O COMPADRE ZÉ MALASARTE
Vou contar a trajetória
De um sujeito popular
Compadre Zé Malasarte
Vivia a se aventurar
Com os jogos no caminho
Não parava de apostar.
Baralho era sua sina
Também dama e dominó
No xadrez era ligeiro
E na sinuca, dava nó
Mas o jogo do bicho
Era o que o deixava só.
Casado com Livramento
Uma mulher dedicada
Que amava o companheiro
Mas odiava a jogada
Toda vez que ele sumia
Ela ficava chateada.
Zé fugia dos conselhos
Procurava sempre um canto
Onde tivesse um jogo
Pra apostar seu encanto
No salão ou na rua
Corria como um manto.
Livramento, preocupada
Saía pra procurar
Sabia que o marido
Não tardava a se enfiar
Num boteco ou no salão
Pra seu vício sustentar.
Ele chegava escondido
No baralho logo entrava
Esquecia da mulher
Que por ele tanto amava
Se entregava às apostas
E o dinheiro acabava.
Certa vez, lá na calada
Zé Malasarte sumiu
Deixando a casa vazia
E a mulher nem percebeu
Quando ela deu por falta
Foi ver onde ele se meteu.
Livramento saiu brava
Com raiva no coração
Procurou pelo bairro
Perguntou no quarteirão
E soube que o marido
Se encontrava no salão.
Chegou lá, sem avisar
Entrou no meio do jogo
Zé Malasarte, nervoso
Já não via outro fogo
Ela parou na mesa
E lhe deu um desafogo:
- Zé, se tu não larga o vício
Eu juro, vai se dar mal!
Não vou mais ficar contigo
Dividindo o cabedal
Ou eu ou esses jogos
Agora é o final.
Zé, sem muita saída
Olhou para o parceiro
Viu que tudo aquilo
Deixou de ser certeiro
A mulher era firme
E ele, simples aventureiro.
Ele baixou sua cabeça
Com bastante vergonha
Pois sabia que Livramento
No amor era medonha
Mas o vício dominava
No filho do Dona Tonha.
Mas o amor da sua esposa
Era forte e decidido
Ela não queria mais
Um homem tão iludido
Ou mudava sua vida
Ou seria despedido.
Zé, já meio cabisbaixo
Decide bem refletir
Sabia que sem Livramento
Seu mundo ia sumir
Largar o jogo ou perder
Preferindo então partir.
Voltou pra casa pensando
Na proposta que escutou
De que valiam os jogos
Se o amor se apagou?
Zé Malasarte sabia
Que seu rumo então mudou.
O baralho ele guardou
Dama, dominó e xadrez
Sinuca e jogo do bicho
Tudo ele desfez
Pois sabia que sem ela
Sua vida não valia vez.
Livramento, então contente
Recebeu seu bom marido
Querendo sempre lembrar
Do passado já vivido.
- Se voltar a jogar, Zé
Vai ficar bem esquecido
Ele prometeu na hora
Que nunca mais jogaria
E se tentasse a sorte
Seria só por folia
O amor ele escolheu
E de jogo desistiria.
Os amigos do salão
Não acreditaram, não
Que Zé Malasarte, o viciado
Largaria a tentação
Mas foi firme e decidido
Deu fim à perdição.
Os parceiros zombaram
Sentados naquela praça
Mas Zé, agora mudado
Já não queria a desgraça
Preferia o aconchego
Do amor que o abraça.
Com o tempo ele aprendeu
Que o amor é a sorte maior
Livramento lhe mostrou
Que assim se vive melhor
E com o vício do jogo
Seu destino era pior.
Deixou de lado as cartas
Dominó, jogo de dama
Sinuca ficou distante
Em casa nada reclama
E Livramento sorria
Com Malasarte na cama.
A fama de Zé Malasarte
Correndo por este mundo
Descreve um jogador
Mas de um amor profundo
Quem quiser mais estudar
Não o chame de vagabundo.
O salão ficou pra trás
E Zé não mais desacata
Agora só se dedica
Ao que a vida lhe relata
O valor de uma mulher
Que de amor sempre nos mata.
Livramento na batalha
Nunca mais teve que brigar
Pois o seu Zé Malasarte
Pensa só em trabalhar
E juntos, bem felizes
Agora vão prosperar.
O vício foi vencido
Pela força do amor
Zé Malasarte entendeu
Que jogos não têm valor
E ao lado de Livramento
Considera um vencedor.
Zé Malasarte ensinou
Que vida é mais prazerosa
Quando a gente escolhe
Fica mais deliciosa
O amor é a resposta
Da vida bem saborosa.
E Livramento, coitada
Teve muita paciência
Pra suportar as fugas
E a má influência
Mas no fim foi vitoriosa
Com sua inteligência.
Hoje eles são exemplo
De amor e de união
Deixaram pra trás o jogo
O vício e a perdição
E vivem agora em paz
Com a alma em elevação.
Se um dia encontrar Zé
Não vai mais reconhecer
Pois o homem transformado
Já não quer mais se perder
Agora é só trabalho
E uma vida pra valer.
A moral dessa história
É fácil de perceber
Quem se deixa levar
Pelo jogo, vai sofrer
Mas se optar pelo amor
Vai mais longe no viver.
E assim termina a história
Do compadre jogador
Que deixou daquela vida
Pelo abraço e calor
Venceu o vício cruel
Pra viver feliz no amor!
FIM
João Pessoa-PB, 02 de agosto de 2018.