O FILHO DO SERTANEJO
Vou contar uma história
E peço inspiração
Que meu deus me abençoe
Para escrever com atenção
E falar um pouco de um filho
De um senhor lá do sertão
Esse sertanejo que eu falo
Morava no Ceará
Viveu algumas décadas
Trabalhando sem parar
Dava o que podia aos filhos
E via o tempo passar
Depois dos anos setenta
Resolveu ir atrás da sorte
Pois no sertão do Ceará
Não era, mas o seu forte
E foi morar no Pará
Lá na região do Norte
Chegando em Capitão poço
Continuava a trabalhar
Pois a família crescia
Ele não podia parar
E o pouco que ganhava
Só dava para se alimentar
Nos anos setenta e oito
Nasceu outro filhinho
Deram o nome de Luiz
E tratavam de Luizinho
E o menino crescia
Vivendo no bom caminho
Luizinho com seis anos
Começou a estudar
Um menino inteligente
Em tudo ia ajudar
Era motivo para seus pais
De tudo se orgulhar
Ao completar seus dez anos
Seu Sonho foi cancelado
O sonho da medicina
Ficou só lá no passado
Ele queria ficar com o padrinho
E seu pai ficou zangado
Seu pai disse estou velho
Não dá mais para esperar
E vocês estão crescendo
Não tem onde trabalhar
E nós vamos atrás de terra
Para as coisas melhorar
Eu triste, mas sem argumento
Pois o velho tinha razão
A nossa família era grande
E ele sem condição
De sustentar a família
Vivendo no bom padrão
O tempo foi se passando
E a gente viajou
Foi morar em Nova-Olinda
Lugar de agricultor
Foi ali que aprendi
A ser um trabalhador
Todo o povo era humilde
Mas terra tinha à vontade
E para gente trabalhar
Era só ter a coragem
Todos juntos trabalhando
Formávamos uma irmandade
Com treze anos de idade
Os estudos nem pensar
Pois já tinha quarta série
Conclui no Induá
Em Nova-Olinda não tinha
Professor para me ensinar
A solução mesmo era
Investir na agricultura
O tempo ia passando
Eu vivendo numa amargura
De não poder estudar
Mais fazia outra aventura
Eu com meus quatorze anos
Uma menina já olhava
E ela também aos poucos
Por mim se apaixonava
Eu já pensava em casar
Com a menina que eu amava
O meu papai já era velho
Mas o trabalho continuava
Eu tomei frente de tudo
Enfrentei aquela jornada
E cada passo que eu dava
Eu pesava na amada
O trabalho era bom
E eu tinha outros irmãos
A gente trabalhávamos juntos
Vivendo na união
E quando chegamos em casa
Era uma satisfação
O tempo ia passando
A gente a trabalhar
E no almoço a mistura
Tinha que ir no rio pescar
E no final da tardinha
Todos iam conversar
A gente se divertia
Com muitas brincadeiras
Brincávamos de pira cola
E também com as bandeiras
O futebol não fica fora
Por ser a melhor das carreiras
A gente dançava muito
Só vivíamos na folia
Não tinha minuto nem hora
Não tinha noite nem dia
Na hora que a eletrola toca
A gente se divertia
Cinco anos se passaram
Eu ia vivendo assim
Amando aquela mulher
E ela amando a mim
Mas nós não podíamos ficar
O tempo não era assim
Por onde eu passei
Vivi e fiz boas amizades
E na igreja cristã
Trabalhávamos em unidade
Vivendo em oração
Naquela comunidade
Fazer parte da igreja
Para mim foi de bom gosto
Porque além de aprender
Eu crescia um bom moço
E ajudei a tirar
Gente do fundo do poço
Os dias iam se passando
E eu naquela alegria
Eu gostava da igreja
E o povo todo queriam
Pois viviam todos os povos
Juntos naquela harmonia
Esse tempo se passou
E eu um pouco esfriando
Invés de estar em oração
Eu ia me desviando
O prazer das coisas do mundo
Foram me distanciando
Mas mesmo assim fiquei firme
Em tudo que aprendi
Passei por provações
E eu não me defendi
Mas eu posso afirmar
Que com a distância eu sofri
Aí eu pedi a força
Do meu senhor jesus cristo
E tornei a me interessar
Na comunidade são Francisco
E eu vivo muito alegre
E agradeço por isso
Pois continuei a luta
Na evangelização
Meus irmãos me deram força
Para continuar na missão
E ninguém pode negar
De ir para libertação
Eu fazia parte da liturgia
Minha amada era a cantora
Nós estávamos sempre juntos
E ninguém ficava à toa
Ela me chamava de ciumento
E eu ficava de boa
A gente dialogava bastante
E tinha opinião diferente
Eu parava e pensava
Será que isso vai para frente
Ela tem outro pensamento
Mas é uma moça decente
Aí eu continuava
O meu amor só crescia
Se eu falasse qualquer coisa
Notava que ela sofria
E o tempo não passava
E eu naquela agonia
Dos quinze para os dezoito
O tempo não se passava
E eu continuei a zelar
Toda a minha amizade
Mas não podia esquecer
O meu amor de verdade
Graças a Deus chegou
Os meus dezoito anos de idade
E eu pensando em casar
Naquela comunidade
Mas eu não podia pensar
Que aquilo fosse verdade
No ano noventa e seis
O ano todo eu sofria
Porque eu queria casar
E ela também queria
Pois não pude concluir
Por falta de moradia
Esse ano nós passamo-nos
Todo dia a conversar
Porque eu morava perto
Todo dia estava lá
A gente fazia os planos
Para quando se casar
Continuei a trabalhar
E viver aquela cena
Eu só pensava na casa
Só tinha aquele tema
Eu comecei a agir
Mas vivi aquele dilema
Depois da casa construída
Eu fiquei mais animado
Porque eu estava sempre
Andando apaixonado
E pensava que agora
Já estava preparado
No ano noventa e oito
Eu firme como soberano
Fui falar com o meu sogro
E contei todo o meu plano
De casar com sua filha
No meio do outro ano
O meu sogro disse logo
Espere um pouco rapaz
Para casar com uma moça
Tem que pedir primeiro aos pais
Eu não posso autorizar sozinho
Isso é um pouco demais
Eu conversando com ele
Entrei logo nesse jogo
Pois precisava falar
Com a sogra e com o sogro
E fiquei logo pensando
Nesse vexame de novo
Eu estava sempre lá
Esperando a hora certa
Para falar com os dois
Eu tinha que ser esperto
E fiquei em atenção
Sempre olhando por perto
O meu sogro foi trabalhar
Levando toda a família
E eu conversando com ele
Entrei logo nessa fila
Pensei logo no que fazer
Para falar com estilo
No dia dezoito de novembro
Eu ali a trabalhar
Eu me lembro como hoje
A lua a clarear
Eu esperava o momento
Para poder conversar
Eu estava por ali
E os dois estavam juntos
Eu comecei a falar
Entrei logo nesse assunto
E ainda nessa noite
Noivos no mesmo conjunto
Aí eu fui conversar
Com o meu amor ideal
Pensando ter alegria
Quase que eu passava mal
Pois ela veio me lembrar
Que tem festa para o casal
Por ali não era fácil
O dinheiro meu irmão
E eu comecei a pensar
Em fazer esse festão
E eu tinha que fazer
Para ela satisfação
Aí o meu sogro tomou
Conta de toda a festança
Aí eu fiquei livre e solto
Pronto para cair na dança
Fui falar com minha amada
Ela um pouco mais mansa
A vida de noivo é difícil
Eu preciso lhe dizer
E alguém que viveu isso
Também sabe o que é sofrer
E a gente hoje em dia
É muito difícil ver
O tempo não se passava
O mundo parecia parado
Eu ia falar com a noiva
Já um pouco agoniado
E ela me conformava
Está quase arrumado
No dia treze de julho
Do ano noventa e nove
Eu levei para o altar
A minha pequena Love
E saímos de lá casados
Mas com espírito de jovem
Ao saímos da igreja
Tinha duas cadeiras a esperar
E nós ficamos ali
E não podia se exaltar
O povo tirando foto
E nós tinha de esperar
Ao terminar essa fase
Saímos para a mesada
Ficamos lá de castigo
Um pouco fatigados
Mas tivemos de sentar
Até a última chamada
Depois da noite concluída
Foi com muita alegria
Que a gente foi para casa
Viver com sabedoria
E cuidar de uma família
E viver em harmonia
.
Logo no primeiro bimestre
A mulher engravidou
Para mim foi muita alegria
Mas misturado de dor
Porque eu não me sentia
Um bom pai e protetor
A vida é mesmo assim
É de alegria e de dor
No dia doze de outubro
Eu passei por um terror
Perdi meu dedo na luta
Trabalhando de agricultor
Minha amada estava grávida
Foi muita grande a aflição
Eu perdia muito sangue
Com um pano enrolava a mão
Eu sofria muita dor
Mas pensava no filhão
Eu passei no mesmo mês
Por outra aprovação
O meu pai que eu tanto amava
Partiu dessa missão
Foi morar na eternidade
Que Deus tenha ele nas mãos
Eu passei bem uns três meses
De nada podia fazer
E precisava trabalhar
Para arrumar o que comer
E comprar também as coisas
Para meu filho recebe
Nesse tempo meu irmão
Trabalhava de professor
Mas tinha um trabalho
Na área de agricultor
E mandou eu tomar conta
De algum trabalhador
A vida não foi fácil
Mas cinco meses se passou
O filho que nós esperávamos
Um pouco se antecipou
Ao invés de nove meses
De sete ele chegou
Com a vinda de meu filho
Nós todos se alegramos
Cada dia que se passava
Nosso amor ia aumentando
E o filhinho crescendo
E a mamãe amamentando
Depois de um aninho
Meu filho adoeceu
Sofreu uma pneumonia
Que ele quase faleceu
E ficou com umas sequelas
Mas tinha o apoio meu
O quadro do meu filho
Com o tempo complicou
Com a falta de dinheiro
E a distância do interior
Era muita dificuldade
Para chegar em um doutor
O meu filho mesmo assim
Era rico em alegria
Qualquer coisa que eu falasse
Para ele, ele sorria
E para mim ele falava
Tudo o que ele queria
No ano dois mil e dois
Foi ano de muita paz
Pois nasceu nosso outro filho
Para alegria dos pais
E brincar com o irmão
Que precisava de mais
Esse menino crescia
Bonito e muito saudável
E ajudava o irmão
Em tudo o que precisava
E a casa do Luiz
Cada vez mais se alegrava
.
Eu com meus filhos crescendo
Vivia bem animado
Passava parte do tempo
Sem voltar para o passado
Mas agora vou buscar
O que ficou atrasado
No distrito louro do Norte
Inaugurou uma escola
E eu não quis perder tempo
E me matriculei na hora
Recomeçar os estudos
Para mim já é uma vitória
.
Eu comecei os estudos
Cada dia mais animado
Tive certa dificuldade
Mas não me sentia culpado
Porque fazia muito tempo
Que eu estava ali parado
Com o tempo e dedicação
Voltou tudo ao normal
E eu com muitos elogios
Nas aulas fiquei legal
Mas ficou alguns colegas
Que me olhava um pouco mal
Voltando para meus filhos
Que é o mais importante
Eu ajudava a mãe deles
Ela não parava um instante
Nós ficávamos observando
E eles crescendo elegante
Eu queria ir para cidade
Mas nós ficávamos preocupados
Para morar na capital
Tem de viver empregado
Pro mercado hoje em dia
Tem que ser qualificado
Esses meus filhos queridos
Era a razão de viver
Quando eu pensava na vida
Eu via eles crescer
Quando eu pensava em ir embora
A mulher tentava me convencer
Meu Santo, preste atenção
Deixe de ter tanta fé
Nosso filho é especial
Ninguém sabe lá como é
E se o neném não gostar
É isso que você quer
Eu falava ao meu irmão
Vou morar lá na cidade
Ele disse meu compadre
Vá e tenha felicidade
Que a partir do outro ano
Eu estarei lá de verdade
Quando eu falava a meu sogro
Ele me falava assim
Meu filho não venha agora
Que o neném se dá ruim
E eu ficaria pensando
O que seria de mim
Deixei o tempo passar
Para ver como ficava
Alguns anos se passaram
E eu não me acostumava
De vim morar em Natal
De vez enquanto eu falava
No ano dois mil e oito
Eu fui parar em Belém
Para melhorar o quadro
Do meu filhinho também
Mas depois do desengano
Eu voltei com mais de cem
Quando eu cheguei em casa
Estava tudo um pouco ausente
Meu irmão tinha ido embora
Não morava mais na frente
Morar perto é uma coisa
Viver longe é diferente
Quando se passou dois anos
Meu filho adoeceu
Uma dilatação de uma veia
Foi o que aconteceu
Com meu filho doente
Cresce o sofrimento meu
Com nosso filho doente
Acabou-se a alegria
Nós lutamos com carinho
Mas todos nós sofríamos
De ver o neném com saúde
Era tudo o que a gente queria
No dia dois de novembro
Do ano dois mil e dez
Eu vi um grande sinal
Bem pertinho dos meus pés
Ao acender umas velas
Na tradição dos fiéis
Meu filho muito doente
Eu naquela aflição
Não pude ir ao cemitério
Para a nossa tradição
Acende velas em casa
E fiz minha intenção
Quando eu acendi as velas
Entrei logo em oração
Eu dizia meu senhor
Que de nós, tenha compaixão
E cuide de minha família
Proteja com as suas mãos
Eu estava com a cabeça baixa
Ainda em oração
Quando eu fui inclinando
Eu senti satisfação
Porque a cera das velas
Transformou em uma mão
Depois do acontecido
Meu filho ficou curado
Eu fiquei muito alegre
Mais um pouco preocupado
Porquê da mão eu não sabia
O seu significado
Depois o tempo passando
Eu fui me acostumando
A família toda em paz
E a gente sempre rezando
Não sabia o que estava
Já quase se aproximando
A doença quando volta
Às vezes ninguém controla
Nós não queríamos aceitar
Mas pra Deus já era hora
E para os braços de Deus
Ele subiu para a glória
O ano dois mil e onze
Foi difícil para nós sim
Eu falo o mês de abril
Mas não é simples assim
Porque no dia dezesseis
Morreu parte de mim
Eu tentei me controlar
Trabalhando ali por perto
Tudo o que eu fazia
Nada vinha dando certo
Aí vim para Natal
Para ver se eu acerto
Eu ainda tenho um filho
O sonho dele é estudar
Eu vou ajudar nesse sonho
Para ver ele se formar
E eu não posso ficar
Olhando o tempo passar
Logo quando cheguei
A saudade era muito forte
Eu pensava em ficar
Machuquei por pura sorte
Pois aqui era muito bom
Mas minha mãe estava no Norte
O tempo foi passando
Eu já me acostumei
A saudade ainda é grande
Mas eu já me controlei
Eu quero ir para o Norte
Mas somente a passeio
O meu Deus é muito bom
Ele é misericordioso
Às vezes falta alegria
Mas ele oferece em dobro
E para nos presentear
Eu vou ser papai de novo
Deus me deu como presente
Uma filhinha querida
Que para toda a família
É a razão de nossa vida
E veio para minimizar
A dor de nossas feridas
Quando vim para Natal
Deus me abençoou além
Pois um dos meus irmãos já veio
E uma irmã também
Trouxeram todos os filhos
Graças a Deus amém
Logo quando eu cheguei
Passei seis meses sem emprego
Era o que eu conversava
Antes do que nós tínhamos medo
Mas graças a Deus irmão
Isso eu era sujeito
O ano dois mil e quatorze
Foi um ano especial
Por que construí minha casa
Na cidade de Natal
E ganhei uma filhinha
Para levantar meu astral
A vida é mesmo assim
Cheia de altos e baixos
Hoje eu estou feliz
Amanhã não sei o que faço
E o tempo vai passando
E agente nesse embaraço
Eu sei que a vida é boa
Mas é cheia de surpresa
No dia trinta de setembro
Minha mãe foi indefesa
E partiu para o outro mundo
Me deixou muita tristeza
Em dois mil e dezesseis
Eu pedi força ao divino
Porque já tinha perdido
Meu pai e meu filhinho
E também chegou a hora
De perder minha heroína
Mas a vida vai para frente
Deus dá força para quem fica
E não podemos parar
Porque senão se complica
E o espírito lhe dá força
E lhe mostra algumas dicas
Estou alegre e satisfeito
Com meu filho genial
E vivo aqui trabalhando
Na cidade de Natal
Ele estuda no IFRN
No instituto federal
Pois as coisas do destino
Ninguém pode entender
Como é linda a natureza
Para tudo acontecer
É preciso acreditar
E não pode esmorecer
Falando sobre o destino
Eu vou falar de uma menina
Que é filha do meu cunhado
E virou minha filhinha
Nós amamos como os outros
E lhe damos muito carinho
Nós criamos essa criança
Desde o dia do nascimento
Essa pequena é demais
E eu curto todo momento
Eu não sei lá no futuro
Como vai ser o sofrimento
Meu cunhado vive falando
Que vai com a filha morar
E eu sei que sou o pai
Mas não quero complicar
Quando ele tiver preparado
Eu pretendo ajudar
Agora nesse momento
Eu preciso comentar
Falar sobre os estudos
Que eu tive que parar
Concluiu o ensino médio
Mas pretendo continuar
Foi difícil os estudos
Mas eu tive de lutar
Concluir os estudos
Para então me preparar
E entrar nessa empresa
E começar a trabalhar
Eu trabalho na casa São Lucas
E também para Eudimar
Eu vivo nessa cidade
O meu mundo é trabalhar
Já conquistei muito amigo
Nessa terra potiguar
Amigos esta história
É de fatos verdadeiro
Aconteceu com um cidadão
Homem honesto e brasileiro
Que leva no coração
O seu filhinho primeiro