenho brincando
Pegou uma palha da cana
Ficou só imaginando
Que aquilo lhe serviria
Foi logo se planejando.
Só via a zona rural
O centro só de passagem
Quando ia com a família
Ficando olhando a paisagem
Vendo todo aquele verde
Pensava naquela imagem.
Aquela que não saía
Daquela mente infantil
Criaria alguma coisa
Para o avanço do Brasil
No jipe ia logo atrás
Olhando o céu azul anil.
Sua mãe Dona Etelvina
Filha do major Soares
De vez em quando espiava
Essa menina nos ares
Dizia: - Queremos ver
Quando você ver os mares.
A mãe falava das praias
Que fica na capital.
Maria vive no engenho
Brincando no seu quintal
Com a menina mais nova
Do feitor Seu Juvenal.
Elas brincavam de tudo
Pouco mais de cientista
Com sua amiga Joana
Que pensava em ser artista
Se tornando professora
Uma leitora marxista.
Sobre o tema anterior
No centro dessa cidade
A Maria se encantava
Tinha muita vaidade
Era bastante educada
Só respondia verdade.
Dizendo pra sua mãe
Que não gostava de mar
Podia ir lá qualquer dia
Mas, no engenho ia ficar
Queria ser enfermeira
E teria que estudar.
O seu papai, Zé Venâncio
Homem de pouca conversa
Foi perguntando pra filha:
- O que é que te interessa
Se é através do estudo
Que se paga até promessa?
A Maria ouvindo aquilo
Ficou sem compreender
A mãe concordou com ele
No centro foram descer
Era tanta gente ali
E ela só quis conhecer.
Mas, antes do seu destino
Começou então refletir
O que seu pai tinha dito
Ela então veio sentir
Seu pai nem imaginava
E, portanto, nem ouvir.
É que ela queria ser
Enfermeira arretada
Pois, seu pai só falava
Dela sendo advogada
E ela desconsiderava
Era bom ficar calada.
Cambiteiro aposentado
Um tanto bastante esperto
Empregado do seu avô
Do coronel Adalberto
Por causa de uma peixeira
Nunca fez o que era certo.
A Maria chegou ali
E ficou só conversando
O cambiteiro Zezé
Foi somente se explicando
Que aquela palha da cana
Pois, quase foi lhe matando.
Despertando na menina
Tanta curiosidade
Enquanto a mãe fez a feira
Naquela bela cidade
A filha até pensava
Entrar na Universidade.
O Zezé foi e disse que ela
Era cagada sua avó
Que lhe tinha grande apreço
E pela mulher Soró
Que trabalhava na terra
Todo dia, sol a sol.
A menina quis saber
A história da peixeira
E Zezé disse que nada
Tudo era só brincadeira
Que ela fosse simbora
Fosse direto pra feira.
Que seu pai era sério
E não queria confusão
Maria logo atendeu
E ficou sem solução
A história do Seu Zezé
Lhe deixava sem ação.
Neste instante a mãe
Pergunta onde ela estava
Ela diz: - Em Seu Zezé
Que do engenho falava
As duas foram seguindo
Aonde o Venâncio pagava.
Era um mercadinho
Que tudo tinha lá
Da comida da casa
Se podia tudo comprar
Dona Etelvina e a filha
Acabaram de empacotar.
Venâncio pagou a conta
E perguntou para a filha
Se ela tinha sumido
Se foi direto pra uma ilha
E nesse instante a menina
Seu olho apenas brilha.
Vai dizendo ao pai
Tudo que sua mãe já sabia
E o pai disse que ela
Que se chamava Maria
Tivesse mais cuidado
E deixasse de fantasia.
Esquecesse o cambiteiro
E tudo que dele ouviu
Seu pai sempre foi bom
E ele foi quem fugiu
Deixando toda fornalha
Que por pouco não caiu.
Que seu Zezé era gente
E falava até demais
Que ela não se preocupasse
Que ele chamaria o rapaz
Pra ela conversar com ele
Na sua frente e não por trás.
Maria ficou tão triste
Indo pro engenho não falou
O pai falando com a mãe
E bem baixinho cochichou
Maria toda em silêncio
Naquele homem pensou.
Se seu pai chamasse ele
A história queria saber
O porquê de tudo isso
Estava torcendo pra ver
O que estava correto
Pra ela tudo entender.
Descendo daquele jipe
A Maria foi procurar
A sua amiga Joana
Tão somente pra conversar
Falar dos seus pais
E da história do mar.
Joana ouvia tudo
E se alegrou com a praia
Dizia para Maria
Que usaria a sua saia
Bordada pela mamãe
Uma bela paraguaia.
Tinha o nome de Nara
Aquela nobre senhora
Que veio de San Lorenzo
E nunca mais foi embora
Se casando no Brasil
E vendendo renda pra fora.
A dona Nara queria
Que sua filha estudasse
Ela e o seu marido
Não deixava que trabalhasse
Somente para o estudo
E que ela se formasse.
O feitor Pedro Bolero
Que dançava pra xuxu
O apelido lhe pegou
Numa festa em Caxitu
Conheceu a paraguaia
Numa cidade do Sul.
Joana tinha muito orgulho
Daquele simples casal
Que trabalhavam pra Venâncio
Naquele antigo hospital
E hoje viviam no engenho
Naquela vida normal.
O feitor era um homem
De tamanha confiança
Trabalhava no engenho
Por nome boa esperança
Era o xodó do povo
O principal da criança.
Maria fala pra Joana
Que ela fizesse planos
Pra ter uma vida melhor
Em todo passar dos anos
Ela tinha que ter foco
Pra esquecer os desenganos.
As duas meninas estavam
De férias escolares
Brincavam todos os dias
E se agoniava a Soares
A cozinheira que veio
Da cidade de Palmares.
Dona Etelvina chama Maria
Já é hora do almoço
Joana não quis ficar
Foi direto pro poço
Acompanhando a mãe
E seu cachorro colosso.
Depois da refeição
Maria no seu aposento
Não sai de sua cabeça
Todo aquele momento
Vivido lá na cidade
Que lhe causou até tormento.
E que seu Zezé
Um cambiteiro afamado
Tinha despertado nela
Que nada foi solucionado
Depois da conversa do pai
Que ficou até zangado.
Enquanto isso, chegava
A sua amiga, Joana
Despertando nela
Falar da cana caina
E as peixeiradas todas
Que ocorriam toda semana.
Joana sobe no quarto
E Maria começa a falar
Sobre aquele cambiteiro
Que não quis mais comentar
O que houve com ele
No engenho a trabalhar.
Joana dizia assim
Não querendo se meter
Que seu pai era amigo
E podia até ele trazer
Levaria ela pra lá
Sem o pai dela saber.
Maria de forma simples
Disse que essa história
O pai já tinha dito
E ficou na sua memória
Que ia trazer o seu Zezé
E pra ela é uma vitória.
FIM
João Pessoa-PB, 21 de março de 2020.