PUXE A CADEIRA
Meu amigo preste atenção
Não reclame por favor
Faça logo a sua parte
Nunca dê uma de ator
Se você não reclamar
O que é bom vai ficar
Vá comigo aonde eu for.
Este Cordel agora vai
Fazer logo sua parte
Aproveitar este momento
Desta tão singela arte
Puxar a cadeira também
Falar somente do bem
Seja na Terra, seja em Marte.
Puxe a cadeira e sente
Neste tamborete azul
Conte sua história agora
Meu querido Zé Tatu
Me fale da sua vida
Com a jovem Aparecida
Lá do Engenho Babaçu.
Eu fui dizendo isso
E o Zé triste ficou
Puxando a sua cadeira
Junto de mim se encostou
Contou tanta tristeza
Porém, com muita destreza
O meu amigo me falou.
- Com a sua permissão
Meu amado cordelista
Vou contar minha história
Sem te perder de vista
Você recordou tão bem
Dentro deste trem
Este drama realista.
Aparecida foi cruel
Com este velho aqui
Não me respeitou em vida
Nem um gozo fez sentir
Eu fiquei ali tão triste
O mundo não mais existe
Com vontade de fugir.
Eu até que tentei
Mas não tive a vontade
De fugir daquela ingrata
Que fez muita crueldade
Hoje eu vivo sozinho
Aqui neste cantinho
Com minha grande saudade.
Puxe a cadeira, senhor
Espere que não contei
A história é muito longa
Desculpa, eu demorei
Sei do que vou contar
Por favor, queira esperar
Já que tanto esperei.
Se sente aqui comigo
E não puxe a cadeira
Fique colado mais eu
E deixe dessa brincadeira
Consiga o entendimento
No pão ou no fermento
A vida é passageira.
Puxe agora a cadeira
E queira só me escutar
Abra o livro na 101
E saiba assim soletrar
A letra bem estampada
Está dentro bem marcada
E você vai continuar.
Deus tomara, por favor
Queira então compreender
Na cadeira que estou
Só posso te agradecer
Aprendo no dia a dia
Com José ou com Maria
Histórias fortes vou conhecer.
Puxe a cadeira Mané
Sente aqui comigo
Ouça todo este drama
Daquele que é amigo
Cavando novas histórias
Os vivos de todas memórias
É vida que levo contigo.
A cadeira está vazia
Vai ser então preenchida
Nela está sentado
Uma mão tão conhecida
Escrevendo uma memória
Que fala da palmatória
E faz parte da nossa vida.
A história que se segue
É tempo de boa hora
A cadeira já tem gente
Falando em ir embora
O mestre quer se animar
E ninguém vai pecar
Se sente, fale minha senhora.
Puxe a cadeira seu doutor
Que agora essa é boa
Falo de uma cidade
Por nome de João Pessoa
O seu cartão postal
Bem na zona ocidental
É esta bela Lagoa.
Vou sentar nesta cadeira
E começar logo a falar
Sobre um assunto chato
Que você não vai gostar
Eu vou falar de ciúme
Que tem a ver com perfume
E você pode se chatear.
Puxe a cadeira, puxe
Deixe o povo se iludir
Coma sua pipoca, coma
Assista para se divertir
Ouça a maior idade
Me fale como verdade
E deixe o mundo cair.
Eu puxei a cadeira
E tudo fui detalhar
O encontro de ontem
E hoje no que vai dar
Sentei confortavelmente
E fiquei alegremente
Até aquele gato miar.
O gato que vos falo
É o gato do vizinho
Chamado de Bonifácio
Tem um caso com Anjinho
Dois gatos no telhado
Trocando somente carinho.
Este fato um dia se deu
Na cada de numero oitenta
Situada depois da primeira
Onde tem muita pimenta
Plantada com muito amor
Pelas mãos de Seu Dodô
Um velho que ninguém aguenta.
Puxe a cadeira e escute
O que ele um dia falou
Sei que o tempo é curto
Mas uma coisa ficou
Foi a saudade repentina
Que maltratou minha sina
E me fez não viver o amor.
Convido essa plateia
Pra vir fazer parceria
Misturar nossas ideias
Numa só alegria
Colher de cada flor
O exercício do amor
Feito lobos em alcateias.
Você que está sentado
Aqui nesta mangueira
Puxe seu tamborete
E não faça asneira
Conte-me o ocorrido
E se tudo tem sentido
Nesta sua brincadeira?
Puxe a cadeira compadre
E vamos juntos prosear
Me conte tudo que viu
E se tudo isto vai passar
Eu sei que a vida é boa
E que moras em João Pessoa
E se é lá que quero ficar.
Você tem cada uma
Que arrepia o pensamento
Me fala de coisas alheias
E não escolhe o momento
Gosta de ser gentil
Mas é contra o Brasil
Me deixa em sofrimento.
Puxe a cadeira mulher
E seja da frente a primeira
Ouça com delicadeza
E aproveita a dianteira
Ouça bem com atenção
Esqueça as coisas do coração
Seu viver é visão passageira.
Agora queremos ver
Quem vai querer se sentar
Se é aquele criticado
Ou é ela que vem falar
Só sei que ninguém vem
Se vier só vem pro bem
O melhor é deixar de criticar.
Puxe a cadeira com jeito
E faça o que quiser
Cante e dance e pule
Da forma que vier
Seja homem, seja mulher
Você dançando assim
Vai lhe trazer a fé.
Eu quero ficar olhando
Vendo você sentar
Se o assento é bom
Até se pode acostumar
Puxe a cadeira, agora
Dê um riso, não vá embora
E não queira se lamentar.
Se encoste bem ligeiro
E alivie teu coração
Guarde cada frase dita
E não se perca na emoção
Como é bom poder falar
O que a gente sabe explicar
Sem entrar em contradição.
Bom cordel tentei fazer
Encontrei um tema bom
Nessa onda que se segue
Tenho que chupar bombom
Onde houver a tristeza
Jogue logo a beleza
Rogue ouvindo este som.
Se o som não quer pegar
Não leve na brincadeira
Pegue o seu tamborente
Quem sabe, puxe a cadeira
Se sente bem confortável
Nesse cordel memorável
Que vamos ler a vida inteira.
FIM
João Pessoa-PB, 17 de abril de 2020.