KAROL E SUA LUTA

Um dia eu pensei

Como fazer um cordel

Que falasse de Karol

Com seu belo corcel

Rondando pela cidade

E comendo um pastel.

Assim era Karol

Escrita com a letra K

Moradora de Bayeux

E secretária do lar

Seu vestido colorido

E um sorriso pra dar.

Com o dinheiro

Que ela ganhava

Comprou um corcel

E nas ruas andava

Dirigindo o automóvel

E todo mundo espiava.

De Bayeux a João Pessoa

Era o seu trajeto

E comprar aquele carro

Foi o seu projeto

Comprou à vista

Lá em Seu Neto.

Zé Neto era o dono

Daquele carro possante

Que há muito tempo

Karol era amante

Comprou e deu risada

E seguiu logo adiante.

Karol naquele tempo

Não tinha habilitação

Aprendeu com Malaquias

Seu velho irmão

Depois fez o teste

E teve aprovação.

A casa que trabalhava

Apoio muito lhe dava

O seu salário era bom

E ela sempre juntava

E com toda esta poupança

Dinheiro com ela sobrava.

O pai era muito pobre

E gostava muito da filha

Era um senhor viúvo

Que trabalhava numa ilha

Num setor industrial

Enfileirando monte de pilha.

Karol era bonita

Porém muito educada

Se orgulhava do que era

Uma exímia empregada

Trabalhava com amor

E nele era amada.

Bayeux naquela época

Era muito atrasada

Só tinha uma ponte

Para ser atravessada

Quem vinha pra Capital

Era essa a jornada.

Quem tinha carro

Era rico considerado

E Karol tinha um

Muito bem conservado

Também tinha telefone

E nenhum namorado.

Ela sempre dizia

Que a hora ia chegar

E se aparecesse um

Ele tinha que esperar

Porque ela queria

Era mesmo estudar.

Estudava na Capital

E dormia no trabalho

O patrão dela era

Ascendino Neto Carvalho

Que mandava pra todo Estado

O jogo de baralho.

Aquelas cartas que hoje

Todo mundo conhece

Ele foi o empresário

Que toda empregada merece

Paga um bom salário

E um extra oferece.

Karol juntou dinheiro

E um carro comprou

Era um lindo cordel

E muito lhe ajudou

Muita inveja esta moça

Em outras despertou.

Quando bem pequena era

A sua mãe faleceu

Foi criada pelo pai

E muita luta conheceu

Não tinha o que fazer

E ser empregada aconteceu.

Nunca foi humilhação

Ser empregada doméstica

Era sim de fato

Uma questão de ética

Mais tarde descobriu

Que estava diabética.

Esta doença é terrível

Imaginem naquele momento

Se hoje tem remédio

Antes era só sofrimento

Mas ela não desistiu

Tinha bastante discernimento.

Os patrões sabendo disso

Todo o custo financiou

Tratava Karol assim

Lhe dando muito amor

E sofreram também

Com toda aquela dor.

Mas Karol era valente

Na doença que vivia

Como não fosse nada

Era somente alegria

Sorridente e amável

Era assim todo o seu dia.

O remédio controlado

Karol não descuidava

Ia sempre ao médico

E cada vez mais se curava

Era assim o cotidiano

E não desesperava.

Quem olhasse Karol

Via nela mulher forte

Que espantava pra longe

Qualquer tipo de morte

E o povo fofoqueiro dizia:

- Oh menina de sorte!

A diabetes foi controlada

E Karol seguiu estrada

Dirigindo o seu corcel

Em Letras foi formada

Queria ser professora

E foi bastante apoiada.

A festa de formatura

A família ali presente

E Karol ao lado do pai

E do tio tenente

Um orgulho familiar

Todo mundo ficou contente.

Fez concurso público

E uma boa nota tirou

Professora de Português

O destino reservou

Fez logo uma redação

E o alunado conquistou.

Onde Karol chegava

Tinha logo conquista

E neste momento pensava

Num grande amor à vista

Quando surgiu Otávio

Que era grande ativista.

Formado em Direito

E defensor dos oprimidos

Veio logo o assunto

Dos dois comprometidos

Karol e Otávio Peçanha

Esposa e marido.

O casamento foi festa

Na capital paraibana

Lua de mel no Ceará

Praquela linda dama

Uma faixa escrita dizia:

- A gente tudo te ama.

Karol engravidou

E o nome do pai ela deu

Por que esta homenagem?

Porque o pai faleceu

E o filho se chamou

Luiz da Silva Pompeu.

Karol foi palestrante

E sua história foi dita

Ganhou muito dinheiro

Mas teve uma desdita

Seu marido morreu

Numa cena maldita.

Viajando para o sertão

No seu opala ligeiro

Caiu numa ribanceira

E teve o fim derradeiro

Aquele que a Karol

Foi seu amor primeiro.

Nem isso abalou Karol

Continuou a lecionar

Com o filho Pompeu

Veio também se medicar

Saiu de sua cidade

E foi bem longe morar.

Não resistiu à saudade

E noutro canto foi viver

Construiu outra família

Que Malaquias foi conhecer

O seu irmão mais velho

Que ficou até morrer.

Esta é a história da moça

Que em tudo tinha prazer

Viveu com uma doença

E não fez esmorecer

Lutou por toda vida

Este era o seu sofrer.

FIM

João Pessoa-PB, 27 de fevereiro de 2019.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 18/10/2024
Código do texto: T8176829
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