A história do gringo e do vendedor de bode
Esta é uma história louca
envolvendo uma mulher
e dois homens. Coisa pouca,
mas vou meter a colher.
Um gringo teve uma briga
com José pra ter Maria.
Jamais ninguém saberia,
porém deixem que eu lhes diga.
Um triângulo amoroso
a gente vê de montão
quando acontece de não
ser deveras perigoso
como esse que ouvi contar
parecendo capa e espada
lá dos tempos da Cruzada,
quando a luta era vulgar.
Maria, moça donzela
e seguidora das leis,
escandalizou de vez
a pequena cidadela
onde morava com os pais
e uma tia solteirona.
Os pais, coitados, na lona;
a tia, pobre demais.
Foi quando a moça donzela
interessou-se demais
por um gringo e outro rapaz
que moravam perto dela.
O gringo, um homenzarrão,
era bastante educado
mas tinha um cuspir-de-lado
que incomodava um montão.
Era magro, alto, esguio,
barba fechada no rosto.
Não sei que Maria viu,
mas caiu-lhe no seu gosto.
Seu nome era Smith West,
esquisito até demais;
era defensor da paz
mas também cabra da peste.
O outro, um rapaz franzino,
tinha por nome José;
vivia atrás de mulher
mas era muito menino.
Vendia bode na feira
e na folga era palhaço,
saltimbanco de primeira
e muito ágil no laço.
Engraçou-se por Maria
mas ela, muito fogosa
e ladina, não deu prosa,
não fez o que ele queria.
Ela foi pro tal Smith
mas esse viu que a donzela
não conhecia limite
e pra todos dava trela.
Entraram todos no jogo
do amor. Deu pra notar
que Maria, em seu olhar,
aos dois não quis negar fogo.
E ficou um vai-não-vai,
vai o gringo, vai José,
que incomodou o pai,
indo ver como é que é.
Chamou Maria prum lado
e lhe disse: “Minha filha,
o louro é cabra danado,
mas tem fogo na virilha
e não vai levar barato
o desacato dos dois.
Veja logo, pra depois
não jogar tudo no mato.”
José, palhaço e laceiro,
foi com o gringo se entender
mas logo viu o porquê
de Maria agir primeiro.
O gringo, bem educado,
apontou-lhe uma peixeira,
chamou José de safado,
perdeu logo a estribeira.
O palhaço viu o aço
alcançar sua virilha
e ouviu dizer: “eu te faço
um estrago aqui, seu filha...”
Não esperou terminar.
Correu mais de meia légua
e não deu pras pernas trégua
até o corpo cansar.
Voltando, foi logo ter
com o gringo inda outra vez.
Um cano longo o fez ver
o fim que teriam os três,
e desistiu de Maria
pr’outra coisa não perder.
Deu pra vida mais valia
e foi seus bodes vender.
Qual Juliana de Gil,
lá no parque, no domingo,
Maria fugiu com o gringo
e José nunca mais viu.
Se foi capado, não sei,
nem levou do 38
alguma bala (ou biscoito,
dizem os fora-da-lei).
Mas pra que saber daquilo
se Maria não quer mais?
Deixemos José em paz,
para que morra tranqüilo.
Esta é uma história louca
envolvendo uma mulher
e dois homens. Coisa pouca,
mas vou meter a colher.
Um gringo teve uma briga
com José pra ter Maria.
Jamais ninguém saberia,
porém deixem que eu lhes diga.
Um triângulo amoroso
a gente vê de montão
quando acontece de não
ser deveras perigoso
como esse que ouvi contar
parecendo capa e espada
lá dos tempos da Cruzada,
quando a luta era vulgar.
Maria, moça donzela
e seguidora das leis,
escandalizou de vez
a pequena cidadela
onde morava com os pais
e uma tia solteirona.
Os pais, coitados, na lona;
a tia, pobre demais.
Foi quando a moça donzela
interessou-se demais
por um gringo e outro rapaz
que moravam perto dela.
O gringo, um homenzarrão,
era bastante educado
mas tinha um cuspir-de-lado
que incomodava um montão.
Era magro, alto, esguio,
barba fechada no rosto.
Não sei que Maria viu,
mas caiu-lhe no seu gosto.
Seu nome era Smith West,
esquisito até demais;
era defensor da paz
mas também cabra da peste.
O outro, um rapaz franzino,
tinha por nome José;
vivia atrás de mulher
mas era muito menino.
Vendia bode na feira
e na folga era palhaço,
saltimbanco de primeira
e muito ágil no laço.
Engraçou-se por Maria
mas ela, muito fogosa
e ladina, não deu prosa,
não fez o que ele queria.
Ela foi pro tal Smith
mas esse viu que a donzela
não conhecia limite
e pra todos dava trela.
Entraram todos no jogo
do amor. Deu pra notar
que Maria, em seu olhar,
aos dois não quis negar fogo.
E ficou um vai-não-vai,
vai o gringo, vai José,
que incomodou o pai,
indo ver como é que é.
Chamou Maria prum lado
e lhe disse: “Minha filha,
o louro é cabra danado,
mas tem fogo na virilha
e não vai levar barato
o desacato dos dois.
Veja logo, pra depois
não jogar tudo no mato.”
José, palhaço e laceiro,
foi com o gringo se entender
mas logo viu o porquê
de Maria agir primeiro.
O gringo, bem educado,
apontou-lhe uma peixeira,
chamou José de safado,
perdeu logo a estribeira.
O palhaço viu o aço
alcançar sua virilha
e ouviu dizer: “eu te faço
um estrago aqui, seu filha...”
Não esperou terminar.
Correu mais de meia légua
e não deu pras pernas trégua
até o corpo cansar.
Voltando, foi logo ter
com o gringo inda outra vez.
Um cano longo o fez ver
o fim que teriam os três,
e desistiu de Maria
pr’outra coisa não perder.
Deu pra vida mais valia
e foi seus bodes vender.
Qual Juliana de Gil,
lá no parque, no domingo,
Maria fugiu com o gringo
e José nunca mais viu.
Se foi capado, não sei,
nem levou do 38
alguma bala (ou biscoito,
dizem os fora-da-lei).
Mas pra que saber daquilo
se Maria não quer mais?
Deixemos José em paz,
para que morra tranqüilo.